Vereador fala de moralização na Câmara e critica desprezo da Vale

FOTO: Leonei Pires arregaça as mangas e lembra das grandes possibilidades de Barão de Cocais em meio a passado de lutas e de incertezas

O vereador Leonei Pires (PSB) faz retrospectiva dos bastidores políticos e administrativos de Barão de Cocais e critica duramente executivos da Vale.
A entrevista foi concedida ao Folha Popular na quinta-feira (6), em Barão de Cocais.
Vereador, nestes três anos e oito meses, qual retrospectiva você faz do Legislativo cocaiense?
Eu tive o privilégio de ter sido eleito vereador com votação expressiva e de ter sido eleito presidente da Câmara por unanimidade para o biênio 2017/2018. No período, nós implantamos um novo modelo de gestão, cortando gastos desnecessários. Com postos de gasolina, por exemplo, reduzimos em 60%. Com os carros rodando menos, economizamos também com manutenção. Outras duas medidas foram a adesivação e implantação de rastreadores nos veículos. Este trabalho foi feito em parceria com o Ministério Público e foi elogiado pela juíza e promotor na época, isso devido ao mau uso dos carros na gestão passada, fato que rendeu denúncias graves na imprensa e processos judiciais.
Ainda em relação aos privilégios, cortamos os telefones corporativos dos vereadores e acabamos com os coquetéis.
Por outro lado, aprovamos projetos de grande importância, como a gestão compartilhada do Hospital Municipal, acabando com a fila que se formava de madrugada para conseguir consulta às 10h da manhã. Tem muito a ser feito, mas os avanços aconteceram graças ao projeto de gestão compartilhada aprovado pela Câmara.
Outro destaque foi a reforma do Código Tributário, passando a alíquota de 2% para 5%. Apenas cinco vereadores aprovaram a mudança por entenderem que o código estava deficitário há anos e emperrava a economia de Barão de Cocais. Graças à mudança, o muro da Vale, se fosse na alíquota antiga, geraria R$ 4 milhões em impostos, mas gerou mais de R$ 21 milhões.
Este recurso está permitindo várias obras, como o calçamento de 20 ruas, conclusão de asfaltamentos, obras de drenagem pluvial na Getúlio Vargas, no bairro Leão XIII, nos Três Moinhos, no Capim Cheiroso, no início da Afonso Pena, entre outras ações que, por estarem por baixo da terra, as pessoas nem sempre veem. Graças à nova alíquota, a Prefeitura também renovou a frota escolar, inaugurou a nova UPA, a nova maternidade e a sala de cirurgia. Na época, muitos crucificam os cinco vereadores, dizendo que iríamos prejudicar as empresas, aumentar o IPTU da população, a taxa de iluminação e nada disso aconteceu. A Gerdau é outro exemplo. Ela pagava cerca de R$ 3 mil e passou a pagar cerca de R$ 500 mil. As empresas menores pagavam R$ 70 de alvará e passaram a pagar R$ 160, um valor inferior do que é praticado em outras cidades. Não posso deixar de lembrar que aprovamos também, depois de 20 anos, a adequação salarial dos professores do ensino fundamental e médio.
Como é a Câmara atualmente?
Acredito que o Legislativo de Barão de Cocais faz um belo trabalho. Hoje, 90% dos projetos que o prefeito envia são aprovados e vejo que existe respeito e um bom diálogo para o progresso da cidade.
Em níveis gerais, hoje a administração municipal conta uma nova história?
