Mudança partidária na surdina por vice-prefeito de Itabira é tratada como deslealdade

Em 2022, Marco Gomes declarou que existem demônios dentro do Executivo e que ele não concorda com várias decisões do prefeito Marco Antônio, contudo, mudou de partido para se manter ao lado do atual governo e disputar a reeleição

19/03/2024 – A mudança repentina de partido, feita na ‘surdina’ pelo vice-prefeito, Marco Antônio Gomes, movimentou os grupos de notícia no WhatsApp da cidade na última semana. A atitude do vice-prefeito, que também é pastor evangélico, pegou a todos de surpresa. Nem mesmo o próprio grupo político ao qual pertencia foi informado. Em nota divulgada nas redes sociais, o presidente do Partido Liberal (PL) em Itabira, ao qual ele pertencia, Marcelo Reis, disse que ficou sabendo da retirada do até então aliado, por meio da imprensa. Uma atitude tratada na nota como deslealdade. Marco Antônio trocou o PL pelo Partido Renovação Democrática (PRD).

“O Partido Liberal Itabira sempre se pautou pela ética, transparência e pelo compromisso com o diálogo aberto e franco, tanto dentro quanto fora de nossa esfera partidária. A atitude do vice-prefeito contraria não apenas nossos valores institucionais, mas também o respeito e a lealdade para com aqueles que o apoiaram em sua trajetória política”.

Em entrevista a um jornal da cidade, Marcos Gomes confirmou que além de mudar de partido, vai manter composição com o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) para disputar a reeleição pela Prefeitura. O espanto com a declaração surpreende mais quando se leva em consideração declarações feitas pelo vice-prefeito no decorrer do governo de incompatibilidade de pensamentos e ideais entre ele e o grupo do prefeito.

O descompasso entre o prefeito e o vice, veio à tona em março de 2022, na escolha da professora Laura Souza, ativista dos movimentos LGBTQIA + de Itabira, para assumir a secretaria de Educação. Marco Antônio que também é pastor de uma das maiores igrejas evangélicas de Itabira, pressionado pelo Conselho Municipal de Pastores (Conpai), se posicionou contra, gerando tensão na Prefeitura. A relação conflituosa entre os dois ficou escancarada.

As divergências ganharam repercussão na mídia estadual, devido ao vazamento de um áudio que circulou nas redes sociais, no qual o vice afirmava que existem demônios dentro do Executivo e que ele não concorda com várias decisões do prefeito. No meio evangélico todos sabiam que ele estava se referindo ao mundo espiritual, lembrando que a declaração era feita a outras autoridades eclesiásticas, numa prestação de contas dos seus atos políticos enquanto pastor.

Apesar de nunca ter demonstrado interesse em deixar o governo, Marco Antônio Gomes sempre fez questão de afirmar publicamente não compactuar com as decisões do prefeito em pautas adversas ao conservadorismo. No áudio vazado na ocasião da nomeação da ativista LGBTQIA + para a Secretaria da Educação, o vice-prefeito também fez questão de separar os interesses e princípios contrários entre ele e o prefeito, afirmando ser bolsonarista enquanto Marco Lage se declarava lulista.

Na entrevista, o vice-prefeito deixou claro que a sua decisão de mudar de sigla é uma estratégia para tentar se manter no cargo de vice-prefeito. Ele apontou falta de estrutura do PL para se justificar.

“Todo partido tem seus pensamentos. Não sou contra seus ideais, e com isso, eles acabam se fechando muito. Ah doutor Marco Antônio, o senhor não teve oportunidade no PL? Tive, tanto que me candidatei pra vice no PL, mas não tínhamos estrutura nenhuma. Na verdade, o PL aqui era o presidente (Marcelo Reis – assessor parlamentar da família Portela) e doutor Marco Antônio. Não fizemos um vereador, nem sede (o partido tem aqui)”.

Ele ainda tentou minimizar a própria atitude, elogiando os caciques do PL. “Quem nos ajudou foi Lincoln Portela. Ele foi o grande incentivador para que eu também entrasse na política”.

No entendimento de Marco Antônio, não houve deslealdade da sua parte e até acha que foi sim fiel, já que também apoiou os aliados durante a duração da aliança, além de ter ajudado os portelas nesse tempo também. Mas, concluiu que era hora de tomar novo rumo.

PL diz que ficou sabendo da mudança partidária do vice pela imprensa

Marco Antônio Gomes é acusado de deslealdade e de tomar uma decisão unilateral sem sequer compartilhar com os seus aliados políticos sua decisão de trocar o partido por outra agremiação, em nota publicada pelo presidente do diretório do PL em Itabira, Marcelo Reis. Até o momento em que a nota foi divulgada, o vice-prefeito não havia avisado sobre seu desligamento nem ao Partido Liberal Itabira e continuava registrado como integrante da Comissão Provisória do PL junto ao Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), sem que formalização de desfiliação.

Diz um trecho da nota divulgada no final da tarde de segunda-feira, 11, quando a mudança de agremiação do vice veio à tona. “O Partido Liberal foi surpreendido na manhã do dia 11 com a notícia veiculada pela imprensa informando que o atual vice-prefeito da nossa cidade, membro ativo e filiado ao PL, decidiu se unir a outra agremiação partidária”.

“Causa-nos ainda mais estranheza e pesar o fato de que essa decisão não foi compartilhada nem mesmo com os demais membros da diretoria do PL Itabira, nossos correligionários e os deputados estaduais e federais, em especial a deputada estadual Alê Portela e o deputado federal Lincoln Portela, que historicamente têm direcionado recursos significativos para o desenvolvimento de nossa cidade”.

Ao final do documento, o diretório pede mais transparência, diálogo e união em prol do futuro de Itabira.