Monlevadenses pagam em silêncio cerca de R$ 2,5 milhões de 14º salário

FOTO: Valor gasto pelo Legislativo de Monlevade com o privilégio até agora daria para construir mais 50 casas populares

Presidente Leles Pontes e a maioria não apoiam o fim do 14º salário para não perderem votos

Mesmo propondo ações para reduzir os gastos na Câmara de João Monlevade, o presidente Geraldo Camilo Leles Pontes (PRB) não é simpático à proposta de cortar o 14ª salário dos 58 servidores da Casa, um abono de retorno de férias, privilégio exclusivo na região pago desde dezembro de 2011, que custa ao contribuinte monlevadense R$ 300 mil por ano, média de R$ 2,5 milhões nos últimos 8 anos.

Como se não bastasse, mesmo com vários feriados e as emendas com pontos facultativos, tanto os servidores da Câmara como os da Prefeitura contam também com dois dias de folga no aniversário.

O presidente Leles Pontes falou com a reportagem do Folha Popular em seu gabinete no dia 16 de maio. Ele tentou se desvencilhar do assunto, falando de ações paralelas para gerar economia, como a instalação de aquecedor solar, menor gasto com entrega de honrarias, substituição do provedor de internet e perfuração de posso artesiano para economizar na conta de água. Ele calcula que em um ano paga estes investimentos, usando a economia a ser gerada, de certa forma, longe dos R$ 300 mil/ano gastos com o extra de retorno de férias.

Quando foi questionado novamente sobre a moralização na máquina pública e zelo na aplicação do dinheiro do contribuinte, ele foi pontual dizendo que o que poderia ser feito para acabar com o 14º salário, o ex-presidente Dijalma Bastos (PSD) já teria feito e que agora é respeitar a determinação judicial. Ele se referiu a portaria interna de 2017, assinada pelo então presidente Djalma Bastos que paralisou, por 11 meses, o pagamento de um salário de retorno de férias, portaria derrubada por liminar judicial em favor dos servidores devido à proposta ter sido aprovada em plenário em novembro de 2011, dentro do plano de cargos e salários dos servidores da Câmara. O autor e defensor do privilégio é o vereador Carlos Roberto Lopes “Pastor Carlinhos” (MDB), na época, presidente da Mesa Diretora. Para derrubar o 14º salário, a matéria deveria ser aprovada em plenário pela maioria dos vereadores, tentativa frustrada no passado. O motivo seria o desgaste dos vereadores com os servidores da Câmara.

Por fim, Leles Pontes acabou confessando que foi um dos que não assinaram a proposta apresentada pelo colega Djalma Bastos. “Fui contra porque é um direito adquirido dos servidores. Não gosto de tirar as conquistas das pessoas. Acho que se mantiveram eles até produzem mais e ajuda a economizar. Não sou contra o Djalma. Acredito que ele vai apresentar um projeto de iniciativa popular para acabar com o 14º salário”, diz Leles Pontes.

Na Câmara de João Monlevade, conforme o Portal da Transparência, estão cadastrados 58 servidores, destes, 40 ocupam cargos por indicação dos próprios vereadores, chamados de comissionados, 14 são efetivos, três inativos e um contratado. Todos eles têm direito ao 14º salário, ou abono após retornarem das férias, um custo estimado de R$ 300 mil por ano. A faixa salarial dos servidores é de R$ 1.300 a R$ 9 mil. Os 15 vereadores que compõem a legislatura não recebem o abono.

O Folha Popular falou com moradores sobre os privilégios no setor público de João Monlevade

Giordana Lorena Oliveira – autônoma
Deveria acabar com o 14º, é um absurdo. Agora os dois dias de folga no aniversário até passa. Eu estou horrorizada, eu achava que parava no 13º, eu não sabia que existia 14º salário. Nossa, tem muitas coisas para se fazer com este dinheiro. Olha a rua cheia de buracos.

Maximiliano Santos – assistente de logística
Olha, eu acho inadmissível. Primeiro porque o 14º não é para todos os servidores, atende apenas a Câmara. Já o gasto com este privilégio deveria ser usado para ações e serviços, pois nossa cidade carece de muitas coisas. Para mim isso é má gestão do dinheiro do povo.

Bianca Lima – garçonete
A folga no dia do aniversário eu acho interessante, dá pra curtir bastante. Já o 14º salário sou contra, um absurdo saber que nosso dinheiro está sendo usado para isso. Reprovo porque o trabalhador, que paga os salários destes servidores, não tem este privilégio. Deve acabar.

Matéria publicada na edição do Folha Popular do dia 5 de junho.