Captação de água no rio Tanque vai favorecer indiretamente usinas da Vale

Em audiência pública para expansão de cavas de minério em Itabira, realizada nesta segunda-feira (12), técnicos da Vale fizeram questão de lembrar dos investimentos para captação de água do rio Tanque, ignorando que a mineradora também será beneficiada

No TAC assinado, a mineradora terá ainda o direito de explorar outras fontes de abastecimento

13/05/2025 – O projeto de captação de água do rio Tanque vai garantir reforço da demanda por água do sistema operacional da Vale. Isso é o que mostra o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado com a Prefeitura de Itabira, Ministério Público e Serviço Autônomo de Água de Esgoto (Saae). Diz o acordo que enquanto o Município não necessitar de todos os 600 l/s, a mineradora poderá fazer uso do “excedente” para suprir a sua demanda operacional no complexo de Itabira.

Atualmente, o consumo de água em Itabira é de cerca de 400 l/s e são captados 60 l/s do Rio do Peixe, 40 l/s ETA Rio de Peixe, 20 l/s ETA Areão, 100 l/s do Córrego Jirau 2 e 3 e 100 l/s com a adutora do Anel Hidráulico, totalizando em sua captação máxima 320 l/s. É o que diz o anexo 1 do detalhamento do escopo dos serviços de Auditoria Técnica Independente.

Como o volume de captação cai em períodos de seca, estima-se uma deficiência de 160 l/s, o qual seguirá sendo fornecido pela Vale até o termino da obra de captação do rio Tanque.

“Desde que não prejudique a quantidade de vazão necessária para o terceiro interveniente (a Prefeitura) suprir a demanda hídrica para consumo humano no Município de Itabira, o que deverá ser previamente constatado pelo estudo de demanda hídrica previsto na cláusula I, 1, “d”, o terceiro interveniente (o Saae) fornecerá a vazão excedente até o limite da vazão total instalada da ETA rio Tanque para uso da compromissária (Vale) em suas atividades operacionais no Município de Itabira”, estabelece o item 7 do TAC da captação e transposição de água do rio Tanque.

Com duração estimada em cerca de três anos, as obras incluem a implantação de uma adutora de 25 quilômetros, três estações elevatórias de bombeamento de água, um tanque de alimentação direcional e uma câmara de transição, além de uma ETA com capacidade para 600 l/s.

O investimento da Vale no Projeto Rio Tanque é de aproximadamente R$ 1,17 bilhão.

Enquanto o projeto não fica pronto, pelo TAC a empresa terá que complementar o volume de água que falta no abastecimento do Município. Atualmente, o consumo de Itabira é de cerca de 400 l/s e as obras de transposição do rio estão previstas para se estender até 2027. Enquanto a transposição não é concluída com a água do rio Tanque chegando a Itabira, em um volume de 600 litros por segundo (l/s), a Vale está obrigada a fornecer 160 l/s para reforçar os sistemas de tratamento e distribuição na cidade.

Em compensação, o Projeto Rio Tanque se conecta com outros programas em curso no Município. E somando as ações implicadas no documento assinado com o Ministério Público, o fornecimento de águas limpas devem chegar a cerca de mil litros por segundo.

No mesmo documento, a empresa ainda teve resguardado o direito de explorar outras fontes de abastecimento.

“Até a transferência desse novo sistema de captação, a terceira interveniente (Prefeitura) continuará a utilizar a vazão máxima disponível, cerca de 300 l/s, relativa às captações no Cónego Candidópolis (ETA Pureza) no Cónego Pai João, bem como dos poços 01, 02 e 03 da ETA Três Fontes e os dois poços da ETA Areão, nos limites estabelecidos pelo IGAM nas respectivas outorgas, a qual será contabilizada para calcular a vazão excedente a ser fornecida à compromissária”, diz o TAC.