Barriga solidária: mulher dá luz a bebê do irmão e da cunhada que não poderiam engravidar

Aline Lopes (sentada) emprestou a barriga para a cunhada Rafaela Nascimento

Amor. Empatia. Solidariedade. Em um momento de enfrentamento à pandemia de Covid-19 e no qual precisamos nos preocupar com o próximo, certos gestos têm o poder de inspirar importantes sentimentos nas pessoas e, com isso, estimular a realização de boas ações. Exemplo disso é a história de Aline Lopes Monte Mor, que emprestou a barriga para gestar o filho do seu irmão, Marcelo Lopes Machado, e da sua cunhada, Rafaela Nascimento Matos Machado. A criança nasceu no Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD) na última quinta-feira, 8 de outubro.

Naturais de Coronel Fabriciano, na região do Vale do Aço, em Minas Gerais, Marcelo e Rafaela Machado sempre nutriram o sonho de serem pais. Morando em Canoas, no Rio Grande do Sul, o casal conviveu com algumas gravidezes malsucedidas. Foi então que descobriram que não poderiam ter filhos e foram recomendados a recorrer a barriga solidária para que pudessem aumentar a sua família.

Acompanhando de perto toda a história, Aline Monte Mor, irmã do Marcelo e mãe de duas meninas, se ofereceu para gestar o filho do casal. Assim, deram início a todo o processo da barriga solidária: a fertilização aconteceu em um centro médico em São Paulo, capital, enquanto o acompanhamento da gravidez foi feito no HNSD, na mineira Itabira.

“Nós somos apaixonados por crianças e a minha irmã via essa paixão na relação que temos com as nossas sobrinhas. Ela irmã ficava sensibilizada com essa impossibilidade de não termos filhos e de realizar o nosso sonho. Então a Aline, com apoio do Juliano, marido dela, se propôs a ser a nossa barriga solidária”, explicou Marcelo Machado.

Porém, a realização desse sonho ganhou mais um obstáculo: a pandemia de Covid-19. Com a implementação dos protocolos de segurança contra a doença, Marcelo e Rafaela ficaram impedidos de acompanhar de perto toda a gestação. Dessa forma, recorreram a internet para manter contato com Aline e ver o crescimento da barriga.

“A pandemia foi mais uma batalha que superamos, pois ficamos nove meses sem poder vir a Itabira e oferecer mais apoio para a Aline nesse processo. Conseguimos diminuir essa distância e um pouco da ansiedade graças a internet. Fomos chegar na cidade já no final de setembro e pudemos acompanhar o último ultrassom antes do parto”, relatou Marcelo Machado.

A distância, claro, trouxe dificuldades para um processo delicado. Mas o desejo do casal e a solidariedade de Aline mantiveram o sonho vivo e na quinta-feira, às 13h42, nas mãos da médica Marina Carvalho de Alvarenga Mafra, nasceu com 3,3 kg o saudável Guilherme — que pode abrir os olhos pela primeira vez e ver, ali na sala de parto, os pais reunidos à sua “tia-mãe solidária”.

“Foi um processo desafiador. A gente acha que é tudo lindo, mas na prática é difícil. Porque envolve alguns sentimentos de ambas as partes, a gente via a Aline passando por todos os desafios da gravidez sem que pudéssemos estar perto… mas quando escutamos o primeiro chorinho do bebê percebemos que tudo valeu a pena”, revelou a mamãe Rafaela Machado.

Para Aline, essa nova experiência representou uma mistura de sentimentos: por um lado ajudou a gerar mais uma vida e por outro permitiu a realização do sonho do seu irmão e da sua cunhada. “Eu já era mãe, tenho duas filhas, e sei como é o amor com os filhos, então saber que eu pude proporcionar tudo isso para eles é a magia de todo esse processo”, contou.

E ela deixa um recado para os casais que desejam ter filhos, mas por algum motivo não podem: apesar de um ato de empatia, a barriga solidária é uma ação difícil e que exige muito de quem se propõe a contribuir com esse processo. “A recomendação que eu faço é de que escolham uma pessoa que esteja realmente disposta a participar de tudo isso e que ame o casal. É um gesto bastante bonito, mas não é nada fácil gerar uma vida”, destacou Aline Monte Mor.