Organizadores do Carnaval de BH reivindicam sambódromo

Belo Horizonte foi ainda o quinto destino mais procurado do Brasil nesse período festivo 2023

O Carnaval de Belo Horizonte em 2023 mostrou dados grandiosos. Foram 11,2 milhões de pessoas circulando no município, sendo 5,25 milhões foliões, que geraram R$ 1,5 bilhão de renda, além de 20 mil empregos diretos e indiretos. “Com esses números grandiosos, não é hora de pensar num sambódromo para a cidade?”.

A apresentação desses resultados e o questionamento, feitos pelo deputado Mauro Tramonte (Republicanos), resumiram as principais opiniões trazidas à audiência da Comissão de Turismo e Gastronomia que discutiu o tema nesta quinta-feira (4/5/23). O parlamentar foi o autor do requerimento pela reunião, que trouxe à Assembleia Legislativa de Minas Gerais órgãos dos governos local e estadual e representantes da iniciativa privada e de entidades envolvidas no Carnaval de Belo Horizonte.

Mauro Tramonte acrescentou que a festa momesca na cidade foi a segunda mais pesquisada na internet, com mais de 300 reportagens, comprovando o grande interesse, superando outros carnavais brasileiros mais tradicionais. Belo Horizonte foi ainda o quinto destino mais procurado do Brasil nesse período festivo, sendo que 240 mil pessoas chegaram por Confins e 180 mil pela rodoviária e fizeram a ocupação hoteleira alcançar 80%. Além disso, houve queda no índice de crimes de furto e roubo, homicídio e importunação sexual.

Maior investimento

Mesmo com estatísticas animadoras, os representantes do terceiro setor reivindicaram melhorias para as próximas edições da festa, com destaque para a construção do sambódromo. Márcio Antunes, presidente da Liga das Escolas de Samba de Belo Horizonte, comparou o carnaval local com o do Rio de Janeiro (RJ), para concluir que a grandiosidade de lá só é possível porque os governos estadual e municipal, participam. E no caso da Capital mineira, só neste ano, o Governo de Minas se engajou.

Ele reclamou do estranhamento da sociedade mineira quando alguém defende a criação do sambódromo. “O maior sambódromo do Brasil e do mundo é o de Manaus, fundamental para que o Carnaval se torne um produto turístico”, avaliou. Ele ainda propôs que o Estado atue na divulgação de roteiros turísticos que podem ser explorados paralelamente à festa de Momo: “O turista deve saber que, no mesmo período em que participa do Carnaval de BH, pode percorrer 20 km e chegar a Inhotim, ou 100 km e estar em Ouro Preto, e assim por diante”.

Ele também defendeu o planejamento antecipado da festa. “Turismo é data! Tem que agendar as coisas com antecedência. E as escolas de samba daqui ainda não sabem onde será o desfile de 2024; no Rio, elas sabem”, comparou. Por fim, deixou um recado às empresas para que invistam no carnaval local. “Construir um carnaval na favela muda a realidade de muita gente”, concluiu.

Álvaro Zulu, presidente da Associação dos Blocos Afro (Abrafo), defendeu maior representatividade nas instâncias que definem o planejamento do carnaval, de modo que a diversidade das pessoas que promovem o evento seja contemplada. “Isso transborda a perspectiva do turismo e da gastronomia; temos que ir além do setor privado, porque ele tende a degringolar o setor cultural”, avaliou, defendendo maior participação das entidades culturais que fazem a festa acontecer.

Também defensor do sambódromo mineiro, Nonato do Samba, compositor e carnavalesco do Coletivo Mestre Conga, que reúne mais de 70 sambistas, pediu apoio financeiro e logístico para os sambistas mineiros. Destacou que o sambódromo seria um ótimo espaço para dar vazão a essa cultura, além de abrigar outras atrações culturais, como shows e feiras, abrindo espaço também para esporte e educação. Na opinião dele, o Carnaval de 2023 ficou muito concentrado na região Centro-Sul e vários artistas não puderam participar por falta de recursos.

