Subsídio não acabou com atrasos em transporte público, diz passageiros

Conselheiro Municipal de Transportes e Trânsito diz que exigências da Prefeitura à Cisne são ‘papo furado’

19/6/2023

  • MOTE DE CAMPANHA POPULISTA

O atraso de ônibus em Itabira piorou de um mês para cá. Essa é uma reclamação recorrente entre os usuários do transporte público da cidade. Chegar ao ponto de ônibus com antecedência está se tornando uma estratégia usada cada vez por mais passageiros, para garantir chegar em seus compromissos em tempo hábil.

O agravamento do problema que já existia antes, coincide com o período em que entrou em vigor a lei municipal 5.429, de 15 de maio, que reduziu o valor da tarifa do transporte urbano, aumentou o número de bairros atendidos sem novos ônibus, em contrapartida ao repasse de subsídio para a empresa Transportes Cisne.

O que dizem os usuários
“Desde que a passagem diminuiu, o ônibus não tá passando no horário certo mais. Eu mesma, pra ir pra faculdade, todo dia eu pego o ônibus das 17h30 pra chegar 18h no Centro. Outro dia, fiquei mofando no ponto esperando, e só foi passar quase 18h. Só está sendo assim ultimamente”, reclamou a universitária Letícia de Souza. Mesmo para ir ao trabalho, a estudante disse que precisa tentar sair mais cedo de casa do que deveria. Ou se chega com muita antecedência, apanhando um ônibus que passe antes do horário que lhe atenderia normalmente, ou chega muito atrasado.

Ela não é a única a reclamar. Para não arriscar o próprio emprego, o técnico em eletrônica Emanuel Luiz Ferreira disse que está sendo obrigado a acordar mais cedo. “Meu ônibus normal passa às 8h para chegar ao Centro quase 9h. Mas de mais ou menos um mês para cá, comecei a chegar atrasado. Vi que bagunçaram os horários de ônibus e passei a pegar o de 7h30”.

Proposta é vista como mote de campanha
A questão também tem sido alvo de discussões na Câmara Municipal. Vereadores começaram a cobrar as contrapartidas impostas à concessionária do serviço público, muito antes do projeto de lei ter sido aprovado.

Líder da oposição, o vereador Neidson Dias Freitas (MDB) recorreu ao caso do primeiro subsídio, criado em setembro. Segundo ele, o projeto previa diversas condicionantes para a concessionária, e que, afirma ele, não foram cumpridas.

Em fala de apoio ao pedido de vista apresentado pelo correligionário, vereador Roberto Fernandes Carlos de Araújo “Robertinho da Autoescola”, ele discursou colocando em dúvida as propostas descritas no então projeto de lei enviado à Câmara.

“Devemos pagar o subsídio até o final do ano e ver qual contrapartida a empresa vai cumprir? Porque até hoje não cumpriu nada dos R$ 6 milhões que já foram repassados à empresa. Vai trazer a frota nova? Vai ter ônibus novo? O que foi feito?”

Conselheiro diz que exigências à Cisne são ‘papo furado’

As exigências feitas no contrato entre a Prefeitura e a Transportes Cisne, não convencem nem mesmo o Conselho Municipal de Transportes e Trânsito (CMTT). Há reclamações inclusive das condicionantes não terem passado pelo crivo do colegiado. Os conselheiros, segundo afirmou o representante da Interassociação, Francisco Carlos Silva, não chegaram nem a opinar.

Ele afirma que o CMTT não teve qualquer participação nas discussões para elaboração do contrato ou concessão do subsídio. Por outro lado, Francisco Carlos contou que as contrapartidas fazem parte dos contratos, o que nunca garantiu o seu cumprimento.

“Maioria das exigências é papo furado. Desde a concorrência de 2007 já existiam as exigências para a Transportes Cisne, mas a PMI fazia o que era interessante para a administração pública. Em linguagem simples, não dá para confiar na Transportes Cisne e principalmente no governo de Marco Antônio Lage. Muito marketing, muita conversa fiada, muita promessa e pouca ação”, disparou Francisco Carlos.

Para comprovar a própria afirmativa, ele cita um exemplo simples que se refere à idade da frota. “A lei fala que a empresa tem que ter a média da frota de cinco anos, e não pode ter veículos acima de dez anos. Vários veículos dela já estão com os prazos vencidos”.
E para completar, Francisco Carlos afirma que mesmo com o subsídio, não houve grande mudança nas exigências feitas. “É mais um engodo”, pontuou.

Mesmo que o recurso aprovado para a Cisne, no total de quase R$ 35 milhões, tenha tido um reflexo positivo para o trabalhador, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Itabira (Sinttroita), Cáscio Cota, demonstrou preocupação com o futuro da empresa.

Ele admite que o reajuste salarial conseguido, muito acima do reivindicado, só foi possível pela ajuda da Prefeitura à empresa. Entretanto, o fato dessa ajuda não ser permanente, pode comprometer a situação dos trabalhadores no futuro. “Hoje, nós vimos a Prefeitura dando subsídio para a empresa, mas e quando não tiver mais isso?”, questionou.

Para Cáscio Cota, era necessário que independente de acordos e negociações, a Prefeitura mantivesse um dispositivo legal que garantisse a valorização do trabalhador. Os motoristas e trocadores, diz ele, não podem ficar na dependência de ações temporárias.