Artesãos mineiros beneficiados pelo Governo terão produção fomentada

Contemplados em edital da Codemge receberão mais de R$ 560 mil em recursos. Expectativa é de melhoria de condições de produção e aumento de renda

Imagine uma toalha de mesa toda bordada, ou uma colcha de cama feita de fuxico. Uma peça em pedra-sabão ou cabaça, uma namoradeira de cerâmica ou uma jarra de estanho. Agora tente imaginar uma casa mineira sem qualquer um dos itens citados acima. Quase impossível!
O artesanato mineiro é conhecido em todo o mundo, ganhando lugar não só por aqui. Para diminuir a informalidade do setor, fomentar as economias locais e capacitar os artesãos, o Governo de Minas Gerais, por meio da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), lançou o edital de fomento ao artesanato, que teve seis instituições contempladas.

Elas receberão, no total, R$ 560 mil para investir na produção. De acordo com estimativa realizada pelo Instituto Centro de Capacitação e Apoio ao Empreendedor (Centro Cape), o valor disponibilizado pelo edital irá injetar mais de R$ 340 mil na indústria para a compra de insumos. Para cada artesão beneficiado, a expectativa é que dois outros trabalhadores sejam beneficiados indiretamente.

A diretora de Fomento à Indústria Criativa da Codemge, Fernanda Machado, destaca que esse tipo de edital é inédito. “Buscamos iniciativas similares em outros estados e não encontramos. O que há, normalmente, são editais para apoiar os artesãos a participarem de eventos. Aqui, o apoio às instituições será para que elas comprem matéria prima, melhorem sua produção, qualificação e comercialização. O Governo do Estado quer dar o protagonismo devido ao artesão mineiro”.

Estima-se que existam 300 mil artesãos no estado, que alimentam um mercado de mais de dois bilhões de reais por ano. “Com essa iniciativa esperamos movimentar cerca de R$ 970 mil na economia, pois cada um real que investimos gera cerca de R$1,72 de volta”, explica Fernanda.
As associações ou cooperativas podiam pleitear, via edital, até o valor de R$ 100 mil. Elas receberão o valor aprovado em até quatro parcelas de no máximo R$ 25 mil cada. O resultado foi divulgado no dia 16 de abril, e o pagamento do primeiro repasse deverá ser feito ainda em maio para as instituições, que deverão prestar conta da aplicação dos recursos.
Fundada há 14 anos em Betim, no Território Metropolitano, a Associação Futurarte reúne dez artesãs em situação de vulnerabilidade social da área rural da cidade. Elas trabalham com peças de tecelagem, cerâmica e cestaria, utilizando jornal, revista, sacos de cimento e ração, retalhos de couro e tecido, entre outros.

“Entrei na associação em 2006, estava desempregada, o trabalho aqui mudou minha vida. Fazemos caixas para presente, cestos de roupa, bolsas, bloquinhos. Estamos precisando muito de material, então Deus abençoa que vai ser muito bom pra gente esse dinheiro”, espera a artesã Maria Alves Ribeiro, de 61 anos.

A Futurarte, que tem apoio do Instituto Ramacrisna, entrou no edital para conseguir materiais, como máquina de corte e equipamentos para a finalização dos produtos, e melhorar sua produção. Com o dinheiro, serão adquiridas, ainda, cadeiras reguláveis e que sejam compatíveis com a altura das mesas de trabalho, melhorando a ergonomia para as artesãs.
Os produtos são comercializados no showroom em Betim, em outros pontos de apoio, e também no Palácio das Artes e no Museu das Minas e Metal, em Belo Horizonte.

