Reserva de emergência: por que é preciso ter

*Por Sérgio Santiago

Em tempos de pandemia, em que muitas pessoas perderam o emprego, vimos na prática a importância da reserva de emergência. Trata-se daquela quantia em dinheiro investida em ativos de renda fixa seguros e de fácil acesso destinada aos imprevistos da vida.

Mas como fazer uma boa reserva de emergência com a renda fixa rendendo quase nada? De fato, o Brasil não é mais o país dos rentistas, em que era fácil ganhar 1% ao mês sem esforço e com baixíssimo risco. A situação mudou. Em poucos anos, a taxa básica de juros da economia (Selic) saiu de 14,75% ao ano para 2,25%.

Investir em renda fixa, principalmente em títulos pós-fixados que seguem a taxa Selic ou a taxa CDI (irmã da Selic), tem sido basicamente uma forma de conservar o dinheiro. Se o investidor quiser rentabilidade, precisará tomar mais risco e adicionar ao portfólio um percentual de renda variável.

Mas isso não quer dizer que todo o dinheiro da renda fixa deve ser levado para a Bolsa. Seria muita imprudência. A renda fixa sempre teve e terá espaço em qualquer carteira diversificada, principalmente para reserva de emergência.

Reserva de emergência: é melhor ter
Por mais que façamos planos, imprevistos sempre podem acontecer. Uma doença na família, a perda do emprego, a redução do salário ou uma pandemia, como a que estamos vivendo. E é preciso um “colchão” para amortecer os solavancos da vida.
Dia desses li um email da especialista Luciana Seabra, da casa de análise Spiti, sobre a “teoria das caixas”. Ela dizia que o investidor precisa ter várias “caixas”, nas quais deve alocar recursos para objetivos de curto, médio e longo prazo. Na caixinha do curto prazo, entra a reserva de emergência.

Como fazer
A reserva de emergência deve ser alocada em ativos de renda fixa seguros e de fácil liquidez. Ou seja, você precisa ter a garantia de que, quando precisar do dinheiro, não terá dificuldade em resgatá-lo. Mas a renda fixa está rendendo tão pouco? Sim, está. No entanto, reserva de emergência é para socorrer em momentos de dificuldade, não fazer o patrimônio crescer.

O Tesouro Selic, título do Tesouro Direto que acompanha o desempenho da taxa Selic, é uma ótima opção para a reserva de emergência. Ao comprar Tesouro Selic, você empresta dinheiro ao Governo Federal e tem a garantia do próprio Tesouro Nacional de receber seu dinheiro de volta acrescido de juros no momento que precisar.
Há outros investimentos que também servem para acomodar a reserva de emergência, como os Certificados de Depósito Bancários (CDBs) com liquidez diária que rendem pelo menos 100% do CDI. Liquidez diária significa poder sacar o dinheiro a qualquer momento sem prejuízos.

Quando você investe em CDBs, empresta dinheiro ao banco. São investimentos protegidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Ou seja, se o banco quebrar, o fundo cobre até R$ 250 mil por CPF e instituição financeira.

Apesar da garantia do fundo, é importante observar a nota de rating do CDB. Isso é importante porque, caso o banco vá a falência, a restituição pode demorar seis meses ou mais. E se você precisar do dinheiro antes? Afinal, é da reserva de emergência que estamos falando.

Não há um consenso sobre o tamanho da reserva de emergência. Pode ser o equivalente a seis meses o valor da renda mensal familiar ou mais. Quanto maior, mais tranquilidade você terá para passar por momentos de dificuldade sem se endividar.

E depois?
Feita a reserva de emergência em ativos seguros e líquidos, você pode passar às próximas caixas, como diz Luciana Seabra: estruturar os investimentos com foco na aposentadoria ou em objetivos de prazos mais longos.
Nas demais caixas você pode adicionar ações, fundos imobiliários ou mesmo ativos de renda fixa com prazos longos de vencimento – sempre respeitando seu perfil. Assim, certamente trará mais retorno ao portfólio.
Em uma dessas caixinhas, você pode até formar uma reserva de oportunidade. Vai que surge a chance de comprar ativos bons e baratos, como nos momentos de crises. Se estiver preparado, é só aproveitar.

*SÉRGIO SANTIAGO é relações públicas, ex-repórter do Folha Popular
e ex-editor no grupo de Fato. Acredita que a
educação financeira tem o poder de mudar
para melhor o futuro das pessoas

MATÉRIA PUBLICADA NA EDIÇÃO 713 (16 DE JULHO) DO FOLHA POPULAR