Sem receber clientes por força de decreto, empresas do ramo alimentício tentam sobreviver à queda brusca e repentina nas vendas
O setor de alimentação está entre os mais afetados pela crise do novo coronavírus no Brasil, segundo uma pesquisa da Cielo. E quanto mais o tempo passa, mais a situação se agrava. Em Itabira, os restaurantes estão fechados para atendimento interno desde o decreto municipal publicado no dia 21 de março. Só vendem por delivery ou se o cliente buscar.
Apesar do cenário de crise, Willian continua esperançoso: “Vamos reclamar não, bola pra frente
Como são comércios propícios à aglomeração de pessoas, principalmente nos horários de pico, as regras são mais duras com os restaurantes em relação a outros segmentos. O resultado é uma queda vertiginosa de faturamento, que pegou os proprietários desprevenidos. Afinal, ninguém poderia prever uma pandemia de tamanha proporção.
Preocupados, donos de restaurante têm buscando alternativas para evitar a falência. Quem tinha o hábito de fazer entregas ainda consegue gerar algum fluxo de caixa. Quem não tinha, teve de se adaptar para não ver o faturamento chegar a zero.
Falência
O presidente da Câmara dos dirigentes Lojistas (CDL) de Itabira, Maurício Henrique Martins, afirma que alguns restaurantes já encerraram ou estão encerrando de vez as atividades. Em um deles, seis pessoas ficaram sem emprego. “Itabira tem uma dificuldade muito grande com relação aos restaurantes, que já viviam dificuldade, e agora, com essa restrição do consumo no estabelecimento, a dificuldade ficou ainda maior”, afirmou.
Ele defende que sejam estudadas medidas de flexibilização, assim como ocorreu com outras lojas, para evitar uma falência sistêmica no segmento. “A gente vê isso com uma preocupação muito grande, porque se não tiver uma flexibilização teremos no curto prazo muito comércio fechando. Isso é bastante preocupante”, declarou.
Aparecida Almeida, dona de um restaurante no Centro, também está se virando como pode para vencer a crise
Apertando o cinto
Diante de um cenário de incertezas, em que ninguém sabe quando a situação voltará ao normal, os empresários do ramo alimentício estão ajustando as contas como podem. O empreendedor Willian Santos, proprietário de um restaurante no bairro Caminho Novo, em Itabira, afirma que as vendas caíram 50% desde o decreto municipal em março.
Ele conta que se cadastrou nos benefícios oferecidos pelo Governo Federal para subsídios de salários e, ainda assim, precisou enxugar a equipe. Mesmo com as medidas austeras, está preocupado com o que pode acontecer de agora em diante.
“Muitos de nossos clientes são pessoas de mais idade, que estão em casa por serem do grupo de risco. Tivemos de mexer na equipe, senão não dá para pagar. E ainda está apertado”, disse. Apesar do cenário de crise, Willian continua esperançoso: “Vamos reclamar não, bola pra frente”.
Aparecida Almeida, dona de um restaurante no Centro, também está se virando como pode para vencer a crise. “Estou fazendo só marmitex desde o decreto. Já tinha uma cartela de clientes que já pegava com a gente, então conseguimos manter algum nível de vendas. Mas temos de pegar com Deus, ter sabedoria para lidar com a situação. Porque se é pra ficar fechado, a gente tem de fechar mesmo. Temos de obedecer às autoridades”, afirmou.
Cidinha, como é conhecida, não perde as esperanças. Para ela, a situação de crise atual será passageira e logo tudo irá se ajeitar. Como já tinha uma funcionária de aviso quando o mundo entrou em pandemia, por enquanto não precisou demitir ninguém. “As outras [funcionárias] estou tentando manter. Estamos estudando o que pode ser feito, reduzindo um pouco o horário, dando férias. Vamos remanejando para ver se dá para continuar”, contou.
CDL defende flexibilização
Maurício Martins defende que, com regras bem definidas, é possível deixar os restaurantes funcionarem, a exemplo de outras lojas. “Esse novo decreto [publicado no dia 14 de maio, que restringiu também lanchonetes de abrir] se alinha a uma exigência do Governo do Estado. Porém, o que acontece em Itabira é que se ele [o prefeito] quisesse flexibilizar os restaurantes, poderia. Ele tem o poder para isso. Essa flexibilização tem de se estender também aos setores de alimentação, senão vamos ter um problema muito grande”, disse.
Conforme o presidente da CDL, os restaurantes e lanchonetes poderiam cumprir regras de distanciamento de mesa e limite de clientes, como já ocorre com outros estabelecimentos considerados essenciais.
Entre um decreto e outro, as lanchonetes chegaram a reabrir ao público em Itabira. Entre as exigências, as mesas foram reduzidas à metade e os clientes não poderiam consumir produtos no balcão e na calçada. Funcionou assim por uns dias até que outra ordem oficial ordenou novamente o fechamento. Desde meados de maio, as lanchonetes voltaram ao esquema de delivery.
Estoque perecível
Um dos agravantes para empresas do ramo alimentício é o estoque de mercadorias. Os produtos perecíveis se perdem rapidamente, aumentando ainda mais o prejuízo. Desde o início da pandemia, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) tenta negociar junto ao Governo Federal a liberação de ajuda específica para o setor de bares e restaurantes. As negociações continuam.
Pelo Brasil
Notícia publicada no dia 18 de maio no portal Correio do Povo traz expectativas para o ramo alimentício em Porto Alegre. Os empresários do segmento aguardam esperançosos a publicação de um decreto da Prefeitura, permitindo a reabertura com restrições de bares e restaurantes.
Em Porto Alegre, o sindicato de hospedagem e alimentação apresentou à Prefeitura um estudo com uma série de protocolos que podem ser seguidos em caso de reabertura. “Aguardamos ansiosamente esse decreto como se fosse a chegada de um filho”, disse ao Correio do Povo o presidente do sindicato, Henry Chmelnitsky.
MATÉRIA PUBLICADA NA EDIÇÃO 709 (DIA 21 DE MAIO) DO FOLHA POPULAR