O vereador Neidson Dias Freitas (PP) recebeu a reportagem do Folha Popular para falar das cinco propostas de campanha e acabou delongando, dizendo que o mecanismo centenário de troca de favores no meio político brasileiro seria o pivô da desordem nacional
O vereador de terceiro mandato (2005/2008-2009/2012-2017/2020), presidente da Câmara de Vereadores de Itabira por dois mandatos, e atual presidente do diretório municipal do Partido Progressista (PP), Neidson Dias Freitas, 35 anos, recebeu a reportagem do Folha Popular na tarde do dia 12 de setembro, em seu gabinete, para falar das cinco propostas de campanha, os nove meses do Governo Municipal, condução da Câmara Municipal neste ano, postura de colegas vereadores, projetos e captação de recursos externos, processo de cassação de Ronaldo Magalhães e da vice Dalma Barcelos e por fim, da política nacional e de uma possível candidatura a deputado em 2018.
Como estão as cinco metas legislativas para o mandato?
Estão sendo executadas. Nossa principal meta era o Cidade Limpa, que acabou sendo absolvida pelo governo Ronaldo Magalhães, que logo no início do mandato montou equipes para promover uma faxina geral na cidade.
Cuidar dos animais é outra ideia dentro do projeto Cidade Limpa. Fizemos uma parceria com a Associação Municipal de Proteção Animal da Região de Itabira (Ampari), e já temos agendado para final deste ano a castração de quinhentos cães em Itabira. Apresentamos também um anteprojeto de lei, com regras para cuidados e fiscalização dos animais domésticos em nossa cidade, o qual vai ser realidade graças ao entendimento do Governo Municipal. Dentro desta questão estamos conseguindo um castramóvel para Itabira, o qual realizará um trabalho bairro a bairro. Vejo que a solução para os cachorros soltos pelas ruas não é canil nem execução, são ações de conscientização, campanha de adoção responsável e castração para controle da natalidade. Para isso, já iniciamos palestras e distribuímos informativos nas escolas mostrando importância deste tema.
Quanto à gestão austera, já é realidade?
Nossa segunda proposta foi Cidade Austera. Lembro-me que na campanha as pessoas me alertaram que esse era um nome difícil e que poderia confundir o itabirano. Mas era isso mesmo, difícil, mas continuamos com a ideia que hoje já apresenta bons resultados, que são os cortes de gastos tanto na Prefeitura quanto na Câmara Municipal.
O prefeito Ronaldo Magalhães também entendeu esta necessidade e teve todo apoio da Câmara. Cito algumas medidas austeras, que são antipopulares, como o fim do apostilamento dos servidores, cortes de mais de 110 cargos na Prefeitura, redução de cargos em subsidiárias e empreiteiras, cortes consideráveis em quase todos os contratos da Prefeitura e o resultado é que assumimos uma cidade com déficit de R$ 8 milhões por mês e em oito meses este valor foi reduzido para R$ 2 milhões. Vamos zerar esta conta negativa. Na Câmara não foi diferente. Reduzimos alguns contratos, adotamos o pregão eletrônico para 90% da modalidade de licitação da Casa, o que reduziu bastante os custos, devolvemos para a Prefeitura três dos quatro carros usados para atender a Câmara, o que representou queda em diárias, gasolina e manutenções.
Graças às ações de austeridade, conseguimos promover economia e repassar para a Polícia Militar recurso de R$ 245 mil para a aquisição de três viaturas e uma moto para ampliar os serviços de patrulha e prevenção. Essa foi uma solicitação da Polícia Militar, que chegou a esta prioridade de viaturas após estudos e trabalho de inteligência do próprio 26º Batalhão.
Este tipo de ação melhora a eficiência da polícia, mas o importante não seria a eficácia?
Os números da Polícia Militar são extremamente otimistas e mostram que o trabalho tem obtido ótimos resultados, mas a eficácia que você quer dizer está no sistema de segurança de nosso país. Então, nós temos que fazer o que está ao nosso alcance, o que é possível, e para realmente termos resultados eficazes, nosso governo deve reciclar o Código de Processo Penal Brasileiro.
