Delivery em alta faz crescer registro de acidentes e mortes de motoboys

Conforme a PM, as pessoas precisam considerar a existência de normas que organizam o fluxo de pessoas e veículos pelas vias públicas

Em tempos de pandemia, o serviço de entrega (delivery) criou novas oportunidades e melhorou o faturamento dos profissionais do setor. Contudo, fez crescer os registros de acidentes, em alguns casos, fatais.

O entregador Luiz Silva Júnior está na função há cerca de cinco anos. Atualmente, faz delivery de almoço de dia e de pizzas e lanches à noite, em Itabira. Ele contou que ao contrário dos demais setores, para essa atividade específica, a pandemia trouxe lucros para os entregadores, já que a demanda aumentou muito.

Apesar de serem expostos aos riscos e de não contarem com nenhum tipo de cobertura, mesmo em caso de acidente, a situação crítica da doença e o isolamento social favoreceram diretamente os entregadores, que encontraram uma oportunidade de fazer uma poupança. “Se antes havia concorrência por uma vaga, desde o início da pandemia, somos obrigados até a dispensar trabalhos”, comentou Luiz Júnior.

O grande problema é que o faturamento está relacionado à agilidade. Quanto mais se entrega, mais se ganha. Os profissionais, que já estavam expostos a mudanças de clima e temperatura, carga horária exaustiva, risco de assalto, tiveram triplicado o risco de acidentes. Aos patrões, o que interessa é sair na frente da concorrência, em termos de tempo de entrega.

O resultado de tanta correria é o aumento de notícias de acidentes envolvendo jovens motociclistas. Apesar de os números ainda não terem sido registrados pelas estatísticas oficiais do município, autoridades reconhecem o indicativo no aumento e direcionam, na medida do possível, ações específicas de combate ao problema.

“A Polícia Militar aumentou a fiscalização de trânsito, principalmente em relação às motocicletas. Repassando também orientações quanto às dicas de segurança para condutores e pedestres”, informou a Assessoria de Imprensa do 26º Batalhão de Polícia Militar de Itabira.

Em nota, a assessoria fez ainda um alerta, mas de forma generalizada ao usuário do trânsito, na preservação da segurança, e em especial da vida. “As complicações causadas no trânsito, são responsabilidade dos agentes que o compõem, ou seja, tanto os pedestres como os condutores de veículos automotores. As pessoas precisam considerar a existência de normas que organizam o fluxo de pessoas e veículos pelas vias públicas. Se cada um fizer a sua parte e tomar as medidas de segurança cabíveis, teremos um trânsito mais seguro”, diz a nota encaminhada ao Folha Popular.

Já a Superintendência de Transportes e Trânsito (Transita), em seus cadernos estatísticos publicados anualmente, não refletiu essa informação sobre o primeiro ano da pandemia. De acordo com o relatório publicado na página do órgão municipal, em 2020, o número de acidentes envolvendo veículos motorizados diminuiu. O resultado é justificado pela redução de pessoas transitando pela cidade em período de isolamento.

Contudo, o documento mostra que as motocicletas são os veículos que mais se envolveram em acidentes. Os motociclistas estiveram envolvidos em 66,6% dos acidentes fatais, ocorridos no decorrer do ano, indicando que 22,8% da frota licenciada no município se acidentaram. Durante todo o ano, foram 988 acidentes de trânsito, que provocaram 339 vítimas não fatais e três fatais.

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Necessidade por maior agilidade derruba motoboys, afirma entregador

Apesar dos esforços para um atendimento de excelência, os profissionais ainda não conquistaram o respeito da população

A incidência de fatalidade entre os acidentes com motocicletas é grande. Tiago Oliveira contou que trabalha numa empresa familiar. Apesar de integrar as estatísticas do município, os motoboys, todos irmãos, têm saído com ferimentos mais leves. Na última sexta-feira, ele se envolveu em uma colisão, saindo com um dos joelhos luxado. No sábado, já estava de volta ao trabalho. “Em 12 anos de trabalho, nunca tivemos em nosso trailer um acidente fatal. Já caímos, batemos em outros veículos, mas graças a Deus, sem problemas muito sérios.”

Uma outra empresa de iniciativa familiar, apesar de nova no mercado – menos de um ano, já vem colecionando tragédias. Um dos irmãos morreu fazendo entrega ao bater com a moto em um poste, no mês de março deste ano. Na quinta-feira, 14 de outubro, o substituto do rapaz teve os trabalhos interrompidos também por um acidente com sua moto.

Apesar dos esforços para prestar um atendimento de excelência, os profissionais ainda não conquistaram o respeito da população, que os vê como desordeiros do trânsito. “Estou ficando com medo de sair de carro às ruas nas noites de final de semana. Esses motoqueiros passam voando, sem respeitar a sinalização ou condição de uma via. Eles provocam acidentes e matam”, reclamou a aposentada Maria do Perpétuo Socorro Lage.

Matéria publicada na edição 744 do Folha Popular