Proposta sustentável
Sediada em Maria da Fé, no Território Sul, a Cooperativa Marianense de Artesanato – Gente de Fibra reúne 20 artesãos e tem capacidade produtiva de 200 peças mensais, entre itens decorativos e utilitários. A ideia, com a verba que será recebida pela Codemge, é aumentar a produção.
“Hoje, a base do que a gente faz é papel machê e cola. Um galão de cola de 50kg custa em torno de R$ 600, e dura um mês e meio no máximo. Então a gente não consegue comprar matéria prima em quantidade para estocar e aumentar a produção. Nossa expectativa é conseguir adquirir material, e quem sabe assim chamar até mais gente para vir trabalhar”, conta a diretora comercial da cooperativa, Érica Aparecida de Campos.
A Gente de Fibra tem uma proposta sustentável, e, para tanto, utiliza materiais como papelão, fibra de bananeira, papel Kraft e outros. “A cidade já tem a consciência de reaproveitar o material aqui, então recebemos doação dos comerciantes locais. Por ano, reciclamos em média uma tonelada de papelão”, afirma. O material, que seria descartado, é transformado em lindas fruteiras, pratos, bowls, mandalas, castiçais, luminárias e outros.
Atualmente, cerca de 40% do que é produzido é vendido em showroom na cooperativa, 55% enviado para lojistas de todo o país, sendo São Paulo e Rio de Janeiro os maiores compradores, e 5% exportado para países como Espanha, Áustria, Austrália, Estados Unidos, China e Chile.

Artesanato mineiro
Artesanato e geração de negócios caminham juntos em Minas Gerais. Por isso, a cadeia da atividade produtiva tem intenso apoio do Governo do Estado, e desde março deste ano conta também com o Plano Quadrienal de Desenvolvimento do Artesanato Mineiro 2018-2021. A política pública, parte do programa +Artesanato, é a primeira específica para o setor.
O plano se baseia em um tripé formado por qualificação, formalização e comercialização. O incentivo à qualificação se dará por meio de ações conjuntas com instituições como o Sebrae para que o artesão possa vender melhor o produto fabricado.
Em parceria com a Junta Comercial do Estado de Minas Gerais, o plano apoia também a transformação dos artesãos em Microempreendedores Individuais (MEIs), como meio de formalização. Já o incentivo à comercialização se dará a partir do apoio do Governo Estadual aos eventos do setor.

+ Artesanato
Lançado no ano passado, o programa +Artesanato é um catalisador das diversas iniciativas que estão sendo adotadas pelo Governo do Estado no setor de artesanato mineiro. Já em 2017, foram realizados mais de 30 mutirões para emissão da Carteira Nacional do Artesão no interior de Minas Gerais, documento imprescindível para o reconhecimento do artesão. Mais de 800 carteiras foram emitidas durante esses mutirões, o que propiciou a interiorização do projeto.
A iniciativa também foi responsável por lançar grupos de trabalho que contribuíram para a criação do Plano Mineiro de Artesanato, no âmbito da comercialização, salvaguarda de mestres artesãos, desenvolvimento social, legislação e política pública, em dezenas de reuniões com especialistas de diversos setores ligados à cadeia do artesanato.
Outra marca importante do programa foi a abertura do diálogo com a categoria, por meio das rodas de conversa em cidades como Diamantina, Ouro Preto, Congonhas, Montes Claros, Bocaiuva e Belo Horizonte.

Vila do Artesanato em Araxá

O Governo do Estado de Minas Gerais, por meio da Codemge, avança na construção da Vila do Artesanato, em Araxá, no Território Triângulo Sul. O empreendimento será estabelecido próximo ao Grande Hotel, principal patrimônio turístico de Araxá, e reunirá artesãos de diversas especialidades regionais, como tecelagem, escultura, bordados e alimentos, dinamizando a produção local. A previsão é concluir as obras até o fim de 2018, com investimentos de mais de R$ 2 milhões, oriundos da Codemge.

O objetivo do espaço é fomentar e fortalecer a produção e comercialização do artesanato regional, buscando alavancar seu reconhecimento e participação no turismo e na economia regional. O empreendimento contribuirá para a valorização e preservação das diversas manifestações culturais locais, oferecendo ao artesão de Araxá e região um local de promoção de seu ofício.
A construção da Vila do Artesanato é uma demanda antiga no município e permitirá revigorar o artesanato na região, dando uma atração adicional ao Parque do Barreiro, que recebe turistas de diversas regiões. O modelo de gestão da Vila está sendo definido juntamente com os artesãos.