Capacitação

Pegando esse gancho, Tetê Avelar, do Bloco Saudade, confirmou que a descentralização do carnaval é muito importante. E pediu que os organizadores pelo setor público tenham um olhar mais generoso para os blocos que se inscrevem nos editais. “Neste ano, perdemos o recurso por falta de um CPF não preenchido, porque são pessoas simples que se inscrevem”, lamentou.

Nesse sentido, Gêo Cardoso, presidente da Liga Belorizontina de Blocos Carnavalescos, reivindicou a capacitação do pessoal dos blocos. Ainda cobrou a alteração do Código de Posturas da Capital, porque o atual tem impedindo que as marcas se mostrem no Carnaval e em outros eventos.

Trios elétricos

Já Kerison Lopes, presidente da Liga Santa dos Blocos de Rua de Santa Tereza, que representa 24 agremiações, advertiu que o carnaval não é um evento de 4 dias apenas, e sim, um movimento cultural que acontece o ano todo. “Por isso, o poder público tem que dar atenção e incentivo. Fico impressionado com a distância entre a importância do carnaval de Belo e o investimento tão pequeno, especialmente da iniciativa privada”, analisou.

O dirigente fez um apelo aos organizadores para que melhorem a sonorização do carnaval de Belo Horizonte, cidade que não tem nenhum trio elétrico. Essa lacuna, segundo ele, permitiu que se formasse um cartel de trios de fora, que cobraram valores muito altos dos blocos sem oferecer uma qualidade sonora condizente.

PBH arcou com maiores custos da festa

Marah Costa, diretora de Eventos da Belotur, disse que fazer o carnaval deste ano, o primeiro pós-pandemia, foi um grande desafio. De mais de 500 desfiles cadastradas, foram realizados cerca de 300. A Prefeitura de Belo Horizonte destinou aproximadamente R$ 5 milhões para escolas de samba e blocos.

Toda a infraestrutura para o evento, englobando gradis, banheiros químicos, estruturação da Secretaria de Saúde, entre outros, ficou ao custo de R$ 12 milhões e a PBH teve que arcar com tudo, pois não contou com patrocínio de empresas, como em outras edições.

Ela comemorou o fato de o evento ser veiculado nos três Fantásticos especiais de Carnaval, graças a uma parceira com a TV Globo, que garantiu a transmissão em rede aberta para mais de 800 municípios mineiros. “Promoção e valorização. A gente vem galgando degraus e colhendo frutos”, comemorou.

Edital da Cemig

Por sua vez, a secretária adjunta de Estado de Cultura e Turismo, Milena Pedrosa, fez o compromisso de continuar apoiando o Carnaval na Capital. Destacou o edital da Cemig para apresentações no Espaço Cultural da Liberdade. E informou que foi aprovado pelo governo a a criação de uma política pública para o Carnaval, tendo já sido criado um grupo de trabalho para dar início às discussões.

Sérgio de Paula, subsecretário de turismo da Secretaria, enfatizou que a gastronomia mineira é o item mais importante da hospitalidade do Estado e contribui para o turismo em Minas. Informou ainda que mais de 400 municípios participaram do carnaval da liberdade, que enfatizou a folia; e outros 400 participaram do carnaval da tranquilidade.

Gastronomia mineira

Marcus Vinícius Januário, presidente da Federação dos Circuitos Turísticos de Minas Gerais (Fecitur), também valorizou o planejamento da festa com maior antecedência. “Minas se destaca no seu empreendedorismo e sabemos fazer bem feito. Receber bem o turista faz com que ele volte. Foi o que Belo Horizonte fez, oferecendo hospitalidade e segurança. Ele ainda valorizou a gastronomia, qualificando-a como carro-chefe: “O turista vem para aproveitar o carnaval e também apreciar as delícias da culinária mineira”.