Não foi fácil para a médica Paula Veloso, de Belo Horizonte, romper o silêncio e se libertar de um relacionamento abusivo. Depois de sofrer agressões físicas e psicológicas do ex-marido, ela deu um basta ao casamento de quase uma década e pediu à Justiça uma medida protetiva. “Agora eu pretendo falar do assunto. A gente pode evitar que isso aconteça. Todo mundo pode fazer alguma coisa. Tem que meter a colher sim”, disse ela, hoje responsável pelo projeto Colheres de Ouro, que pode ser acompanhado pelo Instagram (@colheresdeouro).
Paula falou da dolorosa experiência dela a uma plateia que lotou o teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA) na segunda-feira, ocasião do lançamento, em âmbito municipal, da campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher.
A Prefeitura de Itabira abraça a iniciativa pelo quarto ano consecutivo e participa, com representantes de diversas secretarias, da Comissão Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual e Doméstica. O grupo engloba também o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), Ministério Público, polícias Civil e Militar, Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e o Legislativo Municipal.
Na esfera pública local, reflexos da mobilização podem ser observados, por exemplo, nas secretarias municipais de Educação (SME) e Assistência Social (SMAS). Os titulares das duas seções – José Gonçalves Moreira e Marly Oliveira, respectivamente – mostraram aos espectadores o que é feito para combater a violência de gênero no Executivo: a tratativa do tema com crianças e adolescentes em sala de aula, por meio do programa Conexão Jovem, e o fortalecimento da rede de apoio – o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) teve equipes de atenção à mulher ampliadas, com atendimento ora individual, ora em grupo, e encaminhamento aos órgãos de apoio.
Itabira por Eles
A campanha dos 16 dias de ativismo ocorre em Itabira até o dia 10 de dezembro, com palestras, rodas de conversa e panfletagem. O principal alvo da conscientização é o público masculino – a campanha traz o tema “Homens pelo fim da violência contra a mulher”.
O prefeito Ronaldo Magalhães, inclusive, assinou termo de cooperação técnica com o TJMG para a implantação do projeto “Itabira por Eles”. Homens, agressores, serão encaminhados e supervisionados pela Vara Criminal e de Execuções Penais da Comarca de Itabira a grupos reflexivos, dirigidos por psicólogos e assistente social do Município, para se tratarem.
Cada grupo terá entre 15 e 20 homens, autores de violência contra mulheres, que frequentarão 12 encontros por três meses. A estimativa é que o projeto atenda até 80 participantes em um prazo de um ano.
“Há muito pela frente”
Vice-prefeita, Dalma Barcelos é a primeira mulher a ocupar o posto na cidade de 170 anos de emancipação político-administrativa. Ao subir ao palco, ela conclamou união de homens e mulheres em prol da descontração da cultura do machismo. “Se hoje nós estamos aqui, foi graças àquelas que lutaram para que nós tivéssemos o que temos hoje. Nada foi de graça, tudo foi por luta”, discursou.
Em tempo
Os 16 dias de ativismo começaram em 1991, quando mulheres de diferentes países, reunidas pelo Centro de Liderança Global de Mulheres (CWGL), iniciaram uma campanha com o objetivo de promover o debate e denunciar as várias formas de violência contra as mulheres no mundo, segundo a ONU Mulheres Brasil.
No Brasil, a Campanha ocorre desde 2003. A mobilização termina em 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos. Cerca de 130 países participam da campanha.
A data é uma homenagem às irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa, conhecidas como “Las Mariposas” e assassinadas em 1960 por fazerem oposição ao governo do ditador Rafael Trujillo, que presidiu a República Dominicana de 1930 a 1961, quando foi deposto.