Empresas reduzem quantidade e sobem os preços nas embalagens

Achocolatado em pó, por exemplo, tinha 2kg, reduziu para 1,8kg (200g a menos) e ainda subiu de preço (foto)

Menor porção por mais dinheiro vira drama para assalariado

Apesar de oficialmente a inflação no país ainda não ter chegado a 6% nos últimos seis meses, a impressão que o assalariado tem é de que os tempos da hiperinflação estão de volta. Quem precisou ir ao mercado nos primeiros dias de julho, já não conseguiu manter os mesmos produtos no carrinho de compras.

“Eu estive aqui no supermercado anteontem (quarta-feira, 29) e deixei de comprar o leite de R$ 5,78 e hoje (sexta-feira, 1º) está quase R$ 7. Parece que voltou a hiperinflação, em que todos os dias era um valor diferente nas prateleiras”, avaliou o soldador José André de Paula.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) foi de 0,62% em junho. Está acima do registrado no mês anterior (0,45%), mas longe de retratar o drama do consumidor que é obrigado a esvaziar cada vez mais o carrinho de supermercado para caber no salário.

O índice acumula alta de 5,61% no ano e de 11,92% nos últimos 12 meses. Os produtos alimentícios passaram de 0,63% em maio para 0,78% em junho. Os não alimentícios passaram de 0,39% para 0,57%.

Ainda na sua observação, comentada com um outro consumidor ao lado, José de Paula disse que o problema é que a diferença é que agora somente os preços sobem, mas os salários continuam os mesmos”.

RECLAMAÇÕES
Como se não bastasse ter que pagar mais pelas compras de supermercado, o consumidor se sente lesado com um outro fenômeno que está tomando conta do comércio em geral. É a redução das embalagens e da quantidade das mercadorias. A prática, que ganhou o nome de reduflação, é proposta como uma forma das indústrias driblarem os constantes aumentos de preços de seus produtos.

Mas donas de casa reclamam que a mudança não acompanha os preços. “Estamos pagando mais por menos. Essa é a verdade”, protestou Márcia Alvarenga Diniz.
Acostumada a comprar a embalagem maior de biscoitos recheados, ela disse que foi obrigada a mudar de marca. O mesmo biscoito que antes continha quatro pacotes na embalagem, agora tem apenas três, por quase o dobro do preço. “Estou sendo obrigada a cortar todo mês itens da lista de compra e o pior, o que compro já não dá para o mesmo tempo”, reclamou ela.

Sabão em pó reduziu 400g na embalagem, não mudou o preço e, pasmem, anuncia que rende igual a 2kg

A prática tem sido observada em alimentos, guloseimas, iogurtes, carnes processadas e produtos de higiene e limpeza, de diversos fabricantes. Entre os exemplos, o biscoito Nesfit com aveia teve redução de peso de 20%; o amendoim crocante Pettiz encolheu de 90g para 70g; o pacote pequeno de cookie Toddy teve redução de 5%; o sabão Omo embalagem de 2kg diminuiu para 1,6kg e a caixa de fósforos da marca Fiat Lux reduziu a quantidade em 40 palitos.

Outra estratégia utilizada pelas empresas é substituir ingredientes da receita por outros mais baratos, de forma a não repassar o aumento dos preços aos consumidores.
Um exemplo disso aconteceu com o leite condensado de algumas marcas, que não diminuiu de tamanho, mas foi alterado para “mistura láctea condensada”, com ingredientes mais baratos e de menor qualidade.

A indústria e o comércio estão, na opinião do secretário-executivo do Procon de Itabira, Lucas Torres (foto), criando alternativas para manter os preços

O que incomoda mais o consumidor ainda é saber que a prática não é considerada ilegal. “O Procon não pode interferir no livre comércio, desde que obedeça as regras legais, a indústria, o comércio, tem liberdade de estabelecer o valor de suas mercadorias”, esclareceu o secretário-executivo do Procon de Itabira, Lucas Demian Almeida Torres.
Para o gestor do órgão de defesa do consumidor em Itabira, a reduflação é reflexo da instabilidade econômica provocada pela pandemia de coronavírus, somada à paralisação de diversas atividades por longos períodos. Ele ainda lembra que a crise é mundial. “O país passa por um momento ruim. Na verdade, todos os países estão passando por dificuldades financeiras”.

A indústria e o comércio estão, na opinião dele, criando alternativas para manter os preços. O que o consumidor precisa ficar atento é se as adequações estão seguindo os parâmetros legais. “Eles podem colocar seus preços, mas têm que ser informados de forma clara as mudanças feitas”.

Lucas Torres disse que já está ciente do fato e que o Procon já recebeu denúncias contra a situação. Recém-empossado ao cargo, ele falou que tem planos para auxiliar o consumidor a passar por esse momento, que inclui divulgação de pesquisas de preços em redes sociais.
“A gente vai criar Instagram, panfletos e outras redes sociais para colocar uma lista com produtos com os preços e os estabelecimentos onde o consumidor poderá encontrar. Vamos dar condições para o consumidor saber onde encontrar preços melhores”.

Outro projeto do novo secretário-executivo do Procon é criar um canal aberto para a população reclamar, fazer denúncias e acionar o órgão, quando se sentir lesada. “Estamos acabando de chegar, mas estamos estudando uma forma de nos aproximar mais da população. Quero realmente aproximar o Procon da população, levar informações e orientações pertinentes aos consumidores”, conclui.
“O nosso objetivo é fazer um trabalho educativo ao consumidor e intensificar a fiscalização”, completou.

Matéria publicada na edição 762 do Folha Popular (14/07/22)