Em quatro anos, a chapa eleita movimentará cerca de R$ 36 milhões
Cerca de quatro mil empregados, aposentados e pensionistas da Vale em Itabira, da Anglo American, em Conceição do Mato Dentro, e de outras empresas de extração mineral em Itabira e em mais 32 municípios da região, terão direito a voto para eleger o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Extração Mineral e de Pesquisa, Prospecção, Extração e Beneficiamento do Ferro e Metais Básicos e demais Minerais Metálicos e não Metálicos de Itabira e Região (Metabase), em eleição que acontece nos dias 8 e 9 deste mês, para o quadriênio 2019/2022.
Duas chapas estão na guerra por votos, a número 1, a União e luta, composta pelo atual presidente, Paulo Soares de Souza, que comanda o sindicato desde 2003 e busca o quinto mandato e a opositora chapa 2, a “Oposição unificada”, encabeçada por André Viana Madeira, que saiu da vice-presidência do Metabase para tentar pôr fim a 16 anos de continuísmo.
Os dois candidatos, além de serem funcionários da Vale e sindicalistas, são vereadores em Itabira, fato que tornou a disputa sindical até aqui mais equilibrada, ganhando também holofotes no campo político.
Em sua chapa, Paulo Soares traz como vice Mauro Lúcio Salgado e André Viana apresenta como vice Carlos Estevam Gonzaga .
Espera-se cerca de 3.500 votantes, número pouco acima do registrado na última eleição, em 2014, quando 3.266 associados foram às urnas manifestar o voto.
Mas o que está por trás da disputa para dirigir o maior e mais poderoso sindicato de classe do Centro Leste de Minas, vai além da invejável estrutura, composta por clube e colônia de férias na praia de Jacaraípe, no Espírito Santo, mas um caixa que movimenta R$ 8,589 milhões por ano, valor semelhante ao orçamento de centenas de prefeituras do interior de Minas. Para 2019, o valor deve chegar a R$ 9 milhões. Multiplicado, em quatro anos, a chapa eleita contará com cerca de R$ 36 milhões.
Uma máquina poderosa, como classificou Carlos Drummond de Andrade em poema que, aliás, pode ser observado em um grande painel afixado no prédio do Metabase, no bairro Pará, em Itabira. (FOTO).
Altos e baixos
Nos últimos 10 anos, o balanço do sindicato Metabase não foi tão favorável ao trabalhador quando se fala em manutenção das conquistas e até mesmo novas ações. Nesta década, em se tratando de Vale, foram perdidos benefícios no plano odontológico, como implantes e aparelho ortodôntico, corte do reembolso de cursos técnicos e universitários, hoje apenas para funcionários com no mínimo três anos de empresa e que façam cursos de interesse da mineradora, alterações negativas no plano de saúde, perda da ajuda para compra de material escolar para dependentes e o fim da colônia de férias e festa de final de ano, estes dois últimos fora do acordo, mas que não deixam de ser perdas.
No lado positivo, duas importantes ações beneficiaram tanto os aposentados e pensionistas como também os trabalhadores da ativa. Tratam-se da Participação nos Lucros e Resultados (PLR), que tem pago até 6 salários extras aos trabalhadores a cada ano, como foi em 2017, e a liberação do superávit da Valia, o banco dos aposentados, que, após ações judiciais de 2007 até agora, vem depositando o lucro das aplicações na conta dos aposentados e pensionistas.
Grande estrutura
O sindicato Metabase oferece aos associados uma grande estrutura nas áreas de lazer e compras em níveis de saúde e ensino.Em Itabira, a entidade, que tem cerca de 80 funcionários, oferece em seu clube lazer com quiosques, chalés, piscinas, sauna, duchas, restaurante, quadras e campo de futebol soçaite e um prédio com 20 apartamentos em Jacaraípe, no Espírito Santo, denominado Colônia de Férias. Outros atrativos são as duas farmácias, uma no bairro Pará e outra no Amazonas, uma papelaria, também no Pará, com a promessa de preços menores e condições diferenciadas de pagamento. O associado conta também com assessoria jurídica.