Hoje, nós estamos reconstruindo a história de Barão de Cocais. O atual governo foi o que enfrentou as maiores crises nos 77 anos de emancipação política de nossa cidade. Veja os exemplos; em 2017, primeiro ano do prefeito Décio Santos, a Prefeitura sofreu uma queda de 30% em receita com o fechamento da mineração em Gongo Soco. De 2017 até o fim de 2018, o Governo do Estado confiscou R$ 14 milhões em impostos pertencentes a Barão de Cocais, forçando a Prefeitura a focar esforços apenas na saúde e educação. A situação era tão crítica que o prefeito chegou a acampar em frente à Assembleia Legislativa para pedir ajuda. Como se não bastasse, ainda neste período, outro perrengue foi a febre amarela com mortes de macaquinhos na Reserva Mico Estrela, aqui na cidade. Sem recurso, nosso medo era de que a doença atingisse os moradores, mas vencemos o desafio. Logo depois, veio a greve dos caminhoneiros, exigindo articulação do prefeito para garantir abastecimento essencial em nossa cidade. Já nos primeiros meses de 2019, a barragem Sul Superior entra em estado de alerta, sendo classificada em nível 3, o que significa grande potencial de rompimento a qualquer momento. Com isso, todos os moradores da comunidade de Socorro foram retirados e até hoje, muitos estão sem assistência da Vale. O fato impactou toda a cidade, que parou para enfrentar um problema criado pela mineradora. Até hoje, nada foi resolvido, com a barragem ainda no nível 3. E neste ano, temos o fato recente, que foi a enchente que superou a de 1979, acabando com estradas, pontes, casas e destruindo bens de muitos moradores. A Prefeitura montou uma força-tarefa e deu resposta ao problema, auxiliando várias famílias com doações de eletrodomésticos, móveis e colchões, além de obras de recuperação da cidade.
Aí, quando nós achamos que a situação iria se estabilizar, com um grande pacote de obras, surge a maior pandemia dos últimos 100 anos se comparando à gripe espanhola de 1918. Mas vejo que a crise de saúde pública está sendo gerida com muita firmeza por meio de ações práticas como o rodízio de CPF para evitar aglomeração de pessoas, fato que foi pauta da Rede Globo aqui em nossa cidade como exemplo bem sucedido. Além disso, a preocupação foi também investir na melhoria da estrutura de saúde pública, com a instalação de 10 leitos de UTI, contratação de novos profissionais, compra de equipamentos, entre outras ações, as quais estão sendo acompanhadas pelos moradores.
Devido a todos estes problemas, a gestão deixou de executar obras entre 2017 e 2018?
Não. De forma alguma. Veja as obras do Espaço Multi-eventos, o quartel da PM, com aumento de policiamento, obras na comunidade de São Gonçalo, serviços de drenagem por várias ruas. Não acho justo falar que o governo só está trabalhando agora. Pelo contrário, mesmo com queda de 30% da receita, retenção de recursos, enchentes e crise sanitária a administração conseguiu promover ações esperadas há mais de 20 anos, manter a saúde, educação, serviços essenciais, implantar o Samub e agora, com as contas equilibradas, sim, está podendo oferecer mais serviços e obras para a população.
A máquina pública está saneada?
O governo Décio Santos iniciou o mandato com um secretário ocupando mais de uma pasta e recebendo por uma. Nos governos passados, a média era de 200 comissionados, no atual governo não passa de 50. Acredito que o governo vence os desafios por estar com a máquina pública equilibrada e com as contas em dia.
Em relação às licenças para mineradoras?
Antes mesmo de tomarmos posse, iniciamos, juntamente com o prefeito Décio Santos, os trabalhos para liberar duas licenças de empreendimentos minerários em Barão de Cocais. Lembro-me das diversas idas a Valadares para reuniões com órgãos ambientais, de viagens para Bralísia, pelo menos seis reuniões com o governador do Estado e muitas vezes voltando as pressas para reuniões na Câmara. E o resultado foi liberação das licenças, a da cava da Divisa, da Vale, com previsão de minerar 15 milhões de toneladas de minério por até 20 anos e da MR, que prevê 4,5 milhões de toneladas. É bom lembrar que estas licenças são para minerar a seco. Junto a estas importantes conquistas, conseguimos a liberação das obras de asfaltamento da estrada Barão de Cocais a Caeté, mas devido à crise, o atual governador bloqueou o repasse para a obra.
