A obra aborda, de poética, a relação dos mineiros com a mineração, presente há 300 anos no estado
20/12/2023 – O curta-metragem de quinze minutos “O Silêncio Elementar”, da cineasta mineira Mariana de Melo, fará sua estreia, em grande estilo, durante a 53ª edição do Festival Internacional de Cinema de Rotterdam, em janeiro de 2024. Fruto de uma pesquisa de quatro anos, o filme consiste num documentário ensaio, que propõe uma reflexão sobre o cotidiano do mineiro com a mineração e como essa substância afeta a identidade deste povo. A obra integra a Mostra Short & Midlength Films, que reúne uma seleção de curtas metragens de várias nacionalidades.
Dirigido, produzido e roteirizado pela cineasta mineira Mariana de Melo, da produtora Piranha Filmes, a obra aborda, de poética, a relação dos mineiros com a mineração, presente há 300 anos no estado. A colonização de Minas Gerais partiu dessa busca por minerais, que hoje se tornou parte da economia do Estado. Diariamente todo mineiro é afetado ou até atingido direta ou indiretamente por essa substância. Mas somente quando acontecem crimes como em Mariana e Brumadinho é que essa relação fica mais evidente.
Outra reflexão feita no curta metragem parte do gentílico do Estado. O gentílico é um adjetivo que designa origem, mas “mineiro”, o gentílico de quem nasce em Minas Gerais é a profissão de extrair minérios da terra. O filme também investiga a questão da melancolia do mineiro, um povo que ao mesmo tempo que celebra as paisagens montanhosas e as serras, faz uma avaliação que essas montanhas estão sendo consumidas pela mineração, ou seja, a mesma mineração que os sustenta vai, de alguma forma, mudando a paisagem o Estado.
Além disso, a película dialoga muito com a poesia. O título do filme faz referência, inclusive, a um poema da Ana Martins Marques, que se chama “Minas”. “Quando eu fui pesquisar sobre o assunto, percebi que vários poetas já falaram sobre ele, Carlos Drummond de Andrade, Ana Martins Marques e outros”, explica a produtora, diretora e roteirista, Mariana de Melo.
A diretora ressalta que o filme foi uma experiência de fazer cinema coletiva, “como todo filme deve ser”. Num processo tão longo, a cineasta destaca a importância das trocas ao longo de toda a elaboração e produção do filme, como parceria com as produtoras do filme, Yasmin Guimarães e Daniela Cambraia, sócias da empresa Piranha Filmes.
Pesquisas – As pesquisas para o projeto resultaram também no Trabalho de Conclusão de Curso da cineasta, quando ela estava terminando o curso de cinema na Universidade Federal Fluminense, chamado “O Silêncio Elementar – Memorial de um Filme Ensaio”. O trabalho está publicado na revista Rascunho da UFF.
O trabalho contou com pesquisas teóricas e de campo em territórios atingidos diretamente pela mineração e pela atividade siderúrgica como Brumadinho, Mário Campos, Itatiaiuçu, Itabira, e Divinópolis e nesse período foi desenhando o filme em sua cabeça.” Foi um desafio produzir esse filme, porque é um tema denso, político. Tantos números, são tantas toneladas de minério, são tantas pessoas que morreram em Brumadinho, tantas pessoas que ficaram sem suas casas em Mariana. Mas eu queria expor o tema de forma sensível, que não fosse jornalística”, conta Mariana.
Festival Internacional de Cinema de Rotterdam – Realizado anualmente em vários cinemas em Rotterdam, na Holanda, o Festival Internacional de Cinema de Rotterdam é um dos maiores festivais da Europa, está entre os cinco maiores festivais de filmes europeus, ao lado de Cannes, Veneza, Berlim, e de Locarno. Durante doze dias, centenas de diretores, produtores e outros artistas apresentam seus filmes para grandes públicos nos cinemas da cidade. O Festival é conhecido por ser um evento de encontros, debates e incentivo aos novos talentos do cinema e seleciona poucos filmes de diferentes territórios do mundo todo, com u…