Cidade Alegre vai ao encontro de uma de suas metas?
Sim. A terceira proposta é a Cidade Alegre, que nada mais é que resgatar os eventos tradicionais de Itabira, e o primeiro exemplo foi a Expoita, realizada por meio de parceria com a CDL. E não vamos parar. Já existem bons shows agendados para este ano. Vamos usar nossa influência para colocar nossa cidade na rota dos grandes eventos, que também é uma forma de gerar emprego, lazer e entretenimento. Não que outras ações não sejam importantes, como saúde, educação, segurança, mas vamos seguir nossas metas dentro das condições.
Em que nível está a proposta de escola integral?
A quarta proposta é a Escola de Tempo Integral. Estamos conversando com o secretário municipal de Educação (José Gonçalves), para que Itabira entre efetivamente neste segmento. A ideia já está sendo trabalhada, mesmo com as dificuldades deste primeiro ano. Nossa missão será preparar a base para que Itabira tenha uma escola de tempo integral que funcione, não apenas com o nome de escola de tempo integral, como foi no passado.
Acredita que terá sucesso na redução de vereadores?
A quinta proposta é a redução do número de vereadores em Itabira. Essa é uma proposta que depende do voto dos demais vereadores e em tempo hábil vou discutir esta ação com os colegas. Adianto que já temos alguns votos favoráveis, mas vamos fazer um trabalho individual com cada um, mostrando qual a concepção, a economia a ser gerada, a adequação da Câmara de Itabira com relação a cidades similares no estado, onde a maioria tem um número menor de vereadores e debater a necessidade de 17 vereadores, quando podemos ter 11. Antes compunham a Casa 11 parlamentares, é apenas voltar o que era antes por meio de alterações na Lei Orgânica.
Eu fico feliz ao fazer este balanço, pois sei que poucos vereadores recordam de suas propostas, isso se é que elas existem. E as nossas, como foram propostas enxutas e exequíveis, estão sendo emplacadas paulatinamente.
Fale sobre as verbas destinadas recentemente para Itabira por meio de emendas
Outra ação que entendemos ser de grande importância é a captação de recursos externos por meio de nosso bom relacionamento nas esferas estadual e federal. Fruto desta ação é uma emenda de R$ 200 mil conquistada por nós por meio do deputado federal Luiz Fernando (PP-MG), para compra de equipamentos para o Hospital Nossa Senhora das Dores realizar cirurgias de catarata. A entrega será feita neste mês de outubro.
Outra verba a ser destinada para Itabira (Secretaria Municipal de Esportes), no valor de R$ 250 mil, será aplicada na manutenção e reforma de quadras e ginásios, como a de Ipoema, que nunca passou por reforma desde a sua construção.
Temos ainda para este ano, uma provável emenda do senador Antonio Anastasia, no valor de R$ 100 mil e também a compra de equipamentos para serem destinados para a área rural.
Outra conquista, graças ao nosso bom relacionamento com a senadora Ana Amélia Lenos (PP-RS), foi a promoção de treinamentos e cursos para combater o uso de drogas nas escolas, o qual mobilizou 130 professores, agentes de saúde, pedagogos, profissionais que estão lidando com jovens nas escolas. Ainda neste mês de setembro vamos promover o projeto Bebida, Lazer com Responsabilidade, com o propósito de discutir a questão das drogas lícitas entre nossos jovens, por meio de palestras e informações para multiplicadores, pois sabemos que o álcool, por ser mais acessível e barato, é a pior droga da sociedade, pois acaba induzindo ao uso de várias outras drogas ilícitas.
Você tem adotado uma postura de defensor implacável do governo, fato que tem lhe custado mal-estar entre alguns vereadores. Como avalia esta postura?
