Vale criará em Itabira espaço de convivência para trabalhadores

Lotes leiloados pela Prefeitura, na avenida Carlos Drummond de Andrade, um dos locais cogitados para receber o espaço de convivência

A Vale irá criar em Itabira espaços de convivência para atender os trabalhadores dos setores administrativo e operacional em home office (escritório em casa), novidade que veio para ficar, conforme a própria empresa.

Esta modalidade ganhou força com a pandemia da Covid-19, desde março, devido à necessidade do distanciamento social para evitar a proliferação do vírus.

Pelas informações, o objetivo é a construção de um prédio, ou locação, de preferência na área central da cidade, para reuniões e atividades presenciais dos funcionários que estão em casa em atividade remota. Nesses encontros, será possível resgatar a integração e a colaboração entre as equipes, dois fatores limitados pela pandemia.

Estrutura
Sabe-se que o projeto está em poder de uma construtora, cujo nome não foi revelado. A reportagem buscou informações em empresas do ramo tradicionais no município, mas nenhuma delas se dispôs a falar, por desconhecer o projeto ou para evitar especulações imobiliárias. A reportagem quis saber também sobre a estrutura do prédio e locais pré-selecionados.

Hubs
A proposta é implantar o formato flexible office, baseado num tripé de gestão com as modalidades on-site (posições fixas nas operações), off-site (trabalho remoto) e near-site (hubs colaborativos). O modelo flexível permite que empregados alternem entre o trabalho remoto e encontros presenciais nos hubs, ou até mesmo visitas restritas e planejadas nas operações. Somente funções operacionais seguirão on-site para garantir a continuidade operacional do negócio com total segurança.

Dos cerca de 4.100 funcionários da Vale em Itabira, estima-se que 500 a 600 estão exercendo suas funções de casa, em meio a escritórios improvisados com auxílio da mineradora, que depositou no mês de outubro, na conta de cada funcionário habilitado para as funções remotas, R$ 2.100 para compra de mesa, cadeira e materiais básicos para as funções. A mineradora também passou a depositar na conta-salário do trabalhador em home office R$ 27 por dia de serviços em casa como auxílio refeição. O aparelho de informática e energia são custeados pelo trabalhador.

Nova realidade
Em nota, a Vale garante que antes mesmo da pandemia, em 2019, já havia começado a adotar o trabalho remoto e a estudar sobre a adoção de formatos mais modernos e alternativos. Para Eduardo Bartolomeo, diretor-presidente da Vale, a mudança exige aprendizado contínuo. “Estamos construindo um novo modelo de trabalho e ele será resultado da contribuição de cada um de nós. Seguiremos avançando neste novo formato da Vale que queremos, no qual o bem-estar e a segurança das pessoas estão em primeiro lugar”, afirma.

Segundo Josilda Saad, gerente-executiva e líder do programa Jornada Vale, o cenário global desafiador nos últimos meses intensificou os esforços rumo à mudança de cultura da empresa, trazendo resultados positivos. “Quando fomos surpreendidos pela pandemia, vimos que já estávamos preparados para realizar parte das nossas atividades remotamente. Fizemos uma pesquisa interna e o resultado mostrou que mais de 75% dos respondentes se sentem produtivos em trabalhar em home office. Para nós, isso já foi um sinal de que estamos no caminho certo”, explica.

Vantagens x desvantagens

“Faz falta a socialização, calor humano”

Executar, despachar, debates, tomada de decisões por videochamadas. O dia a dia de quem teve que trocar o escritório ou área operacional por uma cadeira, uma mesa e um computador no cantinho da casa ou apartamento tem suas particularidades.

De acordo com um funcionário da Vale, que pediu para não ser identificado, o trabalho em casa tem suas vantagens e desvantagens. “É uma novidade para mim, que tenho 16 anos de Vale, ter que ir para casa e estar em frente ao computador às 7h da manhã, até o final da tarde, claro, com intervalos para refeições e questões fisiológicas. As vantagens são o conforto da casa, a comodidade, maior liberdade, maior aproximação com a família, mesmo com alguns imprevistos. Por outro lado, o trabalho não tem o mesmo resultado se comparado à presença física na área, pelo menos até agora, que estou em fase de adaptação. Eu sou mais uma pessoa cara a cara. Faz falta a socialização, maior atenção em relação às ações executadas, calor humano de poder contar com um colega para auxílio em alguma função, entre outras coisas. Mas vamos aguardar esta nova proposta da Vale com o formato flexible office, pois isto é apenas o começo de algo que veio para ficar”, diz.
“Eu gostaria de estar em um escritório agora, muito mais do que antes. Acho que você só sabe realmente o que perde quando acaba”, argumenta uma funcionária da Vale, também em home office e que preferiu não se identificar.

Normalização do home office abre caminho para o nomadismo digital

Entre as tendências de trabalho aceleradas pela pandemia, a mais marcante é a adoção ampla do home office. Antes questionado por algumas empresas como potencial fator de queda de produtividade, o regime ganhou espaço por garantir altos níveis de entrega enquanto possibilita mais flexibilidade aos funcionários.

Essa liberdade pode ir desde o uso de roupas informais durante as atividades até a realização do trabalho em diferentes endereços ao longo do ano.

É o caso de Matheus de Souza, autor do livro “Nômade digital: Um guia para você viver e trabalhar onde quiser” (ed. Autêntica Business, 158 págs.), finalista do prêmio Jabuti de 2020 na categoria economia criativa. Desde 2017 na estrada, Matheus presta serviços como redator, além de dar cursos de escrita online.

“Nômade é uma pessoa sem residência fixa, sempre em movimento. Não é novidade na humanidade.” A novidade vem da palavra digital, que aponta para o profissional que depende da internet para trabalhar. Fonte: Folha de São Paulo (13/12).

Matéria publicada na edição 724 do Folha Popular