Em dez dias, Brasil registra dois acidentes graves com veículos irregulares que transportam estudantes

“Não dá para tratar como fatalidade uma situação que nós alertamos todos os anos, de forma rotineira”, critica Daniel Bassoli, diretor da FENIVE

Vans, ônibus e micro-ônibus utilizados no transporte escolar devem seguir as normas técnicas da ABNT e o Código de Trânsito

Em dez dias foram registrados dois acidentes envolvendo veículos que fazem o transporte escolar de forma irregular. O mais recente episódio ocorreu nesta quarta-feira (14) no município de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, e envolveu uma van que atuava de forma clandestina no transporte dos estudantes. Na semana passada, um ônibus escolar perdeu os freios e caiu numa ribanceira, no município de Tunas do Paraná, na Região Metropolitana de Curitiba.

No acidente com a van escolar clandestina, foram registrados 18 feridos, entre eles uma criança que foi hospitalizada e está em estado grave. No episódio anterior, no Paraná, alguns estudantes também precisaram ser hospitalizados.

A van escolar atuava de forma clandestina, uma vez que não tinha autorização do Detran e laudo de inspeção veicular como exige a legislação para esse tipo de serviço e o acidente teria sido resultado de falha nos freios do veículo, que o fez perder o controle. Além disso, a documentação também estava irregular. Em relação ao caso registrado no Paraná, o ônibus fazia o transporte de estudantes da rede municipal de ensino e a Prefeitura de Tunas, responsável pelo serviço, limitou-se a emitir uma nota informando que a situação seria investigada, mas não esclareceu se o veículo tinha sido inspecionado e estava com a documentação em dia, itens essenciais para garantir a segurança do serviço.

Daniel Bassoli, diretor executivo da Federação Nacional da Inspeção Veicular (FENIVE), lamenta o registro de mais um acidente que poderia ter sido evitado se os veículos de transporte de estudantes estivessem regulares e seguindo as exigências do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). “Mais grave ainda é o fato de não existir uma fiscalização rotineira em grande parte dos municípios brasileiros”, pontua.

Bassoli destaca que o Brasil é um país com grandes extensões rodoviárias e milhões de estudantes transitam diariamente por estradas e rodovias para poder ir à escola. “Há uma constante precarização desse tipo de transporte, que não preza pela segurança das crianças e adolescentes e atua ignorando as normas. Não dá para tratar como fatalidade uma situação que nós alertamos todos os anos, de forma rotineira”, critica, referindo-se às campanhas constantes de conscientização que a FENIVE faz junto à imprensa e nas mídias sociais para alertar a sociedade sobre os requisitos exigidos para o transporte escolar.

NORMATIVAS

O presidente da FENIVE, Everton Pedroso esclarece que os veículos que transportam escolares precisam seguir o CTB e cumprir todos os requisitos exigidos na NBR 14.040 e NBR 17075, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). As normas estabelecem todos os itens e acessórios veiculares que precisam estar adequados aos padrões de segurança para fazer esse tipo de transporte de passageiros.

A legislação é válida para serviços de transporte escolar privados ou fornecidos pelas prefeituras em todas as regiões do Brasil. Obrigatoriamente, os veículos devem passar por inspeção veicular periódica a cada seis meses.

Durante a inspeção periódica, são verificados, em linha instrumentalizada, itens como a condição dos pneus, funcionamento do sistema de freios e suspensão, presença dos cintos de segurança, fixação dos bancos, condições do sistema elétrico, sistemas de iluminação e sinalização, entre muitos outros pontos previstos nas normas ABNT NBR 14040, NBR 17075 e na legislação de trânsito.

Pedroso afirma que essas exigências têm como objetivo garantir a segurança dos passageiros, sob pena de multa e apreensão do veículo para quem não seguir a regra. A inspeção veicular, segundo ele, deve ser realizada pelos órgãos estaduais e municipais de trânsito, profissionais da engenharia habilitados ou por empresas de inspeção veicular autorizadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), que possuem em seus quadros técnicos mecânicos e engenheiros especializados no assunto, além da infraestrutura exigida na legislação para fazer essa análise.

Pedroso enfatiza que pais e familiares devem exigir a comprovação da regularidade dos veículos, para garantir a segurança dos estudantes. A concessão da autorização do Detran para a prestação do serviço é feita com a verificação do documento afixado no interior do veículo, em parte visível. Prefeituras que realizam ou terceirizam esse tipo de serviço também precisam ficar atentas à legislação na hora de contratar ônibus, micro-ônibus e vans com esse objetivo. “No caso dos municípios, a responsabilidade sobre qualquer irregularidade ou, pior, um acidente, recai sobre os gestores. Por isso é fundamental fiscalizar toda a frota e fugir dos serviços clandestinos”, explica.