Mortes por Covid divergem da razoabilidade estatística

Em Itabira, por exemplo, o número de óbitos em 2020 aumentou 1% em comparação com 2019 – Veja box com dados da microrregião

Os números de mortes no Brasil, estados e municípios, lançados no portal “https:/transparencia.registro civil.org.br/registros” despertam curiosidade se comparados aos óbitos correntes de anos anteriores à Covid-19.

Em 2017, por exemplo, o total de óbitos registrados no cotidiano nacional foi de 1.071.496. Se comparado ao ano de 2018, quando morreram 1.199.320 pessoas no Brasil, o aumento foi de 127.824, ou 12%. Outro espelho é 2019, quando foram expedidos 1.266.842 registros de óbito. Frente a 2018, foram 67.522 mortos a mais, aumento de 5,6%.

Já em 2020, quando teve início a pandemia, até dezembro, 1.456.113 brasileiros morreram por causas diversas, 189.271, a mais do que em 2019, ou 14%.

Deste total de 1.456.113 brasileiros mortos em 2020, conforme o portal “covid.saude .gov.br” 194.949 foram vítimas da Covid-19.

A falta de razoabilidade aparece se levada em consideração a média habitual de registro de óbitos de um ano a outro, que sobe naturalmente 10% em nível nacional, bem próximo das mortes em pleno ano da Covid-19, em 2020.
A pergunta sem resposta é até onde os óbitos por Covid-19 refletiram, de forma clara, nas estatísticas de mortes no Brasil?

Realidade em Itabira

Em Itabira, no dia 26 de abril, a reportagem do Folha Popular enviou para as assessorias de Comunicação dos hospitais Carlos Chagas (HMCC) e Nossa Senhora das Dores (HNSD), questionamentos em relação às principais causas de mortes de itabiranos nos anos de 2018 a 2020 e três primeiros meses de 2021.

O objetivo seria comparar os números em relação às doenças que mais provocaram óbitos nestes anos com as mortes por infecção viral da Covid-19. Mesmo insistindo, as informações não foram enviadas até o fechamento desta edição.

Ainda em relação a Itabira, o portal de registro civil aponta que em 2018 foram 648 óbitos por causas diversas. Se comparada a 2019, quando ocorreram 687 mortes, a taxa cresceu 6%. O que chama a atenção são os números de 2020. Neste ano da pandemia, a cidade perdeu 694 itabiranos, aumento de apenas 1% em relação a 2019.

Outra cidade que merece atenção devido aos números é João Monlevade. Em 2018 foram 495 óbitos, em 2019; 513 e no ano da pandemia, 525, ou seja, aumento de 2,4%.
Em situação inversa quanto ao aumento de óbitos, aparece Morro do Pilar. Em 2018, foram registrados 27 óbitos no município. Em 2019, foram 30 e em 2020, o número caiu para 22, oito mortes a menos no ano da maior pandemia global.

Avaliação de instituto

O diretor do Data MG Instituto de Estudos e Pesquisas, Adilson Simeão, acessou os dados nas plataformas governamentais. “Avaliamos estes números com racionalidade, percebemos que nos últimos anos não houve, em Itabira principalmente, um aumento considerável nos óbitos no município. Como dito, em 2020, o crescimento das mortes foi de 1% em comparado com 2019, o que está dentro da média histórica do município”, avalia Adilson Simeão.

Números sobem no ápice da crise sanitária

Para 2021, os números seguem sendo lançados. Contudo, nos meses de março e abril o Brasil registrou o epicentro da crise sanitária. Em números gerais, conforme o portal de Transparência do Registro Civil, até 11 de maio, cidade como Catas Altas já havia registrado o mesmo número de mortes do ano anterior, 28. Em Itabira, até a data, já eram 521 mortos, bem perto dos 694 óbitos registrados em 2020. Por outro lado, Bom Jesus do Amparo, Ferros, Passabém, São Gonçalo do Rio Abaixo estão dentro da média de óbitos habituais como se estivessem em um ano sem pandemia.