Balanço aponta farra de dinheiro e possível enriquecimento ilícito

ENTREVISTA: ANDRÉ VIANA, PRESIDENTE DO SINDICATO METABASE

(FOTO) O sindicalista André Viana fala das ações nestes 10 meses de gestão, após assumir o Metabase com rastros de corrupção e registro de farra com o dinheiro do associado

A exatamente um ano da eleição para a direção do maior sindicato do Centro Leste de Minas, o Metabase, sediado em Itabira, realizada nos dias 8 e 9 de agosto de 2018, a reportagem do Folha Popular volta a ouvir André Viana Madeira (34), eleito na ocasião com 58,2% dos votos para a gestão 2019/2022.
A entrevista teve como mote as graves denúncias envolvendo 15 anos de gestão de grupos encabeçados pelo ex-presidente Paulo Soares, atual vereador em Itabira, derrotado com 38,7% dos votos.

O Metabese, que tem a obrigação de defender interesses de trabalhadores em atividade, afastados ou aposentados do setor de exploração de minerais na microrregião, foi fundado em 1945 e coleciona várias histórias nestes 74 anos, contudo, nenhuma semelhante aos fatos revelados nesta entrevista exclusiva pelo presidente André Viana.

Eleito hasteando bandeiras de renovação, maior atenção aos associados e fim das regalias e corrupção no sindicato, o mecânico de manutenção da Vale, afastado para as funções sindicais, também vereador na cidade pelo Podemos, falou das ações relacionadas às denúncias, feitas por ele e registradas no ápice da corrida para a direção do Metabase, do qual tomou posse em 19 de outubro de 2018.

André Viana, qual a situação do Metabase após estes 10 meses de gestão?
De modo global, é importante frisarmos que depois de 2017, com a reforma trabalhista e o fim do pagamento obrigatório da contribuição sindical, as instituições perderam grande parte da renda. Em relação ao Metabase, estamos contabilizando queda de R$ 500 mil neste ano.

No primeiro ano da mudança, em 2018, a gestão anterior fez uma assembleia e o período de recusa em relação à contribuição sindical foi de apenas 3 dias úteis. Então, eles conseguiram segurar parte dos contribuintes. E nós, ao assumirmos, cumprimos o que determina a lei, ou seja, realizamos a assembleia com prazo de 20 dias úteis para que o trabalhador optasse ou não pelo recolhimento. Graças a Deus boa parte entendeu o papel do sindicado e permaneceu como contribuinte, e outros não, foi quando contabilizamos perda de receita de meio milhão. Isso é muito ruim, porque não trabalhamos com lucratividade.

Em relação ao alto investimento em promoção pessoal?
Sim. Os valores em publicidade foram excessivos. Eram várias mídias com custo anual de R$ 400 mil, sem qualquer contrato, tudo direto. Com isso, nossa primeira postura foi chamar todos os responsáveis pelas empresas e rever os investimentos e mídias usadas, com redução inclusive de valores, que devem fechar neste ano em R$ 192 mil, quase 50% menos. E vamos tentar reduzir ainda mais, ou mesmo a publicidade sustentável, por meio de parceiros. A receita do Metabase, que já chegou a R$ 8,5 milhões por ano, deve fechar em dezembro deste ano em R$ 6 milhões.

Quanto à colônia de férias no Espírito Santo, a qual foi alvo de denúncias de irregularidades?
A gestão passada, irresponsável, ficou por 15 anos sem fazer reajuste do aluguel para o uso da colônia de férias do associado, que conta com gás, água, luz, internet, utensílios domésticos, tudo mantido pelo Metabase. Então, há 15 anos, um botijão de gás custava R$ 35, hoje não sai por menos de R$ 70. No passado, cada apartamento, que comporta oito pessoas, era locado ao associado a R$ 32 por dia. Quando assumimos, aferimos um déficit de R$ 80 mil por ano, ou seja, a colônia não estava sendo autossustentável. Então, reunimos a diretoria e reajustamos o valor para R$ 50 por dia, ainda assim, muito pouco pelo que é oferecido.
E não é só isso. Por anos a colônia não recebeu investimentos ou reformas, o que começamos a fazer. Detectamos vários problemas, do telhado a questões hidráulicas.
É bom frisar que esta fuga de recursos da colônia acontecia em razão da gestão corrupta que não gerenciava como deveria o espaço de lazer do associado. Antes, várias pessoas, inclusive não sócios e parentes, hospedaram sem custo.

Eles deixaram uma cultura ruim com as ações irresponsáveis. Até hoje aparecem pessoas querendo usar a colônia de graça. Em outro caso, um sócio foi sorteado e quando foi hospedar, as pessoas que receberam os convites não tinham nada a ver com o sindicato. O grupo foi proibido de entrar. Não há problema em levar amigos, mas um titular, ou familiar direto, tem que estar presente.

Antes tinha dinheiro sobrando e fazer festa com dinheiro dos outros era muito fácil, mas uma hora a conta chega.

Uma outra grave denúncia envolve investimentos no clube campestre, cerca de R$ 1,3 milhão em reformas inexistentes. O que foi apurado?
Na verdade, o clube com sede em Itabira tem um custo fixo alto. O que nós fizemos para saber o que foi e não feito com o dinheiro declarado foi contratar uma auditoria, que trabalha há dois meses.

Sabemos que não será fácil, pois eles não deixaram, ou não usavam, notas fiscais em muitas compras. É um absurdo. Um dos problemas era a terceirização do bar e da segurança, que custavam ao Metabase R$ 30 mil por mês e o bar, era arrendado por R$ 100 mês. Estas situações, com fortes indícios de superfaturamentos, estão sendo auditadas. Por outro lado, nossa postura foi de reassumir o bar e tudo que entra de receita volta para o clube.

