Escola de Saúde Pública do Estado amplia capacitação em agroecologia

Escola de Saúde Pública do Estado amplia capacitação em agroecologia
Presente nos cursos de especialização em Saúde Pública e Direito Sanitário, a agroecologia está na Oficina de Vigilância e Promoção da Saúde do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

Debater e transmitir conhecimentos sobre a importância de produzir alimentos pelos sistemas agroecológico e agroflorestal. Recentemente essa atividade fez parte da Oficina de Vigilância e Promoção à Saúde em Áreas de Reforma Agrária, coordenada pela Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG).

A agroecologia não utiliza insumos químicos no cultivo de alimentos, que se dá em harmonia com a natureza e a cultura local. E o mais importante: aqueles que aderem a essa prática passam a oferecer e a consumir uma alimentação mais saudável.

Participaram do primeiro módulo da oficina, em Belo Horizonte, 32 trabalhadoras assentadas/acampadas integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) de oito regiões (Metropolitana, Vales do Rio Doce, Jequitinhonha e Mucuri, Leste, Norte, Centro-Oeste, Zona da Mata e Sul de Minas) e 28 servidores do Sistema Único de Saúde (SUS), vinculados à Atenção Básica, à Vigilância em Saúde e à Saúde do Trabalhador.

O curso, voltado para integrantes do MST, é uma demanda do próprio movimento, de acordo com a bióloga e professora da ESP-MG, Ana Flávia Quintão. “Quando a pessoa está no campo, produzindo alimento de forma convencional, ela fica em contato direto com as substâncias tóxicas e, muitas vezes, sem informação, inclusive sobre os equipamentos de proteção individual necessários para aplicação dos agrotóxicos”, explica.

Segundo a também bióloga Juliana Santos, da Superintendência de Educação e Trabalho em Saúde, os representantes do MST solicitaram à ESP-MG, uma oficina em que os trabalhadores pudessem discutir temas diversos como agrotóxicos, a relação com a saúde, agroecologia e saneamento ambiental.

“A partir daí foi possível construir a proposta da Oficina de Vigilância e Promoção da Saúde em Áreas de Reforma Agrária, com a participação do movimento social e de docentes indicados por eles, utilizando metodologias que dialogam com as potencialidades, desafios, dificuldades e perspectivas”, argumenta Juliana.

Primeiro lugar negativo

O Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos, mas é crescente a procura da sociedade pelos alimentos chamados orgânicos ou agroecológicos, apesar de a produção ser ainda pequena, o que eleva os preços.

Segundo a professora Ana Flávia, o primeiro módulo de capacitação dos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) foi encerrado, numa aula prática na fazenda Mangueiras, no município de Florestal (Território Metropolitano), que trabalha com o sistema agroflorestal, considerada uma técnica da agroecologia.

“Com esse sistema sintrópico cultivam-se várias espécies em um mesmo canteiro, incluindo hortaliças, leguminosas, frutas e árvores lenhosas, de forma simultânea, gerando uma série de benefícios, como a recuperação do solo e a produção de alimentos saudáveis”, afirma Ana Flávia.

O cultivo agroflorestal tem muitas vantagens: aumenta a produção de alimentos, a vegetação e, consequentemente, a água nas propriedades rurais, bem como ajuda na absorção de CO2 (dióxido de carbono, mais conhecido como gás carbônico) da atmosfera, que contribui para o efeito estufa e, consequentemente, para o aquecimento global.

Além disso, amplia a biodiversidade nos territórios, pois essa produção se dá numa lógica diferente do monocultivo, protegendo o solo e os recursos hídricos da contaminação por agrotóxicos.

A professora Ana Flávia reconhece que a entrada do MST nesse debate é nacional e relevante pela grandeza do movimento.

“É importante que essa discussão se fortaleça na saúde pública. Não é correto lidar apenas com os sintomas das doenças cujo ciclo de vida e transmissão estão intimamente relacionados a fatores ambientais, como aquelas transmitidas por insetos vetores e de veiculação hídrica. É preciso utilizar melhor os recursos naturais, criar ambientes mais saudáveis e, assim, prevenir inúmeras doenças”, reforça.

Antes de voltarem a Belo Horizonte para o segundo módulo, os participantes do MST vão desenvolver atividades práticas relacionadas aos temas discutidos durante as oficinas, conforme acertado entre alunos e professores.

Essas atividades serão realizadas nos territórios, de modo que ampliem a interlocução entre os trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) e as comunidades assentadas/acampadas do MST.

“Esperamos que seja também um momento para multiplicação dos conhecimentos construídos nas oficinas, bem como de novos apontamentos a serem trazidos para o próximo módulo previsto para outubro”, aposta a bióloga Juliana Santos.

A expectativa da ESP-MG é fazer com que haja, por meio de seus profissionais, cada vez mais a difusão de práticas sustentáveis na sociedade, voltadas para a promoção da saúde, refletindo sobre os malefícios do agrotóxico na vida das pessoas.

A instituição acredita que essa primeira oficina junto aos integrantes do MST dará visibilidade ao problema do consumo de alimentos com alta quantidade de agrotóxicos, bem como despertará parte dessas pessoas que trabalham com a terra, para importância da produção agroecológica.

Pós-graduação

O tema da agroecologia associado à técnica agroflorestal, produção de orgânicos e agricultura familiar, vem sendo trabalhado pela professora Ana Flávia Quintão nas pós-graduações lato sensu Direito Sanitário e Especialização em Saúde Pública, ambas oferecidas pela Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais.

O foco da disciplina Saúde e Ambiente — ministrada nos cursos — é discutir a relação entre a saúde humana e os aspectos ambientais nos quais as comunidades estão inseridas.

Nesses aspectos encontra-se a produção de alimentos pelo agronegócio, com o uso excessivo de agrotóxicos, prática que acarreta problemas de saúde, tanto para quem produz, quanto para quem se alimenta dessa produção.

A discussão também passa pelo modelo de consumo atual, as atividades de mineração, as alterações climáticas e a relação desses aspectos com o adoecimento das pessoas. Na perspectiva de produção e consumo atuais, a pressão sobre os recursos naturais desenha um grave cenário.

Nesse contexto, a agroecologia se mostra como possibilidade de uma transição econômica para as comunidades, de maneira que a geração e distribuição de renda favoreçam a todas as pessoas, e não somente as corporações, que exploram os territórios e deixam suas externalidades, como problemas de saúde e passivos ambientais.

Nessas duas especializações, a proposta é fazer com que os profissionais da saúde repliquem o conhecimento adquirido e levem essas informações aos quatro cantos de Minas Gerais, a fim de fomentar a mudança de comportamentos que possibilite a produção de mais saúde da população.