O parto só foi feito pelo hospital após exames comprovarem que a criança havia morrido e a gestante apresentar queda de pressão
Médicos e demais envolvidos no caso de violência obstétrica ocorrido no Hospital Municipal Carlos Chagas, na madrugada do dia 3, que resultou na morte de um recém-nascido e retirada do útero da mulher, terão que prestar esclarecimentos para o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) em Itabira. Em nota encaminhada ao Folha Popular pela Assessoria de Imprensa, a Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde de Itabira instaurou um procedimento para apuração do caso, com a solicitação do prontuário da paciente. Após a apresentação dos documentos, serão ouvidas as pessoas envolvidas.
O caso ocorrido com Ângela Maria de Almeida, veio a público depois que a irmã da vítima Tânia Maria de Almeida usou o seu perfil no Instagram para denunciar o que chamou de violência obstétrica.
No vídeo, Tânia Maria conta de forma detalhada as ocorrências que culminaram com a morte do recém-nascido e a internação em leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no HMCC de Itabira da mãe, que teve o útero retirado e o fígado partido durante os procedimentos para retirada do bebê. Para ela, os problemas foram causados pela demora e negligência no atendimento médico à irmã. Segundo ela, Ângela de Almeida teve de ser submetida às pressas a uma cesariana e a demora teria causado a morte do bebê.
Ela disse que Ângela de Almeida deu entrada no hospital no dia 3, se queixando de dores no peito e formigamento no braço direito. Mesmo estando com 40 semanas de gestação e tendo chegado à unidade hospitalar por encaminhamento do ginecologista que fazia seu pré-natal, ela foi colocada em um leito de UTI para monitoramento, onde deveria permanecer por 12 horas. O parto só foi feito após exames comprovarem que a criança havia morrido e a gestante apresentar queda de pressão.
Com o agravamento, a médica decidiu fazer uma cesariana de emergência. Durante a cirurgia, foi detectado sangramento no fígado da paciente, o que exigia nova intervenção.
Ela conta no vídeo que a obstetra mandou chamar o cirurgião plantonista, já que o novo problema não era de sua alçada, entretanto, o plantonista não estava no hospital. Mesmo sem conseguir conter a hemorragia, a obstetra optou por fechar a mulher, que precisou ser aberta novamente com a chegada do cirurgião.
Numa mesma noite, Ângela de Almeida foi submetida a três cirurgias e perdeu o útero, devido ao sangramento. E agora encontra-se internada.
Diante dos acontecimentos e buscando respostas para tentar entender o que estava acontecendo, Tânia Maria e o marido chamaram a Polícia Militar e registraram um boletim de ocorrência.
Eles também apresentaram uma denúncia ao Ministério Público.
Violência obstétrica ganhou repercussão na Câmara
A presidente da Comissão dos Direitos da Mulher, vereadora Rosilene Félix Guimarães “Rose Félix” (MDB), mostrou indignação com o fato. Na reunião da terça-feira (9), ela aprovou na Câmara Municipal um requerimento. No documento, ela solicita informações e documentos à secretária municipal de Saúde, Luciana Sampaio.
Vereadora Rose Félix solicita o prontuário da parturiente Ângela Maria de Almeida
Ela quer saber informações sobre a taxa de mortalidade de mães e bebês nos últimos três anos no HMCC, com idade gestacional de 37 semanas, até o sétimo dia após o parto. Solicita também o prontuário da parturiente Ângela Maria de Almeida.
Rose Félix também participou da reunião do Conselho Municipal de Saúde, onde cobrou a atuação do colegiado sobre o ocorrido e afirmou aos conselheiros que exigirá todos os documentos relacionados.
O drama sofrido por Ângela Maria de Almeida causou comoção em outros vereadores. O emedebista Neidson Freitas disse que é preciso investigar se este caso é fato isolado ou se é algo que vem ocorrendo com frequência.
O presidente da Câmara, Weverton Leandro Santos Andrade “Vetão” (PSB) endossou o teor do requerimento da vereadora. “A Fundação São Francisco Xavier tem de vir a público prestar esclarecimentos”, cobrou.
Líder do prefeito na Câmara, o vereador Júber Madeira Gomes (PSDB), informou que a Prefeitura já instalou uma comissão para investigar as denúncias.
Já o vereador Bernardo Rosa (Avante), vice-líder do prefeito, citou que o Hospital Carlos Chagas prioriza o parto normal e “só faz cesariana quando não há mais jeito, aos 45 minutos do segundo tempo”, criticou.
Ele ainda aproveitou para dar um depoimento, contando que teve a oportunidade de levar a mulher para ter filho lá, recentemente. Por não concordar com as regras, optou por levar a mulher para uma maternidade particular. Ele reconheceu, entretanto, que nem todos têm condição financeira para pagar por um parto.
O petebista Heraldo Noronha Guimarães contou que a demora na realização do parto, deixou um sobrinho com sequelas no nascimento.
Já o vereador Sidnei Marques Vitalino Guimarães “Sidney do Salão” (PTB) propôs a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias e propor melhorias ao hospital. Mas os vereadores consideram a proposta precipitada.
- Nota da FSFX
Devido à repercussão do caso, a Fundação São Francisco Xavier (FSFX) – que administra o HMCC – emitiu uma nota se defendendo das acusações e relatando o ocorrido. Ao Folha Popular, ao ser questionado sobre a situação, o assessor de imprensa, Bráulio disse que a instituição já havia se posicionado por meio desta nota e acrescentou que o hospital não faz comentário a respeito da saúde de seus pacientes sem autorização da família.
- Leia a nota na íntegra
“Em razão da divulgação ocorrida em redes sociais nos últimos dias e noticiada por um veículo de comunicação da região de Itabira, a respeito da paciente gestante cujo bebê nasceu sem vida, a Fundação São Francisco Xavier, responsável pela administração do Hospital Municipal Carlos Chagas, informa que:
• A gestante deu entrada na unidade hospitalar com queixa de dor torácica e falta de ar e foi, imediatamente, atendida na maternidade e avaliada. Foram solicitados exames complementares e encaminhada para a Unidade de Terapia Intensiva para tratamento e monitoramento;
• após evolução desfavorável do quadro de saúde da gestante, foi necessária a realização de cesárea de urgência quando, devido a graves complicações, foi constatado que o bebê já estava sem sinais vitais.
Matéria publicada na edição 746 do Folha Popular