Quando as empresas começam a operar?
Este é o grande problema. A Vale, por meio de seus executivos, assinou termo de compromisso de iniciar os trabalhos logo após a liberação das licenças, isso em 2017. Respeito os funcionários da Vale, mas os gerentes desrespeitaram todos os cocaienses e todo o esforço do governo em conseguir as licenças para minerar. Agora, o que queremos é que estes mesmos executivos que assinaram o termo de compromisso falem a verdade para o povo. Esperamos também a liberação da planta ferroviária que passa por Barão de Cocais, que passou a ser de responsabilidade do Município. Estamos esperando resposta da Vale.
A postura da Vale, em relação ao termo de compromisso, está tirando de Barão de Cocais R$ 50 milhões por ano. Acho que a Vale tem que ser responsabilizada por isso.
Já a MR, depende da Vale para extrair e transportar o minério, até mesmo porque ela vende o minério para a Vale.
Outra licença também a seco dá à Hidalco Brasil para exploração de bauxita. É uma planta menor e que vai levar material para produzir alumínio em Ouro Preto.
Em relação à Gerdau, o que dizer?
Nós temos um diálogo excelente com a Gerdau. Recentemente, a siderúrgica ajudou o Município na questão da UTI do Hospital Municipal. Comparada a gestão dos executivos da Vale, os gerentes da Gerdau dão um show. Sabemos que existe a questão da poeira, mas devemos levar em consideração que a planta da Gerdau é de 1923 e que a cidade cresceu em torno da usina, mas nem por isso o governo está de braços cruzados e novas medidas serão aplicadas.
O grupo se habilita à reeleição?
Olha, estamos em um momento delicado em relação à pandemia e a necessidade de alternativas para a economia de nossa cidade. A reeleição é algo que deve acontecer naturalmente. O prefeito Décio Santos está hoje [6 de agosto] no Rio de Janeiro para uma reunião com executivos da Vale para cobrar postura da mineradora.
Hoje, a Vale tem um grupo de executivos que são insensíveis aos municípios onde opera. Veja Barão de Cocais. A mineradora tem a maior mina a céu aberto em São Gonçalo, mas joga todo o rejeito em barragem em Barão de Cocais. São três barragens da Vale aqui em nossa cidade com problemas, uma em nível 3, outra em nível 2 e uma terceira, a de Laranjeiras, que está toda rachada, conforme denúncia que fiz por meio de vídeo. Na época, eles desmentiram, mas hoje estão lá, recuperando as trincas. A Vale ainda faz pressão para instalar novas barragens em Barão de Cocais. Ela quer nosso povo vivendo com medo, doente e sem perspectivas.
Mas voltando à pergunta em relação à eleição 2020, vejo que o Décio Santos está muito focado na gestão pública de Barão de Cocais. Ele é da área de saúde, por isso percebo a preocupação dele com o bem-estar das pessoas, principalmente agora, com essa pandemia. Ele também esbarra em forças políticas estranhas, que querem o retrocesso da cidade, o exemplo é a instalação dos semáforos, que já eram para estar operando, mas foram lá e denunciaram no Tribunal de Contas que a licitação proibia a participação de consórcio de empresas, nada a ver. Contudo, o tribunal, hoje presidido pelo PSDB, engavetou o projeto. É a velha política, de pessoas ultrapassadas. A hemodiálise é outra conquista para Barão de Cocais que também sofre influência política negativa. A cidade foi credenciada, mas a Gerência Regional de Saúde, em Itabira, dirigida por pessoas ligadas ao PSDB e, a grupos políticos de Barão de Cocais, também trava o processo.
Mas acho que o Décio, mesmo passando pela maior crise desde nossa emancipação, há 77 anos, está fazendo uma administração assertiva e mais, lutou e conquistou as licenças que serão a redenção econômica de nossa cidade para os próximos 20 anos e por isso, acho natural o anúncio de sua pré-candidatura à reeleição.