Um dos principais eventos realizados pelo Metabase é a Festa do Trabalhador, sempre no feriado de 1º de Maio.
Metabase, 73 anos
O Sindicato Metabase de Itabira foi criado em março de 1945, três anos após a criação da Companhia Vale do Rio Doce. Na época, foi batizado de Associação Profissional dos Trabalhadores na Indústria de Extração de Ferro e Metais Básicos de Presidente Vargas, nome de Itabira no período – após a privatização, em 1997, a mineradora reduziu o nome para Vale.
Em janeiro de 1950 a associação transformou-se em sindicato e o primeiro presidente eleito foi José Ponciano Filho.
Andre Viana faz denúncias, ataca continuísmo e Paulo Soares se cala
O opositor André Viana falou com a reportagem do Folha Popular e não poupou críticas a postura da atual presidência, principalmente quanto à falta de transparência nos atos administrativos, postura que, segundo ele, tem corroído o sindicato e penalizado os trabalhadores há 16 anos.
“Já estão há 16 anos no poder. É um continuísmo que está deixando marcas terríveis tanto no aposentado quanto nos trabalhadores. Veja os aposentados. A Valia assiste cerca de 16 mil aposentados. Destes, 10 mil não recebem o suficiente para pagar o plano de saúde do Pasa e a saída é aderir ao SUS. Tenho amigos que se aposentaram mas não saem da Vale, porque sabem que não conseguirão se manter. O Metabase perdeu força, não representa seus associados como deveria, e pior, faz uso da mentira para enganar os aposentados, cito como exemplo o ValeMais, que eles abandonaram, mesmo tendo conselheiros da atual gestão dentro da Valia, fato que poderia somar em favor dos aposentados. E o superávit da Valia? O sindicato também mente para enganar o aposentado. Em 2015 e 2016 não houve o superávit, em 2017, houve uma cifra pequena, mas neste ano, em 2018, ano de eleições, eles articularam para conseguir liberar o dinheiro que está lá e é do aposentado, e o mais triste, pagam covardemente a conta-gotas devido a interesses eleitoreiros da atual gestão. Enquanto isso, os aposentados estão morrendo sem receber totalmente o que é de direito. Existem leis federais quanto ao pagamento do superávit. Eles estão enganado o aposentado, os pensionistas e o próprio trabalhador da ativa. Precisamos resgatar a postura responsável, de luta e de conquistas em favor dos associados. Veja bem, a PLR não é fruto do sindicato, mas merecimento do trabalhador pelos seu suor e a Vale paga o benefício para manter o profissional motivado, porque a Vale hoje não tem salários. Mas a atual gestão do Metabase tem gasto mais de R$ 400 mil por ano com publicidade para propagar ações mentirosas, por outro lado, nossa Colônia de Férias em Jacaraípe está abandonada, precisando ser realocada para um local melhor, precisamos acabar com a ‘peixada’ quanto a distribuição de senhas em períodos de alta temporada para hospedagens e rever questões como o investimento de mais de R$ 1,3 milhão por ano para manter o clube em Itabira, sem licitação. Não teve melhoria, mas o dinheiro saiu do caixa do Metabase, saiu do bolso do associado”, disse André Viana, considerando que é respeitador das urnas e de uma eleição sem fraudes, dizendo que o grande desafio é conquistar o trabalhador com ações verdadeiras, principalmente agora, com a lei que não obriga mais a contribuição sindical.
Paulo Soares se enfurece e se nega a fazer comentários
O candidato da chapa 1, da situação, Paulo Soares, que comanda o Metabase há 16 anos, também foi procurado para falar da eleição e de seus planos para o sindicato caso seja reeleito, mas se negou a falar com a reportagem do Folha Popular na manhã do dia 31 de julho, já que o seu concorrente, André Viana, já teria se pronunciado um dia antes, 29 de julho. Paulo Soares deixou a sala da assessoria de imprensa do Metabase bastante nervoso, pronunciando palavras pejorativas ao concorrente e batendo a porta.