Sirenes tocam e cerca de 500 moradores próximos a barragem de Gongo Soco são retirados

FOTO: BARRAGEM DE GONGO SOCO – ATUALMENTE COM 6,16 MILHÕES DE M³ DE REJEITOS

Atualizado às 10h02 de sexta (8) – Comunicado urgente às 3h desta madrugada informou que a Agência Nacional de Mineração (ANM) determinou a evacuação de área à jusante da barragem Sul Superior da mina Gongo Soco, em Barão de Cocais, depois de ser informada pela Vale que a empresa estaria dando início ao nível 1 do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM). A Vale ressalta que a decisão é preventiva e aconteceu após a empresa de consultoria Walm negar a Declaração de Condição de Estabilidade à estrutura.

A ação teve início na madrugada de hoje (8/2), retirando cerca de 500 pessoas nas comunidades de Socorro, Tabuleiro e Piteiras, todas situadas na cidade de Barão de Cocais.

Como medida de segurança, a Vale está intensificando as inspeções da barragem Sul Superior. Também será implantado equipamento com capacidade de detectar movimentações milimétricas na estrutura. A Vale está trazendo consultores internacionais para fazer nova avaliação da situação no próximo domingo (10/2).

Os moradores evacuados foram levados para ginásios poliesportivos da cidade. Ainda nesta sexta, a Vale iria providenciar hotéis, onde os moradores deverão ficar até segunda-feira, (11), após as avaliações de risco na barragem.

Devido a baixa oferta de hotéis na cidade, moradores devem ser transportados pela Vale para hospedagens em municípios vizinhos como Itabira, Santa Bárbara e Monlevade.

A Barragem Superior Sul está entre as dez que a Vale pretende eliminar. Ela foi construída pelo método de “alteamento a montante”. Considerado ultrapassado e menos seguro do que outras alternativas existentes, ele é o mesmo usado na construção de barragens que se romperam em Mariana, em novembro de 2015, e em Brumadinho, em 25 de janeiro deste ano.

Em novembro de 2002, a Vale realizou, por meio de empresa Terramil, o alteamento da barragem da na mina de Gongo Soco para 938 metros acima do nível do mar, elevando sua capacidade para receber 6,016 milhões de m³ de rejeitos. Com o fim da mineração no Gongo Soco em 2016, a barragem também foi desativada.

HISTÓRIA

Barão de Cocais, Vila de Nossa Senhora do Socorro, pertencente à mina de Gongo Soco, em Minas Gerais. Lá morava o padre Antonio Tavares de Barros, apaixonado por queijos e ouro, que era por ele enterrado na própria fazenda. Um dia, um gato comeu seu queijo. Furioso, o padre o trancou dentro de um quarto para açoitá-lo. Encurralado, o animal pulou em seu pescoço e, com as unhas, rompeu uma de suas artérias. Os dois foram encontrados mortos dias depois. O lugar onde o padre enterrava o ouro ficou conhecido como tesoureiro. Nele, existe uma lamparina que iluminava e guarda o ouro. Atualmente só existem ruínas na fazenda e o local, dizem, é mal-assombrado.


Ao fundo, em meio às ruínas, é possível ver o cofre onde o Barão de Catas altas guardava o ouro extraído da região

A história do gato que matou o padre não é a única que cerca a região, onde a Vale atuou até 2016 extraindo minério de ferro. Durante a viagem do botânico e naturalista francês Saint-Hilaire por Minas Gerais, ele relata que, “quase logo após ter atravessado São João do Morro Grande (Barão de Cocais), passou diante de uma cruz”, descrevendo um terreno que teria sido habitado ou assombrado por almas do purgatório em Gongo Soco.

São muitas as histórias que rondam aquela área. No caminho para a fazenda Gongo Soco, estão as ruínas do palácio do Barão de Catas Altas e o arco do triunfo, por onde passaram Dom Pedro I e Dom Pedro II com suas comitivas. No trajeto existem ainda ruínas de uma antiga cidadela inglesa, também do século XVIII. E dentro da fazenda Gongo Soco, está a Capela de Santana, construída, restaurada e conservada pelos proprietários, riquezas que podem ser extintas com o rompimento da barragem.

Barragem em Itatiaiuçu

Moradores do povoado de Pinheiros, em Itatiaiuçu, Região Metropolitana de Belo Horizonte, foram retirados de suas casas por volta de 4h da madrugada desta sexta-feira (8). Ao todo, cerca de 50 famílias foram levadas para um hotel em Itaúna, na Região Centro-Oeste do estado.

De acordo com a Polícia Militar da cidade, o pedido de apoio da retirada veio da Defesa Civil, que alertou para o risco de rompimento da barragem. O povoado de Pinheiros fica a 1,5 quilômetro da barragem.

A barragem pertence à mineradora ArcelorMittal.