Os desafios da Itaurb, empresa referência em reciclagem de Itabira que coleciona prejuízos

Diretor-presidente Sérgio Amaral afirma que pretende equilibrar o caixa da autarquia com uma gestão eficiente, rigoroso controle de gastos e aumento da produtividade

A ideia de privatizar/terceirizar os serviços prestados pela Empresa de Desenvolvimento de Itabira (Itaurb), ventilada no início do atual governo, não vingou, segundo o diretor-presidente da autarquia, Sérgio Amaral. Portanto, não haverá privatização ou extinção da companhia, criada em maio de 1985.
Poderá, sim, haver terceirização de alguns serviços, visando aumentar a eficiência. No mais, o grande objetivo da nova administração é estabilizar a situação financeira da empresa, buscando fechar no azul os balanços historicamente vermelhos.


Em Itabira ouve-se muito falar que a Itaurb só dá prejuízos. Esse pode ter sido, inclusive, um dos motivos da discussão, no início do governo, de uma possível extinção da empresa. E de acordo com as demonstrações de resultado de exercício (DREs) dos últimos anos, divulgadas no site “itaurb. com.br”, as contas realmente têm fechado no vermelho.

Resultados negativos

Em 2016, a Itaurb teve prejuízo de R$ 64,4 mil. Em 2017, o prejuízo aumentou para R$ 2,9 milhões, agravado principalmente pelo aumento dos custos de serviços vendidos. Em 2018, o déficit recuou um pouco, para R$ 2,2 milhões. Os dados de 2019 ainda não foram disponibilizados no portal da transparência.
Em média, a empresa fatura por ano R$ 34 milhões, conforme os demonstrativos oficiais – basicamente dinheiro recebido da Prefeitura pela limpeza urbana. Do total da receita, tirando o custo dos serviços vendidos, sobram cerca de R$ 7 milhões, valor que não costuma cobrir nem os gastos administrativos. Mais uma despesa tributária aqui, uma financeira ali, o lucro líquido no final das contas se transforma em prejuízo líquido.
De acordo com Sérgio Amaral, o grande problema é o número elevado de funcionários (muitos concursados, que não podem ser dispensados) e a baixa produtividade. Apesar dos números, ele afirma que todos os servidores e fornecedores estão recebendo em dia. Ainda conforme o diretor-presidente, o passivo que vem se acumulando com impostos e outras despesas se aproxima de R$ 48 milhões.

Em busca de resultados
Recentemente, a diretoria fez um Programa de Desligamento Voluntário (PDV), que ajudou a enxugar a folha de pagamento. Outras estratégias estão sendo estudadas para otimizar a prestação de serviço, como novas rotas para os veículos coletores e novos sistemas de controle de custo operacional.

Como Itabira é uma cidade de muito morro, a ideia é traçar itinerários em que o caminhão desça carregado ao invés de subir – gerando economia de combustível. “Estamos dentro de um planejamento, usando a tecnologia e investimento. Estamos ajeitando a casa, organizando a coleta, Itabira vai ficar uma cidade limpa”, afirma Sérgio Amaral.

Quem anda à noite por Itabira provavelmente já deve ter visto um caminhão-vassoura limpando as ruas. Antes dele, sempre passa um funcionário com um “canhão de vento” soprando a sujeira do passeio para onde o caminhão possa alcançar. Só com esse equipamento, segundo o diretor-presidente, a Itaurb economizará R$ 1,2 milhão por ano.

Outros maquinários novos que aumentem a produtividade e a eficiência devem ser comprados ou contratados nos próximos meses. Considerando aquele prejuízo anual, que gira em torno dos R$ 2 milhões e pouco, é possível que nas próximas demonstrações contábeis os números sejam mais saudáveis.

Contêiner
Dentro do rol de inovações, está também a colocação de contêineres na região central da cidade e nos locais onde se situam os grandes geradores de lixo, como restaurantes, supermercados, padarias, etc. Hoje, o lixo (em grande quantidade) gerado por esses estabelecimentos é acondicionado em sacos, às vezes acima do limite de peso, que se rompem fácil quando o gari vai recolher, gerando muito retrabalho. Com o contêiner haverá caminhões adaptados com “braços mecânicos” que evitarão esse problema.

Triagem
Melhorias também devem ocorrer no centro de triagem, situado na região do bairro Bela Vista. “Houve mudança no perfil do lixo. Em 1990 tínhamos um aproveitamento do lixo e hoje isso avançou. Existem novas formas de aproveitar melhor aquilo lá. Estamos com uma grande organização nesse setor”, afirmou Sérgio Amaral.
Conforme o presidente, atualmente, cerca de 16 toneladas de recicláveis são recolhidos por dia, dos quais 70% são reaproveitados após o processo de separação. Todo o material é vendido para indústrias do Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo.

Referência nacional
Apesar dos desafios, Itabira ainda é referência no Brasil em coleta seletiva, graças à Itaurb. Criada em 1985, a empresa é responsável por todos os serviços de limpeza pública municipal, como varrição, capina, coleta e destinação dos resíduos, além de obras e vigilância em prédios públicos.
A coleta seletiva foi implantada em dezembro de 1991 como um projeto piloto que contemplava quatro bairros. Atualmente, abrange toda a cidade pelo sistema porta a porta. Por dia, a empresa recolhe 76 toneladas de lixo orgânico, 16 toneladas de recicláveis, 23 toneladas de entulho e varre 280/km de ruas. São números expressivos, que podem ficar ainda mais bonitos corroborados por balanços equilibrados.