Você contratou auditoria. Quando ela será concluída e quais medidas serão tomadas?
Ela deve ser concluída até novembro. Pode ter certeza, todas as medidas cabíveis, se comprovados os desvios, serão tomadas, em níveis cível e criminal.

Quanto ao sumiço de bens do clube?
Tínhamos 80 jogos de mesa, mas nenhum foi encontrado. Perguntamos e ninguém soube responder. Outra grave situação era em relação ao sistema de cadastro de sócios e finanças do Metabase, totalmente arcaico. O que, de certa forma, pode ter contribuído para desvios. Implantamos um sistema eletrônico de gestão para garantir transparência e evitar fuga de receita.

O clube contabiliza inadimplência?
Sim. Quando assumimos era de R$ 235 mil em atrasados. Já reduzimos para R$ 60 mil. Descobrimos uma lista de diretores que contraíram empréstimos junto ao Metabase. São vários valores, que estamos recuperando com diálogo amistoso com estes ex-diretores. Caso haja resistência, a questão será levada a Justiça. O ex-presidente tinha um empréstimo de R$ 100 mil, que ele devolveu no dia da posse.
Sabemos que tinham muitas coisas erradas, mas eles apagaram muitas coisas, não deixaram muitos vestígios, que poderão ser descobertos com a auditoria.

Quanto ao número alto de funcionários?
Cortamos 17 cargos assim que assumimos. Eram 78. A gestão passada inflou o Metabase de funcionários, na verdade, cabos eleitorais. Outro problema que assumimos tem a ver com o desequilíbrio psíquico do ex-presidente em relação a ex-funcionários, que buscam seus direitos na Justiça. Temos também informações de que muitos direitos trabalhistas foram fraudados em detrimento a terceiros, prejudicando gravemente o trabalhador, o que está sendo apurado.

Existia uma farra com dinheiro do associado?
Sim. No gabinete do presidente tem este frigobar, que antes custava ao associado mais de R$ 350 por semana. Eram bebidas caras, salada de frutas, castanhas e açaí, importados, entre outros coisas. Hoje, o gasto é zero. Carros para Belo Horizonte era de segunda a segunda, a maioria para atender cabos eleitorais. O custo foi alto. A mesma situação em relação as viagens, com passagens aéreas e diárias absurdas.

Porque estes descalabros não foram denunciados antes?
O povo foi deixando. Caberia uma denúncia ao Ministério Público, mas o associado acabou acostumando. Tem ex-membros que tinham um custo de vida incompatível com a renda.

Acredita que houve enriquecimento ilícito de ex-membros?
Com certeza. Vamos fazer o trabalho interno e acionar o Ministério Público. Vamos cobrar a devolução de recursos desviados.
Hoje, nosso lema é austeridade e transparência. Na entrada da sede do Metabase tem todos os balanços publicados, gráficos com a evolução dos gastos e receitas e preços do cardápio no bar do clube campestre. Nossa conta de energia, clube e sede, que era de R$ 20 mil por mês caiu para R$ 10 mil. Hoje, todos os telefones são digitais, o que reduziu a conta de R$ 8 mil por mês para R$ 900, e vamos continuar enxugando gastos, conscientizando nossos funcionários. Não vou ficar aqui para sempre, mas quero entregar uma gestão equilibrada para meu sucessor.

Quais são seus projetos em favor do associado?
No clube, por exemplo, estamos com um impasse. Temos projetos para a construção de uma quadra de área para prática de voleibol, piscina aquecida e mais um chalé. Só que nós estamos na rota da morte devido às barragens da Vale. Estamos em conversa técnica para saber qual o futuro de nossa sede campestre. Não é descartada uma mudança de local.

Em se tratando de gestão técnica do Metabase, vamos implantar um código de ética, que deverá ser assinado por todos os diretores e funcionários e vamos também reformular nosso estatuto.

O que você espera em se tratando de acordo coletivo com a Vale neste ano?
No ano passado, mesmo após a tragédia de Brumadinho, em janeiro de 2019, pagou-se a maior PLR da história. Tivemos também o superávit repassado aos aposentados, na Anglo American, mesmo com a empresa parada, conseguimos o pagamento de bônus de R$ 3 mil para cada funcionário e para fechar, registramos o menor reajuste do Pasa em cinco anos, antes de 18% e agora de 8% no ano. E já estamos em negociação para reduzir ainda mais o reajuste previsto para este ano. São conquistas históricas que devem ser mantidas neste ano-base de 2019 para 2020. Sabemos dos problemas enfrentados pela Vale em relação a barragens, mas vamos lutar para manter as conquistas.

Outro fator que gostaria de salientar é que o sindicato ampliou sua área de atuação. Existiam duas empresas mineradoras que discutiam os direitos dos trabalhadores em convenções estaduais. Trouxemos estas empresas para o sindicato, uma em Antônio Dias e outra em Guanhães, cada uma com média de 600 funcionários, que não sabiam o que era acordo coletivo.

Desafios e considerações finais?
O desafio é passar a crise e conscientizar o trabalhador da importância do sindicato. Sabemos que não será fácil, pois a questão sindical ganhou rótulo de instituição política, principalmente em se tratando da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em São Paulo, que virou braço do PT. O partido tem gente boa, mas a grande maioria se rendeu à corrupção, e isso manchou as instituições sindicais. Mas estamos escrevendo uma nova história e conquistando a confiança dos associados, que estão voltando. Nosso último balanço contabilizou cerca de 400 novos membros, entre aposentados, pensionista e trabalhadores na ativa, os quais acreditam em nós. Vamos caminhar e resgatar a confiança.