Ativistas lançam em Monlevade vídeo para celebrar Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial

A produção audiovisual traz uma reflexão sobre o discurso racista presente em algumas músicas brasileiras

A Fundação Casa de Cultura lançou em seu canal do Youtube um vídeo que celebra o Dia Internacional de combate à Discriminação Racial, sendo uma parceria entre ativistas da cultura negra da cidade juntamente com a entidade. A produção audiovisual traz uma reflexão sobre o discurso racista presente em algumas músicas brasileiras. O vídeo pode ser visualizado em https://youtu.be/KZEhdLufLks

As ativistas Juliana Barbosa (Pastoral Afro), Andréa Abade (Salve Pretitude e Gata na Tuba -Cultural), Alexsandra Mara Felipe Fernandes e Andreza Ferreira (Associação Monlevadense de Afrosdescendentes – Amad ) além da diretora presidente da Casa de Cultura, Nadja Lírio analisaram as letras de diversas canções. Dentre elas, foram selecionadas as seguintes músicas para nortear o trabalho: “Nega do cabelo duro / Qual é o pente que te penteia?”, “O teu cabelo não nega mulata / porque és mulata na cor”, “Tem que rebolar”.

Associação Monlevadense de Afrosdescendentes – Para as ativistas Alexsandra Mara Felipe Fernandes e Andreza Ferreira foi muito gratificante participar dessa proposta ao lado de outras pessoas engajadas na luta pela discriminação racial. “É uma energia incrível de quem não foge à luta”, explica Alexsandra.

Sobre as músicas escolhidas que trazem uma conotação racista em suas letras, Alexandra comenta a do cantor Luiz Caldas em uma das letras que diz: “nega do cabelo duro, que não gosta de pentear”, uma canção que marcou negativamente sua adolescência. “Quando tocava nos bailes eu ficava mal e com vergonha. E algumas pessoas cantavam olhando pra mim e riam”, conta lembrando que a luta ainda é extensa. “O racismo está aí sutilmente. Mas somos reis e rainhas de nosso próprio palácio. Ainda tem muita luta, mas também tem muita força. Avante”, defende.

Salve Pretitude – Andréa Abade do grupo Salve Pretitude reforça a existência do racismo estrutural, que por muito tempo foi colocado como algo naturalizado por muitos. “A minha geração não discutia em casa e muito menos nos espaços essas questões raciais. Aceitava-se calado. Eu muitas vezes percebia algo errado que no fundo era racismo, mas não tinha nome, era um incômodo sem nome, sem verbalizar ou se questionar. As gerações que vieram ganharam força e não aceitam mais os comportamentos e atos racistas calados”, explica.

Segundo a ativista, o vídeo que as mulheres se propuseram a fazer, leva a reflexão e mostra como o racismo está entranhado na nossa cultura. “Sabemos que nada será mudado da noite para o dia, o trabalho é a desconstrução é diária. Foi excelente a lembrança do dia 21 de março que marca a luta contra a discriminação racial e não podíamos deixar passar desapercebido”, defende Andréa Abade.

Pastoral Afro: A representante da Pastoral Afro, Juliana Barbosa, conta que o vídeo é uma forma de chamar atenção para o cotidiano do qual muitos negros e negras enfrentam. A ativista falará um pouco sobre a música “Negra do cabelo duro, qual é o pente que te penteia”. “ Nosso cabelo não é duro, ou ruim, ou de bombril como dizem. Nosso cabelo é macio, gostoso de pegar quem nós permitimos pegar, seja ele ondulado, crespo é igual a qualquer outro cabelo, o que muda e o formato que cada um desenvolve”, explica.

Combate a Discriminação – O lançamento deste vídeo celebra o Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial comemorado em 21 de março. A data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), relembra o Massacre de Shaperville, Johanesburgo, África do Sul em 1960, quando 69 pessoas foram mortas pelo exército e outras 186 ficaram feridas. Na ocasião, 20 mil cidadãos negros protestavam pacificamente contra a Lei do Passe, uma norma que os obrigava a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde poderiam transitar na cidade. Durante o protesto, as tropas do exército abriram fogo contra a multidão.

Declaração das Nações Unidas: “Discriminação Racial significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor, ascendência, origem étnica ou nacional com a finalidade ou o efeito de impedir ou dificultar o reconhecimento e exercício, em bases de igualdade, aos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou qualquer outra área da vida pública”.