O prefeito de Santa Maria de Itabira, Reinaldo das Dores Santos (PSD) – foto, recebeu a reportagem do Folha Popular para um balanço das ações e desafios trazidos pelas intensas chuvas de fevereiro de 2021 e janeiro de 2022.
Reeleito para o cargo em 2020, Reinaldo Santos iniciou a entrevista relatando o momento de tristeza ao ver as pessoas na tragédia de 2021, quando a cidade registrou um de seus piores momentos, com prejuízos diversos e mortes.
“Santa Maria é uma cidade querida não só pelos santa-marienses, mas por todos que a conhecem ou passam por aqui. Às vezes repito a fala de um tenente- coronel, que Santa Maria é a menina dos olhos. E realmente, na condição de morador e gestor do Município, eu vejo isso. Agora você estar aqui e ver as pessoas perderem patrimônio que levou uma vida para conquistar, perder amigos e filhos deixa mágoa, não vai sair da memória da gente”, disse.
Na entrevista, Reinaldo Santos fala das ações realizadas até agora, sobre mentiras ventiladas nas redes sociais, contratação de empresas, realidade do bairro Poção e loteamentos aprovados sem os devidos cuidados, sobre a relação com a Câmara e o jogo político que impossibilitou ações importantes do governo e também as propostas e projetos que irão reestruturar toda a cidade.
Folha Popular – Tragédia de 2021: prefeito Reinaldo Santos, após quase 1 ano, pode nos contar sobre o pós-enchente de fevereiro do ano passado? Isso porque alguns populares reclamam que existem demandas não atendidas.
Prefeito: Desde fevereiro do ano passado, estamos lutando para reconstruir estradas, pontes e outras demandas que surgiram devido às chuvas. Aquela chuva, além de causar enorme destruição, causou mortes. Isso é o mais lamentável. Você estar aqui, como prefeito, e ver as pessoas perderem tudo que conquistaram numa vida inteira é muito difícil, mas você perder um cidadão da sua cidade, ver que morreu criança, isso realmente é pior que qualquer coisa. Isso a gente não vai esquecer nunca.
Ajuda: recentemente, o governador esteve aqui e prometeu R$ 1 milhão para ajudar na recuperação da ponte do Centro, valor que ainda não caiu na conta
Depois daquela tragédia toda, tivemos aqui muita presença de deputado, presença de governador, de fotos e mais fotos. Mas o recurso prometido não chegava e a população nos cobrando, acreditando que a Prefeitura já estava com dinheiro pra fazer as obras. O que chegou na época foi uma pá-carregadeira e um caminhão-pipa de emenda do deputado Gustavo Valadares e o recurso que chegou até agora foi por intermédio do deputado Diego Andrade, para fazer muro gabião no Nova Santa Maria. Tirando isso aí, não enviaram nada. Recentemente, o governador esteve aqui e prometeu R$ 1 milhão para ajudar na recuperação da ponte do Centro, valor que ainda não caiu na conta da Prefeitura. Curioso é que tem pessoas irresponsáveis dizendo que chegou o dinheiro. Mas não, nós assinamos um convênio, mas o dinheiro que é bom, nada.
Naquele período anterior às chuvas, a gente estava preparando um grande pacote de obras em várias localidades. Aí tivemos que replanejar tudo. Tenho certeza que nunca na história de Santa Maria um prefeito teve tantos desafios”.
Verbas – Santa Maria então não recebeu verbas para recuperação dos estragos das chuvas?
“Na verdade as verbas começaram a chegar no final do ano passado como a que vai possibilitar a obra do gabião no bairro Cidade Nova, que já está licitada, cerca de R$ 948 mil. Assinei o contrato para início das obras no dia 18 deste mês.
Depositaram também neste mês o dinheiro para recuperação de algumas pontes na zona rural, cerca de R$ 900 mil. Essas obras já foram iniciadas”.
Mentiras: saiu que recebemos R$ 30 milhões, eu quero até que a pessoa me ajude a procurar esse dinheiro, porque ele vai ser muito útil para o município
Fake news – O Município recebeu verba de R$ 30 milhões?
“Isso é um comentário maldoso, comentário político. Como eu sempre digo, a Prefeitura está à disposição de todos e de todas para que venham, que participem, para ver, para olhar a contabilidade. Se não conhecer, pode trazer uma pessoa que conhece para verificar. Isso aqui não e meu, é do povo. Nós apenas administramos. Saiu esse negócio aí que recebemos R$ 30 milhões, eu quero até que a pessoa me ajude a procurar esse dinheiro, porque ele vai ser muito útil para o município, porque nós não estamos tendo. Talvez alguém que está falando sabe onde é a origem desse dinheiro, que vamos correr atrás. Essa questão de verba estadual e federal é muito séria e as pessoas fazendo isso”.
Atitude covarde: acredita que as falácias têm objetivos políticos?
