Entrevista com o presidente da Câmara, Heraldo Noronha Rodrigues
O vereador de primeiro mandato por Itabira, Heraldo Noronha Rodrigues (49), eleito proporcionalmente pelo PTB com 962 votos (18º mais votado) casado, empresário, assumiu neste ano, graças a manobras da oposição na Câmara, a presidência da Casa para o biênio 2019/2020. Nestes 200 dias de gestão, manter a marcha engrenada tem exigido destreza em razão de uma das mais tumultuadas e sinistras gestões da história de ‘186 anos da Câmara de Itabira8’, desde outubro de 1833, com ondas de protestos por demissões públicas, queimas de bonecos caracterizados, recomendações ministeriais além de mandados de prisão para vereadores e diretor.
O parlamentar recebeu a reportagem do Folha Popular em seu gabinete, na hora do almoço de quarta-feira (10), para um breve balanço dos dias nada fáceis para o dono da principal caneta do Legislativo.
Presidente, como tem sido comandar a Câmara em meio a tantas turbulências?
A Câmara tem passado por um momento muito difícil. E eu, em meu primeiro mandato e agora como presidente, “peguei” algo diferente. Você vê que administrar uma Câmara igual à de Itabira é como administrar uma prefeitura, é muito grande. Para piorar, tem a questão envolvendo os dois vereadores e o ex-diretor em crimes de rachadinha. Está sendo muito difícil para a Câmara, para a minha gestão, mas vamos vencer estes desafios.
Em relação aos crimes e às prisões preventivas, além do considerado foragido Agnaldo Enfermeiro?
O que nós fizemos, logo após sabermos que o então diretor da Câmara (Ailton Moraes) estava sendo investigado, foi tentar exonerá-lo, o que não foi possível porque ele se afastou por 15 dias alegando problemas de saúde. Antes do retorno, saiu o mandado de prisão para ele e para o vereador Nenzinho (Weverton Júlio Limões) e logo depois, para o vereador Agnaldo (Agnaldo Vieira Gomes, “Enfermeiro”), os quais foram afastados. Quanto à prisão de Ailton, posso assegurar que não tem nada a ver com a direção da Câmara.
“A situação do Agnaldo é mais
delicada, pois existe denúncia
de tentativa de estupro”
Sabe dizer por que o Agnaldo Enfermeiro não se entrega à polícia?
Eu não estou ciente da situação, pois as investigações são sigilosas. A polícia não passa o que está acontecendo. Mas acredito que a situação do Agnaldo Enfermeiro, que é casado, é mais delicada, pois existem denúncia de tentativa de estupro ou envolvimento com uma ex-funcionária, que também é casada. É complicado. Não sei o que falar sobre isso.
Acredita que outros vereadores estejam sendo investigados pelo crime de rachadinha?
O trabalho é muito sigiloso. Eu não sei, mas ouço falar que um está, que outro não está. Eu só posso dizer que as prisões aconteceram porque os investigados estavam coagindo os denunciantes.
Quanto à questão da austeridade na aplicação do dinheiro da Câmara?
Na gestão passada a Câmara tinha um repasse de R$ 1,4 milhão por mês. Nesta gestão, devido à queda de arrecadação em razão das retenções de recursos da cidade, feito pelo Governo de Minas, estamos recebendo em média 1,060 milhão. Diminuiu bem, ou seja, R$ 400 mil por mês. Por isso tivemos que enxugar os gastos, cortar despesas, para fecharmos o ano honrando a folha de pagamento, que tinha um déficit previsto de R$ 1,6 milhão, sendo que foram empenhados R$ 9,6 milhões de salários ante a uma receita estimada para salários de R$ 8, e para complicar, veio agora o reajuste de salários dos servidores de 5,5%. Você vê que cortamos a verba de gabinete de R$ 4.050 por mês, independente da recomendação do Ministério Público, cortamos quase 15 cargos comissionados e reduzimos valores de contratos com fornecedores.
“A imagem do político em geral
está muito ruim na rua. Ele
está muito desacreditado”
E os carros que atendiam os vereadores?
Tem a ver com a verba de gabinete. Com o fim, os carros locados por cada vereador foram devolvidos, também seguindo a recomendação do MP. A Câmara tem interesse em licitar uma empresa para fornecer estes carros para os vereadores, creio que em janeiro do próximo ano. É um suporte que deve existir, a cidade é muito grande.
