Itabirana foi morta em 1980 e caso continua sem solução. Enquanto isso, fiéis visitam túmulo da adolescente atribuindo a ela milagres
10/11/2024 – Em março de 2025, o assassinato de Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues “Lia” vai completar 45 anos e continua rodeado de mistérios. A adolescente, de 15 anos, foi covardemente atacada e morta com requintes de crueldade que aterrorizam a população itabirana até mesmo nos dias de hoje. Duas pessoas chegaram a ser apontadas como suspeitas de envolvimento no crime, mas as investigações nada confirmaram.
O corpo de Maria do Perpétuo foi encontrado na manhã do dia 26 de março de 1980 em caminho de trilha (usado para reduzir percurso) que dava acesso entre a avenida Carlos Drummond de Andrade e o Hospital Carlos Chagas. O cenário era de completa barbárie. Ela estava nua, presa pelos cabelos em uma cerca de arame farpado, com marcas de violência sexual, espancamento brutal. Os dentes frontais estavam quebrados e havia pedaço de madeiras introduzidos nos órgãos genitais dela.
Lia foi assassinada aos 15 anos de idade
Segundo uma prima, hoje com 70 anos de idade, e que pediu para não ter a identidade revelada, próximo ao corpo havia uma marreta suja de sangue. A ferramenta teria sido utilizada para golpear várias vezes a cabeça e o rosto da menina.
Essa prima disse que passados alguns meses, começaram a aparecer velas acesas no túmulo dela com mensagens de agradecimento escritas, atribuindo a ela o recebimento de graças alcançadas e milagres. O fato assustava a família, que preferiu se manter em silêncio e evitar confrontos para não aumentar ainda mais o sofrimento causado por tanta dor.
No dia de Finados, o túmulo de Maria Perpétuo, segundo funcionários do Cemitério da Paz, é um dos mais visitados. Pessoas de toda a cidade passam pelo local para rezar pela alma dela, para agradecer ou para apresentar um pedido.
A veneração acontece naturalmente, de forma reservada. As pessoas que falam que receberam a bênção, não fazem questão de comprovações. É o caso de Maria Aparecida Queiroz. Ela contou que vivia sofrendo com dores renais e decidiu acender uma vela para a jovem morta na década de 1980. Ela disse que vivia tomando remédios e nunca sarava, depois disso, as dores sumiram.
Já Guilhermina Assis Andrade disse que a neta estava demorando muito para andar e rezou pedindo que Maria Perpétua intercedesse por ela. Não demorou dois meses para a criança dar os primeiros passos.
A Igreja Católica, entretanto, nunca se pronunciou sobre o assunto. Não tem também nenhum processo em andamento para beatificação ou canonização.
Canonização e Beatificação
A beatificação significa o reconhecimento, por demanda de uma diocese ou instituição eclesiástica específica, da santidade da vida daquela pessoa. E, assim, autoriza-se o culto público de sua honra nos limites daquela instituição, enquanto a canonização representa um reconhecimento da santidade por toda a igreja. Assim, a Igreja Católica como instituição, desde o Vaticano até as Igrejas espalhadas em todo o mundo reconhecem e cultuam aquela pessoa como uma santa.
Ainda segundo os ritos católicos, a beata, ou beato, precisa ter operado um milagre, geralmente uma cura, algo comprovado pela Igreja Católica após uma série de investigações. No entanto, existe outra forma de chegar à beatificação sem comprovar um milagre. Essa forma é a declaração do martírio. E assim é permitido o culto público em honra dessa pessoa no âmbito dessa instituição.
O martírio é classificado pela fé católica como “a morte voluntariamente aceita por causa da fé cristã ou por causa do exercício de outra virtude relacionada com a fé”.
- Matéria publicada na edição 817 do Folha Popular