“Tem meia dúzia de pessoas que insistem em dizer que têm coisas erradas na administração. Sugiro que vá ao Ministério Público. Lá é o lugar de fazer denúncia, porque aí sim, eles estão atuando como verdadeiros cidadãos, preocupados com o dinheiro público. Vou deixar bem claro que empresa que presta serviço para Prefeitura é porque ganhou uma licitação. O processo é aberto. Ganha quem oferece o melhor serviço com o preço mais justo. Pode vir empresa de tudo quanto é lugar. É até bom quando empresas da nossa região ganham porque empregam gente daqui. Mas qualquer empresa pode ganhar. Agora, se tiver coisa errada, tem que ter denúncia mesmo. Tem que ter fiscalização mesmo”.
Ponte: vamos ter que fazer uma nova avaliação. Mas vamos devolver o
acesso pela ponte da região central ao povo
Ponte: e a ponte do Centro, prefeito, qual realidade?
“Até essa última chuva, o que os engenheiros falavam é que dava pra recuperar. Iria ser feito um reforço estrutural e ficaria mais em conta a obra. O valor estimado para a obra era de R$ 1,6 milhão e a Prefeitura iria completar o restante. Agora vamos ter que fazer uma nova avaliação. Quem poderá dar uma resposta são só os técnicos e engenheiros. Mas vamos devolver o acesso pela ponte ao povo.
Ela segue interditada, mas nosso interesse é resolver ontem, contudo, esbarramos em questões burocráticas, não é como fazer uma obra como fazemos em nossa casa. Os processos são morosos”.
Aluguel: ainda existem pessoas desabrigadas ou desalojadas?
“Existe sim. São cerca de 65 famílias que dependem do aluguel social. Acredito que vai ficar por um tempo, até porque muitas casas foram condenadas e as pessoas não podem voltar, isso porque o mais importante de tudo é a vida. A Prefeitura paga quase R$ 30 mil por mês para manter esse aluguel social”.
Poção: já tentamos recursos em nível Federal e Estadual, mas a resposta é sempre a mesma: a área não é pública e a Prefeitura só pode fazer a rede pluvial da rua
Poção: como está a situação da comunidade?
“A situação do Poção é bem complexa. Tem outras comunidades [atingidas pelas chuvas], como no Cidade Nova, no Indaiá e outros lugares, que também têm famílias que não estão morando nas suas casas devido ao risco. Mas no Poção é mais complicado. Já tentamos recursos em nível Federal e Estadual, mas a resposta é sempre a mesma: a área não é pública e a Prefeitura não pode fazer obra lá [de contenção]. Então, fica uma situação muito ruim pra gente. Se tivesse recurso e pudesse fazer a primeira coisa que iríamos fazer é devolver as casas dessas famílias. Mas não podemos executar obra ali. O que podemos fazer é a rede pluvial da rua, que é pública, e é de obrigação do Município fazer. Já está em licitação”.
Política: acredito que o representante do povo tem que ter personalidade e não ficar como folha de bananeira
Oposição: por que ainda não foi feita a obra?
“Nós não fizemos porque em 2020 a Câmara engessou nosso orçamento para o ano de 2021, ou seja, não tínhamos no orçamento dotações para licitar a obra.
Hoje está diferente, graças a Deus, com a nova Câmara, na presidência do Vicente Humberto e do Jair Lino, temos um elo de diálogo muito maior, mais amplo e com um pensamento só: de trabalhar para essa população que merece, que está precisando tanto do nosso trabalho. Eu tenho bastante esperança que este ano nós vamos fazer bastante coisa devido ao orçamento estar mais amplo. A Câmara nos dá permissão de trabalho, é uma Câmara que não está preocupada com política, mas sim, preocupada com a população”.
Casa: o governo iniciou um projeto junto à Caixa Federal para fazer casas populares. Em que patamar estão as conversas?
O primeiro passo é o terreno. Estamos em negociação com Plininho e Odilon, que estão construindo um loteamento. Tem uma área lá que vai passar para o Município para gente fazer o Casa Verde Amarela. Aí tem todo um processo junto ao Governo Federal. Mas o mais importante é o terreno e Santa Maria é bem escasso. Mas já estamos agilizando tudo e vai dar certo.
Loteamentos: a população inteira, e eu me lembro muito bem disso, falou; a gente vai comprar um lote e vai receber terra cá embaixo
Lama: e aquele córrego, que chamam de “córrego do Robésio”? Nas últimas chuvas muita lama desceu ali.
“Antigamente, quando aprovaram alguns loteamentos, aprovaram de uma maneira irresponsável, sem parâmetros, sem fiscalização. A população inteira, e eu me lembro muito bem disso, falou; a gente vai comprar um lote e vai receber terra cá embaixo. Todo mundo já previa isso, menos quem aprovou os loteamentos. Agora que os problemas chegaram, a culpa é do prefeito. Por que isso aí não foi visto e não pararam quando esses comentários surgiram? Quando você invade o espaço da água sem devidas estruturações, o problema é certo. Teve gente que falou que ia fazer protesto em frente à Prefeitura. Gente, eu não tenho a chave da torneira. Choveu muito. São Gonçalo, que é uma cidade com muito recurso, diversas casas foram inundadas e as pessoas perderam muita coisa. Infelizmente, aqui é a mesma coisa. E aqui, não temos recursos.
