Matéria publicada na edição 677 do Folha Popular
Passados 20 dias da tragédia provocada com o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, cidades que abrigam este tipo de reservatório iniciaram discussões, colocando em dúvida laudos que atestam a segurança, projetos e autorizações de órgãos ambientais, isso porque em Brumadinho, mesmo estando dentro dos patrões de segurança e licenciada, a barragem se rompeu no dia 25 de janeiro, deixando um rastro de destruição com 166 pessoas mortas, 155 desaparecidas, cujos corpos estão sendo procurados, e 138 desabrigadas, conforme balanço até quarta-feira (13)
Entre as cidades que promovem reuniões e manifestações estão Santa Maria de Itabira, Conceição do Mato Dentro, Itabira, São Gonçalo do Rio Abaixo, Barão de Cocais, Ferros, entre outras que, se não abrigam barragens, estão na rota de um provável mar de lama.
Em Itabira, uma curiosidade é a barragem, pouco citada, dentro da mina de Conceição e logo acima do condomínio da Vila Técnica da Conceição “Clubinho” e Real Campestre Clube. Esta estrutura, em operação e com devidas autorizações e laudos de segurança, armazena 35,8 milhões de m³ de rejeitos (três vezes maior que a barragem de Brumadinho).
Na roda da barragem estão também vários bairros, como Bálsamos, Conceição de Baixo, Fênix, João XXII e a parte baixa do Gabiroba.
Outras barragens
Em números, Itabira abriga 16 barragens. As maiores são a do Pontal, com 227 milhões de m³ de rejeito, Itabiruçu, com 131 milhões de m³ (volume vai subir para 222 milhões com alteamento, que passa de 836 metros para 850 metros), Conceição, 35,8 milhões de m³, Santana, 15,7 milhões de m³, Rio de Peixe, 13,8 milhões de m³. Todas elas estão classificadas como de baixo risco, mas com alto potencial de danos.
Barragens no estado
Em Minas Gerais, por determinação judicial, pelo menos 20 barragens com método construtivo a montante, mesmo usado para construir as barragens em Mariana e Brumadinho, foram suspensas, a maior parte, já fora de operação e já passando por processo de descomissionamento e reinserção à natureza.
São Gonçalo
Na microrregião, a barragem em Barão de Cocais, a Laranjeiras, que atende o complexo Brucutu de São Gonçalo do Rio Abaixo, continua suspensa conforme determinação da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) de Minas Gerais. Os motivos da suspensão correm em segredo. Sabe-se apenas que existe uma ação do Ministério Público Estadual (MPE) contra a utilização da Laranjeiras.
A mineradora, que produziu no ano passado 30 milhões de toneladas de minério de ferro na usina de Brucutu, entende que não existe fundamento técnico e/ou jurídico ou avaliação de risco que justifique a ação de paralisação da Laranjeiras e diz, em nota, que adotará as medidas administrativas e judiciais cabíveis quanto à referida decisão.
Gongo Soco
O município de Barão de Cocais também passa por um momento conturbado devido à alta classificação de risco de rompimento da barragem Sul Superior, na desativada mina de Gongo Soco. Cerca de 400 moradores das comunidades de Socorro, Tabuleiro, Piteiras e Vila do Gongo tiveram que deixar suas casas na madrugado de sexta-feira (8), sob sirenes e áudio de alerta, devido ao potencial risco de rompimento da barragem, classificada em nível II em uma escala que vai de 0 a 3.
Atualmente, estes moradores continuam em casas de parentes ou em hotéis pagos pela Vale. Uma empresa internacional, contratada pela Vale, concluiria na quarta-feira (13), estudos quanto à segurança da barragem. Só após os trabalhos e avaliações de órgãos fiscalizadores é que a área poderá ser liberada ou não.
Além das famílias, criações também foram levadas para uma fazenda na região, locada pela Vale.
Para evitar arrombamentos das casas na área de risco, policiais militares foram enviados para a região.
Outra preocupação é quanto ao acervo cultural na região, no caminho para a fazenda Gongo Soco, como as ruínas do palácio do Barão de Catas Altas e o arco do triunfo, por onde passaram Dom Pedro I e Dom Pedro II com suas comitivas. No local, existem ainda ruínas de uma antiga cidadela inglesa, do século XVIII. E dentro da fazenda Gongo Soco, está a Capela de Santana, construída, restaurada e conservada pelos proprietários. Pelas informações, parte do acervo com condições de ser deslocado, estaria sendo levada para uma área segura.
Gerente vai à Câmara dia 19 falar das barragens
O gerente-geral da Vale, Rodrigo Chaves, vai participar da reunião da Câmara Municipal de Itabira na próxima terça-feira (19), a partir das 14h.
O convite é uma solicitação do sindicalista e vereador Andre Viana (Pode). Em resposta, Rodrigo Chaves entendeu a importância do encontro e a necessidade de esclarecimentos. O executivo adiantou ainda que será criado um grupo de trabalho, que apresentará nos próximos dias um plano para elevar o padrão de segurança das barragens.
“É extremamente importante a presença do Rodrigo Chaves na Câmara. A população itabirana está com os nervos à flor da pele desde o rompimento da barragem em Brumadinho. A situação em Barão de Cocais piorou a situação, afinal, tem muita gente falando pelos cotovelos, sem conhecimento de nada, espalhando “fake news” e é hora de colocarmos tudo às claras, em pratos limpos”, diz Andre Viana.