Itabira recua na elucidação criminal com fechamento do presídio, aponta delegado

Tiros em direção a cinco pessoas no Nova Vista, com um morto, evidenciam ainda mais a escalada da criminalidade na cidade

  • MAIS BANDIDOS SOLTOS, MAIS CRIMES

“Itabira é uma das poucas cidades no estado de Minas Gerais que enfrentou um aumento dos seus números na criminalidade na passagem de 2021 para 2022”. A fala é do vice-governador do estado, Mateus Simões, em visita à cidade, em fevereiro.
Este aumento está relacionado à queda do trabalho de investigação para a elucidação de crimes no município, deixando mais bandidos livres pelas ruas, cometendo mais crimes todos os dias.

Embora não afirme que a desativação ou falta de um presídio na cidade esteja colaborando para o aumento dos índices criminais, o delegado regional de Polícia Civil, Helton Cota Lopes, afirma que os detetives estão tendo que deixar de fazer seus trabalhos para fazer o serviço dos agentes penitenciários. O desvio de função atrasa as investigações e a apuração dos crimes registrados na sua jurisdição.

Delegado Regional de Polícia Civil em Itabira, Helton Cota Lopes

“Eu não posso dizer que a falta do presídio implica no aumento da quantidade de crimes cometidos, mas sem os agentes penitenciários, os policiais civis estão fazendo a escolta de presos durante todas as manhãs, deixando de realizar sua principal função, que é investigar crimes ocorridos”, lamentou o delegado.

Segundo ele, metade do quantitativo de policiais civis hoje está incumbida de transportar detentos a outros municípios, função essa que deveria ser executada pela Polícia Judiciária.

Como agravante, a Polícia Civil ainda trabalha com um efetivo muito inferior à sua necessidade. A Delegacia Regional da Polícia Civil em Itabira tem um déficit de 36 investigadores e 17 escrivães. Para piorar, a Polícia Militar também sofre com baixo efetivo.
Esses policiais, somados aos que estão lotados na unidade, devem atender ainda as cidades de Santa Bárbara, Barão de Cocais, Santo Antônio do Rio Abaixo e Catas Altas, cujas delegacias estão sob comando da Regional. Essa, por sua vez, pertence à área do 12° Departamento da Polícia Civil de Minas Gerais, sediado em Ipatinga.

Problema político
Para a bancada oposicionistas na Câmara Municipal, a falta de um presídio em Itabira é o principal fator responsável pelo crescimento da violência na cidade, já que o antigo, no Rio de Peixe, foi fechado em agosto de 2020 por ordem judicial, por se encontrar na Zona de Autossalvamento (ZAS) da barragem do Itabiruçu, da mineradora Vale. O tema é tratado de forma recorrente entre os parlamentares, que não poupam críticas ao prefeito por ter dispensado a construção da nova unidade prisional.

Vereadora Rose Félix, e boa parte dos colegas, defende a instalação do presídio

Os emedebistas Neidson Dias Freitas, Sidney Marques e Rosilene Félix Guimarães, são os mais empenhados na busca de solução para o problema, na esperança de ainda conseguir voltar a instalar o presídio na cidade.

Diversas entidades ligadas à segurança pública no município já se manifestaram a favor da unidade prisional — a exemplo do Conselho da Comunidade na Execução Penal, da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), dentre outras.

Presídio
O presídio de Itabira foi interditado em agosto de 2020 pela juíza Cibele Mourão Barroso, quando os presos foram transferidos para outros municípios. A magistrada alegou na ocasião, que se a barragem de Itabiruçu se romper, o local ficará isolado e poderá até ser coberto por lama em poucos minutos. Além de ter tentado impedir a desativação da unidade prisional de Itabira por meio de negociações em que se sucumbia às medidas necessárias para garantir a segurança dos presos, a Vale assinou na ocasião um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) se comprometendo com a construção de um novo presídio na antiga fazenda Palestina.

A fazenda foi doada pela mineradora ao Município ainda no governo passado, para a construção de um terceiro distrito industrial em Itabira. Entretanto, o atual governo desistiu do projeto.

Matéria publicada na edição 783 do Folha Popular