O que já estamos providenciando naquele local é um estudo para ver se ampliamos a galeria que passa por baixo da rua principal. Não posso ficar falando, prometendo demais porque tudo depende de recurso. Mas vamos ver se aumentamos aquela galeria para aumentar a vazão da água. Mas já estamos avaliando qual a melhor solução.
Obras: em se tratando de obras, quais os projetos para 2022?
“Vamos começar a fazer o gabião do Cidade Nova. É uma obra muito grande. Nós vamos fazer também essa ponte, se Deus quiser neste ano, como também a ponte de pedestres próxima ao hospital, de acesso ao bairro Poção. Obras de várias pontes na zona rural. Temos também calçamentos em andamento no Morro Queimado, iluminação do Barro Preto com lâmpadas Led, trazendo até embaixo no Taquaral. Tem a rua do bar do campo, que liga outra rua, que vai ser uma área de lazer aos sábados para feirantes, com banheiros e local para apresentações artísticas.
Desafios: nunca um prefeito em Santa Maria teve tantos problemas em tão
pouco tempo pra administrar
Desafios: Nestes último cinco anos acredita que os desafios foram maiores?
“Sem dúvida. Veja bem, no nosso mandato nós pegamos greve de caminhoneiros, pandemia. Sofremos com três, quatro chuvas intensas, uma delas a maior da história da cidade, entre tantas outras coisas.
Nunca um prefeito em Santa Maria teve tantos problemas em tão pouco tempo pra administrar. Eu acho que hoje, pra te falar a verdade, na condição que estamos, estamos melhor que muitas cidades que têm receitas bem maiores que a de Santa Maria.
Copasa: Se você atrasa, paga multa. Se ela manda água suja, o problema é seu. Eu nunca vi uma coisa que só tem mão única
Água e esgoto: em relação a Copasa?
“Morei na Vila Marília Costa vinte e dois anos e sempre tivemos problemas com água da Copasa. Tanto é que lá eu tive que aumentar o reservatório de água porque sempre faltava. A Copasa chegou aqui há 40 anos e não faz investimento, apenas recebe a tarifa da água. Para se ter uma ideia, ela tem uma bomba de captação no Capoeirão. Toda vez que essa água sobe a bomba fica submersa. Isso é, enquanto estiver alto, não vai ter abastecimento na cidade e a empresa não faz nada, mesmo com as cobranças.
Outra questão é que quando assumimos a Prefeitura, em 2017, já tinha dois anos que a concessão da Copasa estava vencida. Em 2019, demos inicio ao processo para buscar melhorar o abastecimento no município. Montamos um bom projeto e enviamos para a Câmara em 2020, o qual foi engavetado. A maioria dos vereadores na época entendeu que estávamos brincando ou tentando prejudicar o morador.
Personalidade: projeto engavetado?
Reenviamos o projeto para a Câmara e novamente ele foi recusado, com vereador dizendo que não era o momento de trocar a Copasa, mesmo sabendo que a população estava sofrendo. Agora vem a enchente e o mesmo vereador fala que a Prefeitura tem que tomar providência em relação à Copasa. Acredito que o representante do povo tem que ter personalidade e não ficar como folha de bananeira.
Esse projeto vai dar certo. Santa Maria vai lucrar, você pode ter certeza, não tenho dúvida nenhuma disso. Vai gerar emprego, vai gerar renda, vai mudar todo o sistema de drenagem da cidade, vai mudar a captação de água, vai ter um sistema de captação que a população não vai mais sofrer em relação à água, isso porque no processo, teremos garantia para acionar a empresa e até aplicar multas, ao contrário da Copasa, pertencente ao Estado e que não tem o mínimo de consideração com a população. Se você atrasa, paga multa. Se ela manda água suja, o problema é seu. Eu nunca vi uma coisa que só tem mão única. Tem que mudar esse sistema e para mudar tem que ter pessoas aqui com visão ampla e com atitude e decisão.
Vereadores: a Câmara hoje é mais alinhada com a Prefeitura?
“Com certeza. O Vicente [ex-presidente] sempre esteve alinhado no que era melhor pra cidade. Tenho que agradecer também o Jair Lino, que assumiu agora e já começou ouvindo, dialogando com a gente. Se tiver algo errado, eles têm que fiscalizar mesmo. Mas o que for bom para o povo temos que estar juntos. Estou muito esperançoso com o novo presidente. É uma pessoa de diálogo, que busca informação e está preocupado em fazer o melhor pra Santa Maria”.
Considerações finais
“Eu quero agradecer o espaço e dizer pra toda s população de Santa Maria: desde que me tornei prefeito, sempre busquei fazer o meu melhor. Passamos por muitos problemas, os piores até hoje, mas continuamos de cabeça erguida, dando conta do recado. Muito já fizemos e sei que tem muita coisa a ser feita. Isso não é campanha política, é realidade. Não vamos parar nosso trabalho”.
Entrevista publicada na edição 750 do Folha Popular