Em outubro de 2020 moradores fizeram manifestação na estrada de acesso a vila do Gongo Soco para cobrar responsabilidades da Vale
Os moradores da região da vila do Gongo Soco, em Barão de Cocais, desalojados devido aos riscos de rompimento da barragem da Vale, vão se reunir com representantes da mineradora no próximo dia 31, para discutir a volta para casa. O encontro foi agendado por pressão das lideranças comunitárias, após serem informadas de um novo adiamento da data apresentada anteriormente. Não era intenção da empresa conversar diretamente com o povo, mas representantes da comunidade se recusaram e cobraram que a notícia fosse dada pessoalmente, para dar chance aos afetados de apresentarem seus próprios questionamentos.
A empresa tinha ficado de apresentar uma data para esse retorno ainda este mês, mas ela não conseguiu atender uma exigência do Ministério Público, que condicionou a liberação da área à apresentação de um novo Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM). Com isso, a volta para casa deverá ser adiada para dezembro, prazo final estabelecido pela Justiça para apresentação do plano.
Moradores que não fecharam acordo com a Vale estariam sendo prejudicados
A situação foi vista como descaso da mineradora com suas vítimas. Na opinião de Nicholson Pedro de Resende “Nick”, que representa os moradores da vila de Gongo Soco, está claro que a Vale além de estar enrolando os moradores para tirar proveito da tragédia provocada por ela mesma, ainda está evitando o contato direto. Ele disse que a intenção da empresa era usar os líderes comunitários para amenizar o problema, o que foi recusado. No entendimento de Nick, cabe à própria Vale vir a público dar uma satisfação para o povo e contar o que está acontecendo.
Nicholson Resende lembrou que o prazo inicial para apresentação do PAEBM era em abril. “O Ministério Público exigiu isso da Vale, que programou para abril, passou para agosto e informou que vai levar o prazo que a Justiça determinou, que é 25 de dezembro. Só que a Vale queria que nós, lideranças, anunciássemos isso. E nós falamos que estamos cansados de dar má notícia para as comunidades. Pedimos que viessem a público para falar eles mesmos”.
O assunto será discutido direto com os moradores no próximo dia 31, em reunião agendada para as 19h30, na Fazenda Soledade.
Representantes da empresa ainda tentaram marcar o encontro com prazo menor menor, entretanto, Nick disse que o ginásio foi escolhido para possibilitar uma participação maior da comunidade. Ele ressalta que é importante que todos os afetados compareçam para apresentar seus questionamentos. “Quanto mais pessoas presentes, melhor”.
Na ocasião, eles vão aproveitar para discutir também a suspensão do auxílio mensal que a Vale pagava aos desalojados e o processo de desapropriação. O auxílio foi suspenso em novembro do ano passado, mesmo as pessoas não tendo acesso ainda às suas casas.
Há suspeitas de que a mineradora está aproveitando do desespero das pessoas que perderam a única renda mínima que tinham e as condições de sobrevivência para esvaziar as minas do Gongo Soco. “Eles estão se aproveitando da decisão do desembargador Marcelo [Rodrigues] para fechar o maior número possível de acordos. As pessoas sob estresse, sem renda mínima estão aceitando. Em dezembro, o total de acordos era de 30% entre os desalojados, agora está em 65%. Tinha pessoas que não queriam vender e aceitaram”, informou Nick, com dados recebidos da empresa.
A previsão é de que a comunidade de Socorro só retorne para casa em 2029, ao término do descomissionamento de Gongo Soco. Na avaliação de Nick, os moradores da vila temem ficar isolados e sem condições de se manterem, aceitando assim um acordo, ainda que prejudicial.
Das 159 famílias desalojadas, faltam apenas 55 para fechar acordo. Entretanto, apenas 30% conseguiram receber os valores integrais. Ele vê nessa situação um ato de covardia, que acaba inviabilizando as pessoas de se manterem, uma vez que muitas delas eram agricultoras e já idosas.
Os moradores foram evacuados de suas casas há mais de dois anos e levados para hotéis ou aluguel social, pago pela Vale. De lá para cá, para ter suas vidas normalizadas, já ocorreram vários embates entre os moradores e a Vale. As lideranças não descartam a possibilidade de novas manifestações públicas para tentar chamar a atenção das autoridades responsáveis.