*Marcelo Apolônio Santos
Michel Temer assumiu a Presidência da República há pouco mais de dois anos. Não foi eleito pelo povo. Chegou ao poder através de um golpe parlamentar avalizado pelo poder Judiciário, com amplo apoio dos grandes meios de comunicação, em especial da rede Globo. A deposição de Dilma também foi unanimidade entre os grandes empresários e atraiu parcelas consideráveis da classe média. Obviamente, não dá para isentar o PT da irresponsabilidade de permitir que Michel Temer ocupasse a linha de sucessão presidencial. Em nome de um projeto de poder, Lula e Dilma se aliaram aos setores mais podres do PMDB (Renan Calheiros, Romero Jucá, Sarney, Eduardo Cunha e Jader Barbalho) e do PP (partido com o maior número de políticos investigados por corrupção).
Entretanto, é visível que o programa econômico aplicado por Temer é exatamente o plano de governo apresentado por Aécio Neves (PSDB), derrotado nas urnas. A população não votou em Dilma, mas em um projeto de políticas que acreditou ser menos pior do que as propostas apresentadas por Aécio e implementadas por Michel Temer – corte nos investimentos em educação, saúde e segurança; desmonte das leis trabalhistas; aumento da idade para aposentadoria (que acabou não sendo aprovada) e, principalmente, mudança na política de exploração e refino do petróleo no Brasil.
Com Dilma, a Petrobrás vendia gasolina, diesel e gás com base nos custos internos de produção. Com Temer, a Petrobrás passou a ser gerida pelo tucano Pedro Parente, que implementou uma política de reajustes diários dos combustíveis, baseados na cotação internacional do barril de petróleo.
Além disso, Pedro Parente privatizou parte da empresa como refinarias, dutos de distribuição e plataformas de petróleo, assinou um “acordo” de indenização a acionistas norte-americanos antes mesmo que a Justiça julgasse a causa e redução a capacidade de refino nas refinarias que foram mantidas sob controle da empresa. Segundo a Federação Unificada dos Petroleiros, atualmente, as refinarias da Petrobrás operam com apenas 68% da capacidade. Ou seja, Michel Temer e Pedro Parente reduziram intencionalmente a produção interna de derivados de petróleo para aumentar a importação e elevar o preço dos combustíveis, atendendo exclusivamente os interesses dos especuladores e acionistas das bolsas de valores, a maior parte estrangeiros. Alguns dizem que Parente mudou a política de preços da Petrobrás para cobrir o rombo da corrupção dos governos do PT, ou seja, acreditam que o governo Temer é um exemplo de honestidade.
Quando Temer usurpou o poder, a gasolina custava em média R$ 3,64, o diesel R$ 3,02 e o gás de cozinha R$ 55. Pouco mais de dois anos depois, o gás de cozinha é vendido a R$ 80, a gasolina a R$ 5 e o diesel chegou a quase R$ 4, o que motivou a greve dos caminhoneiros que se iniciou no dia 21 de maio e, após dez dias, provocou o maior desabastecimento da história do Brasil. Nem durante a Segunda Guerra Mundial o brasileiro passou por uma privação tão grande. Dez dias sem transporte rodoviário expôs a fragilidade da economia brasileira sob a gestão neoliberal de Michel Temer.
A maior crise de abastecimento da história do Brasil ocorreu em um país autossuficiente em petróleo, que fez a maior descoberta de jazida no século XXI e com uma Petrobras gerida como empresa privada. A brincadeira de Michel Temer e Pedro Parente, que engordou o bolso de meia dúzia de acionistas custará ao país mais de R$ 100 bilhões. Somente o agronegócio estima perdas de mais de R$ 15 bilhões. A indústria calcula em R$ 6 bilhões o prejuízo, e o comércio afirma que perdeu quase R$ 30 bilhões. A união, os estados e os municípios, que já estão quebrados, deixaram de arrecadar mais de R$ 40 bilhões em impostos. Muitos empresários terão dificuldades para pagar salários nos próximos meses, o que poderá resultar em demissões.
O trauma da greve dos caminhoneiros não será superado este ano.
Para piorar, Temer ofereceu como solução aos caminhoneiros a redução de impostos para reduzir o preço do diesel, mantendo intacta a política de reajustes diários que levou o país ao apagão nos transportes. Pedro Parente até perdeu o cargo de presidente da Petrobras, mas Temer insiste em sua política de preços. A população paga caro pela ruptura da ordem institucional do país. E ainda teremos que conviver com Temer na Presidência por mais sete meses, já que, mesmo sem apoio popular, o presidente goza de prestígio junto ao sistema financeiro e aos grandes meios de comunicação. Quantos bilhões ainda serão arrancados das costas do povo.
*Professor em Barão de Cocais
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