“Stachytarpheta meninii P.H.Cardoso” é uma planta aromática, com folhas e inflorescências pegajosas. No entanto, a descoberta também desperta preocupação com ameaça de extinção
19/12/2023 – Uma nova espécie de planta foi descoberta nas paisagens da Cadeia do Espinhaço, no município de Serro, na região Central de Minas. A Stachytarpheta meninii P.H.Cardoso foi descrita em uma publicação do periódico científico “Nordic Journal Of Botany” e já vem sendo objeto de admiração e preocupação por ser considerada criticamente ameaçada de extinção.
Com apenas dois registros de coleta conhecidos até o momento, a espécie foi encontrada perto da área protegida do Monumento Natural Estadual Várzea do Lajeado e Serra do Raio. A descoberta ocorreu durante uma expedição do Plano de Ação Territorial (PAT) Espinhaço Mineiro para conservação de espécies ameaçadas de extinção.
O trabalho de identificação da nova espécie foi conduzido por uma equipe de pesquisadores liderados por Pedro Henrique Cardoso, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em colaboração com Diego Rafael Gonzaga, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e Marcelo Trovó, também da UFRJ.
Características
De acordo com os pesquisadores, a Stachytarpheta meninii revela-se uma planta aromática, com folhas e inflorescências pegajosas, brácteas (folhas modificadas) tão longas quanto o cálice, e corola azul com um tubo curto.
A pesquisa destaca que, apesar de seu habitat estar formalmente protegido, a Stachytarpheta meninii já sofre as consequências da interferência humana, especialmente devido à presença de gado. Em uma única população conhecida, os pesquisadores encontraram galhos de indivíduos adultos quebrados e caídos no chão, enquanto alguns indivíduos jovens estavam pisoteados. Essa constatação adiciona uma urgência adicional à necessidade de conservação.
História
A história por trás da descoberta da Stachytarpheta meninii é tão intrigante quanto a própria planta. O pesquisador Pedro Henrique Cardoso conta que reconheceu a planta como uma espécie nova ao analisar um espécime depositado no herbário RB, com duplicata no CESJ.
“A expedição foi essencial para encontrar a população da S. meninii, coletar novos espécimes e obter informações valiosas sobre seu habitat e ameaças incidentes”, disse Pedro Cardoso.
O nome da nova espécie homenageia o professor Luiz Menini Neto, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e coorientador de Pedro Henrique Cardoso desde a graduação. A escolha do epíteto reflete o respeito e apreço pelo professor, reconhecendo sua influência na jornada acadêmica de pesquisador e seu impacto duradouro na botânica brasileira.
Gabriela Brito, coordenadora do PAT Espinhaço Mineiro e analista do Instituto Estadual de Florestas (IEF), destaca que a descoberta da S. meninii ressalta a importância contínua da pesquisa científica na conservação da biodiversidade, enquanto também sublinha os desafios enfrentados pelas espécies raras e micro endêmicas. “Agora é preciso traçar as estratégias de conservação e manejo para a nova espécie e seu habitat”, pontua.
O PAT
O IEF foi convidado a participar do Projeto Pró-Espécies: Todos contra a Extinção, aceitando o desafio de coordenar a elaboração e execução do Plano de Ação Territorial – PAT para Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção para o território definido como Espinhaço Mineiro.
Os Planos de Ação Territoriais (PATs), assim como os Planos de Ação Nacionais (PANs), são instrumentos nacionais para a conservação das espécies ameaçadas de extinção em cumprimento a metas nacionais e internacionais de biodiversidade.
No âmbito do Projeto Pró-Espécies, estes planos consideram as espécies encontradas na categoria de risco Criticamente em Perigo – CR e atualmente não contempladas por nenhum instrumento de conservação oficial – definidas como CR Lacunas.
Diferente dos PANs, o PAT objetiva trazer um enfoque territorial e sistêmico, englobando a diversidade, as necessidades e oportunidades de cada território, com envolvimento e mobilização de uma rede de atores locais dos diversos setores.
Além disso, possibilita também impactos positivos sobre outras espécies no local, mesmo àquelas ainda desconhecidas pela ciência, definidas como “espécies beneficiadas”.
O território do PAT Espinhaço Mineiro abrange uma área com 105.251 quilômetros quadrados, perpassando os biomas Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. São alvo desse PAT 24 espécies CR Lacunas, sendo 19 espécies da flora, 3 espécies de peixes e 2 espécies de invertebrados, entretanto, os efeitos positivos das ações do plano também serão refletidos em pelo menos 1787 outras espécies ameaçadas presentes no território. Conheça mais sobre o PAT e o projeto Pró-Espécies neste link.