E para 2020?
Ano que vem, em 2020, vai melhorar bastante, o que vai possibilitar a construção de uma nova sala para abrigar o Centro de Atenção ao Cidadão (CAC), para confecção de carteira de identidade e outras ações. Por falar no CAC, vamos abrigá-lo em uma sala no prédio neste momento . Já está tudo liberado e o serviço começa a ser prestado assim que as atendentes concluírem o curso, que é ministrado em Belo Horizonte.
Acredita que vereadores têm feito oposição velada contra a sua gestão?
Como a gente é governo, certas turbulências e cobranças sempre chegam. Mesmo assim, prefiro acreditar que existe uma amizade entre nós, ou se não, pelo menos um respeito mútuo. Não acredito que eles estão querendo me derrubar.
O que fazer para evitar o pior em relação à imagem e à credibilidade do Legislativo?
A imagem do político em geral está muito ruim na rua. Ele está muito desacreditado. E não é só em Itabira. Só que se o eleitor pensar bem, o vereador é o que está mais perto da população para se chegar ao prefeito, ao deputado, então você vê que o vereador é importante para a população. Só que alguns, lá fora, estão “doidos” com a nossa vaga, tentam denegrir nossa imagem e da instituição. O desejo é claro, assumir nossos lugares. O que devemos fazer é manter ações em favor do povo, sempre.
Você falou em austeridade, mas as ações envolvem recomendações do MP. Como avalia esta situação?
Olha, o Ministério Público sugere que certas medidas sejam aplicadas, ele não obriga. Somos poderes diferentes e independentes. E tem sugestões que realmente têm que ser acatadas. É um trabalho em conjunto, uma engrenagem que tem que rodar em favor da comunidade.
Outras esferas públicas também devem passar pelo filtro da moralidade?
O Brasil não aceita mais as regalias recebidas por agentes públicos. A população não aguenta mais. Tem que rever, todos os segmentos, seja o Legislativo, Executivo ou o Judiciário, militares. Tem que acabar com os privilégios de todas estas classes.
“O Ronaldo tem um bom grupo,
uma boa equipe, o que a oposição
não tem e não conseguiu construir”
Como avalia o governo Ronaldo Magalhães?
O governo vinha de uma situação muito complicada devido a várias medidas impopulares para zerar um débito herdado da gestão passada, como demissões, falta de remédios na farmácia, PSFs sem médicos, que ainda é um problema, mesmo em menor escala, então, o início desta gestão foi muito ruim devido à situação da Prefeitura. Sem dinheiro não há como governar. Mas agora, o governo deu uma respirada ao zerar déficit mensal de R$ 8 milhões, então temos que reconhecer, o Ronaldo é um bom administrador. Até a oposição tem que reconhecer. Veja os investimentos que estão chegando para a cidade, isso é fruto da gestão municipal. Veja também a parceria com a China para investimentos na Unifei, parque científico e tecnológico e aeroporto de carga. Antes disso o governo já estava investindo na Unifei na construção de prédios e terraplenagem. Outro ponto positivo é a faculdade Una se instalando na cidade e redes atacadistas. Eu acho que estas ações acontecem graças ao equilíbrio financeiro da Prefeitura, pois ninguém quer investir em um município quebrado.
Estas ações habilitam o Ronaldo à reeleição?
Sem dúvida. O Ronaldo tem um bom grupo, uma boa equipe, o que a oposição não tem e não conseguiu construir.
Ser vereador; frustração ou satisfação?
Eu gosto de ser vereador. Alguns falam que sou do varejo, e sou mesmo, gosto de ficar no meio do povo, participar da vida do povo. Não sou bom em oratória como outros vereadores, mas consigo transmitir minhas mensagens e o mais importante, ouvir e lutar pelas necessidades das comunidades. Gosto das coisas simples, isso é bom que aproxima as pessoas, gera confiança.
Considerações finais, vereador?
Desejo terminar este ano atendendo as expectativas de todos, independente do momento ruim que estamos atravessando, que exige paciência. No mais, é pedir a Deus para nos iluminar para concluirmos nosso mandato de forma mais positiva possível.