FOTO: Loja de tintas aposta no delivery e garante vendas
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Crise desencadeada pelo novo coronavírus, que motivou o isolamento social em todo o planeta, atinge em cheio o comerciante de pequeno porte, que tem caixa apertado e pouco acesso a crédito
Desde o dia 21 de março, o comércio considerado não essencial está fechado em Itabira por causa da pandemia do novo coronavírus. Não se trata de “privilégio” só da cidade de Drummond; praticamente todo o mundo adotou medida semelhante. A decisão foi tomada pelo prefeito Ronaldo Magalhães, por meio de decreto, seguindo as orientações das autoridades nacionais e internacionais de saúde.
O objetivo é um só: reduzir a circulação de pessoas, achatar a curva de contágio e evitar o colapso do sistema de saúde. Segundo projeções matemáticas, o lockdown evita que todos adoeçam ao mesmo tempo e mais pessoas morram por falta de atendimento.
Mas e a sobrevivência do comércio?
“Acredito que as demissões vão começar mesmo de abril em diante”, diz o presidente da CDL, Maurício Martins
Em Itabira, tão logo as lojas foram obrigadas a baixar as portas, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Maurício Henrique Martins, veiculou um vídeo nas redes sociais falando das articulações para a reabertura dos estabelecimentos. A informação causou reação imediata do Executivo. Alguns comerciantes também ensaiaram uma manifestação próximo à rodoviária, mas com baixa adesão, o movimento não ganhou repercussão.
Fechado até quando?
De acordo com Maurício Martins, ainda não há previsão de quando as atividades comerciais voltam ao normal. É provável, segundo conversas que ele tem mantido com a Prefeitura, que o decreto do fechamento seja estendido até maio.
Entre os lojistas, há uma preocupação com uma quebradeira generalizada. A própria CDL já tem informação de que pelo menos três comércios importantes na cidade já se consideram falidos.
Loja fechada resulta também em demissão. Maurício Martins afirma que, neste primeiro mês, muitos empresários deram férias aos seus colaboradores. O problema se agrava após os 30 dias. “Acredito que as demissões vão começar mesmo de abril em diante, quando o funcionário voltar e não tiver serviço”, comenta.
Sobre a falência de negócios, o presidente da CDL estima que deve, sim, haver – e muitas. Entretanto, ele acredita na persistência do brasileiro. “Eu penso que o comerciante vai acabar voltando, porque ele é teimoso. A dívida deixa para depois. O cara precisa sobreviver, tem família para criar. Será meio que renascer das cinzas”, afirmou.
Quem é mais atingido
Um levantamento feito pela Cielo mostra que nos primeiros dias de comércio fechado, as empresas que mais sofreram com a queda no faturamento foram as de vestuário (-91%), turismo (-83%) e bares (-71%). O setor de supermercados, considerado essencial (portanto, de portas abertas), foi o menos atingido. Em Itabira, observando os estacionamentos, é possível supor que houve inclusive aumento na demanda.
O setor que mais sofre com a queda no faturamento é o de vestuário (-91%)
Um outro estudo produzido pelo JPMorgan, uma das maiores instituições financeiras do mundo, mostra que, em média, as empresas possuem reservas financeiras para manter suas operações por apenas 27 dias. Isso nos Estados Unidos. No Brasil é de se imaginar que a situação é bem pior. O estudo revela ainda que os primeiros a sucumbirem ao fechamento são os bares e restaurantes: apenas 16 dias.
Se virando como pode
Alguns estabelecimentos que ficaram fechados nas primeiras semanas pós-decreto estão tentando se reinventar para vender alguma coisa, sem ferir a ordem oficial. Alguns tentam emplacar delivery, como lojas de roupas, de eletroeletrônicos e de tinta, por meio de televendas, aplicativos, etc.
Edna Helena, comerciante há mais de 20 anos no Gabiroba. “Preciso vender para manter minha família”
Outros estão em meia-porta, vendendo para viagem. Mesmo assim, a situação está difícil. É o caso de Edna Helena, comerciante há mais de 20 anos no Gabiroba. “Preciso vender para manter minha família. Sou eu e meus filhos. Não tenho de onde tirar renda. Estou com produtos parados, boletos para pagar e não tenho como repor mercadoria. A minha venda caiu 70%. Com 30% do faturamento, não estou conseguindo pagar nem água nem luz”, afirma.
Como a situação é inédita, ainda é difícil estimar o quanto esta crise mundial vai causar de estragos. Em Itabira, por enquanto, não há pesquisas sobre o tamanho do problema. De acordo com Maurício Martins, a CDL deve fazer um levantamento só depois que a situação clarear. “Estou preocupadíssimo com este cenário. Acho que vamos ter muitos problemas, muitos mesmo. Depois que a guerra acabar vamos contar os corpos”, declarou.
Pior crise desde os anos 20
Crise dos anos 20 – Criança com cartaz: “Por que você não dá um emprego para meu pai?”
O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que esta será a pior crise econômica do mundo desde a Grande Depressão, marcada pela quebra da bolsa de Nova York em 1929. Para tentar evitar que a segunda onda, como está sendo chamada a crise econômica que se sucederá à crise da saúde, seja ainda mais arrasadora, os governos têm interferido de diversas formas. Medidas como subsídio ao salário de funcionários, empréstimos com juros baixos e adiamento de pagamento de tributos estão sendo tomadas a fim de evitar uma quebradeira geral. Se será o suficiente para evitar a morte de milhares das micro e pequenas empresas, ainda não se sabe.
Em frente, empreendedor
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Minas está com diversos serviços voltados ao pequeno negócio. São palestras online, consultorias por telefone e por vídeo, dicas, orientações e cursos gratuitos. O objetivo é ajudar o pequeno empresário a vender por aplicativos, elaborar estratégias de marketing digital, gestão de caixa e sobreviver a este momento conturbado. Acesse “www.sebraemg.com.br” e confira os conteúdos.
Matéria publicada na edição 707 do Folha Popular (16 abril de 2020)