Eu acho que o político tem que ter posição. Eu fui eleito juntamente com o Ronaldo e o ajudei a chegar onde ele está. Então não posso me furtar de minha responsabilidade de defender um projeto de administração para colocar Itabira nos trilhos, alcançar os objetivos. Respeito os demais vereadores e principalmente os que são contra, que são de outras bases e têm outras pretensões políticas. Sabemos que algumas ações promovidas por Ronaldo são antipopulares, mas para conseguir cumprir a proposta de campanha, de devolver Itabira ao itabirano, temos que aplicar o remédio, que é amargo. Agora, o vereador de oposição está no papel dele, de inflamar o tema, de amplificar a questão com o objetivo de conseguir desgastar o governo. Eu acredito no governo do Ronaldo e vamos entregar uma cidade muito melhor do que nós recebemos.
Fim do recesso. A aprovação popular foi unânime e outras câmaras também extinguiram as férias de julho. É este o caminho, colocar o político em pé de igualdade com o eleitor?
É. Está acontecendo de maneira natural. Não tem mais espaço para benefícios da classe política. O cidadão não aceita mais isso. E os que entram para a política com essa ilusão, vão ter uma grande decepção, pois o momento é outro, a realidade econômica das cidades, a tolerância da população é outra e o nível de informações por meio das redes sociais mudou totalmente a forma de participação da população no meio político e nós temos que nos adequar. Em alguns países sempre foi muito comum a figura do político, no Brasil é que se criou este status em cima da figura do político e diante de tantas regalias, chegando ao ponto dos políticos terem a imagem de representantes das classes abastardas e não mais do povo. De tão distante da realidade chegou o momento das mudanças, adequar é mais que necessário.
Seria o mesmo que cortar diárias, carros locados, reduzir assessores?
Para os que trabalham e fazem bom uso destes benefícios em Itabira, vejo como natural. Mesmo assim adianto que não existe abuso em Itabira, pois todas as ações devem ser justificadas, principalmente quanto às diárias, que são usadas para ações em busca de recursos para a cidade em Belo Horizonte ou Brasília.
Mas existem questões que são naturais, que devem ser respeitadas, pois ainda existem políticos que fazem uso responsável dos benefícios.
Eu, para se ter ideia, já atendi mais de 400 pessoas em meu gabinete. Sem assessores, isso seria humanamente impossível. Precisamos também de equipe para nos auxiliar em nossos projetos.
Você citou um ponto interessante; buscar recursos. Porquê só agora em maior escala?
A Prefeitura de Itabira sempre recebeu recursos por meio de convênios, mas de forma tímida. Antes, a cidade era rica, não precisava garimpar convênios. Só que a história mudou e não aceitar a realidade pode engessar ações em saúde, educação, segurança, saneamento básico, pois as demandam cresceram e a arrecadação caiu.
A Prefeitura deveria ter uma equipe para acompanhar e cobrar certos convênios?
Sim, a Prefeitura deveria ter pessoas inteiradas dos trâmites legais para ter sucesso na celebração de convênios. Acredito que a cidade deve melhorar o relacionamento com deputados e senadores para que coloquem nossa cidade no mapa destes benefícios. O básico, nós recebemos, mas queremos além do básico e Itabira já contribuiu e ainda contribui para isso.
Com representatividade na Assembleia e na Câmara Federal a história seria outra?
Sem dúvida. O itabirano precisa saber da importância de termos deputados com poder de voz. Ano que vem teremos eleições, mas o cenário que vejo são políticos com intenção de se candidatarem em busca de projeção para vereador ou prefeito, ou para simplesmente inviabilizar o sucesso de quem poderia sair vitorioso nas urnas. Essa é a concepção política em nossa cidade e se não mudar, vamos continuar sem representantes legitimos. Isso é tão negativo que enquanto Itabira recebe R$ 200 mil para hospital, cidade menor, porém com representante local, recebe R$ 2 milhões. Exemplo do pacote de bondade do presidente Michel Temer, que foram as emendas liberaras aos deputados, veio algum recurso para Itabira?
Está aí a Unifei, projeto de R$ 400 milhões. Acredito que este é um dos maiores projetos de Itabira e teremos que buscar parcerias, pois a Prefeitura não conseguirá executá-lo sozinha. A universidade recebeu recentemente R$ 3 milhões, via Governo Federal, mas se tivéssemos um deputado, creio que poderíamos ter conquistado emendas para melhorar este repasse federal.
O Brasil está em situação delicada em se tratando de políticos graças às delações e prisões. Em 2018, acredita em uma debandada de eleitores das urnas?
Infelizmente, teremos uma debandada de eleitores. Hoje temos naturalmente perto de 25% de votos perdidos e acredito que isso possa chegar a 45%, 50%. Mas é um erro. É a prova concreta do desconhecimento por parte do eleitor da importância do processo político. Vou te dar um exemplo; quando uma pessoa fala que não vai votar mais, ela acaba facilitando a eleição dos candidatos. Isso é simples; menos votantes, menos votos válidos nas urnas e menor o quociente eleitoral para ser eleito. Em uma conta rápida, Itabira tem 100 mil eleitores, exemplo, vamos supor que 50 mil deixem de votar, ou votam em branco ou nulo. Dos 50 mil que votaram, você divide pelo número de 17 cadeiras na Câmara, isso significa que cada partido ou coligação precisará de 2.941 votos por vaga e se todos os 100 mil votassem, seria o dobro para se eleger um vereador. A mesma conta se aplica em nível estadual e federal. Quanto menos eleitor nas urnas, mais fácil para os partidos.
Quanto às mudanças propostas, como o voto distrital, distrital misto, financiamento público de campanha?
São propostas para beneficiar político. Estas são reformas rasas. Não muda nada. Enquanto as pessoas pensarem que tem que entrar na política para ganhar dinheiro, não vai mudar. A questão é cultural e segue um sistema que deve ser quebrado. Nos Estados Unidos, por exemplo, o presidente Donald Trump primeiro ganhou dinheiro para depois ir para a política, a mesma coisa são seus assessores. No Brasil temos outro agravante que são os empresários que dependem da política para ganhar dinheiro. Na verdade virou uma espiral de corrupção, uma grande troca de favores envolvendo não só os empresários, mas todos os setores, seja o Judiciário, imprensa, parlamento, executivo ficando o estigma apenas para os políticos. Vejo que existe um grande furacão, contudo, temos exceções, pessoas boas, fora dele.
Mas devemos também ver o lado bom. Acho que o único legado que o PT deixou para o país foi a independência da Polícia Federal. Devido ao trabalho executado pelo órgão, a sociedade não aceita interferência e ao acompanhar estas prisões, classifico como um grade ganho para o Brasil, um avanço de 20 anos.
Quanto ao processo de cassação de Ronaldo e Dalma, acredita em absolvição?
Conheço o teor do processo. Creio em erros materiais devido às mudanças que ocorrem com frequência nas prestações de contas. Acredito que todos os erros apontados serão sanados na segunda instância.
Caso ocorra o afastamento?
Não desejo isso. Não é do jeito que quero chegar a prefeito. Tenho uma trajetória política de quase 17 anos e quero ser escolhido nas urnas e entrar na Prefeitura pela porta da frente. Se ocorrer o afastamento de Ronaldo e Dalma, vou fazer o que determina a lei e esperar por novas eleições. Percebo um movimento político muito forte feito por pessoas derrotadas nas urnas, em querer levar a eleição para o segundo tempo, para uma vitória na base do tapetão.
Em 2018, se habilita candidato a deputado?
Em 2018, o que eu tenho a dizer é que estou preparado para assumir uma cadeira tanto na Assembleia Legislativa, em Belo Horizonte, quanto na Câmara dos Deputados, em Brasília. Agora, quem tem que se habilitar é a o eleitor. Ele terá que escolher se Itabira deve ter deputado, a mesma coisa deve fazer a classe política de nossa cidade, em optar pela coerência, pois não dá para dividir votos com dez, quinze candidatos.