Azeite mineiro extravirgem agrega tecnologia e ganha mercado

A primeira extração nacional de azeite de oliva extravirgem completou dez anos em 2018. Ao longo desta primeira década, a atividade ganhou novos produtores, expandiu para outros municípios e conta, atualmente, com cerca de 40 marcas que despertam o interesse do público.

“O azeite produzido na região da Serra da Mantiqueira apresenta mais frescor, tem cheiro e aroma frutado e características sensoriais de amargo e picância distintas das de outras regiões produtoras”, observa o coordenador do Programa Estadual de Olivicultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Luiz Fernando de Oliveira.

A produtividade também é crescente, em função da introdução de novas tecnologias e, principalmente, da implantação de novas áreas de plantio. A produção, que foi de 40 litros na primeira extração em fevereiro de 2008, deve superar os 80 mil litros de azeite neste ano.

“Temos agora uma experiência muito maior, mas ainda há muito a se evoluir no manejo e nos tratos culturais e também no conhecimento do potencial produtivo da oliveira”, pondera Luiz Fernando.
No município de Maria da Fé, no Território Sul, onde foi realizada a extração pioneira há dez anos, a olivicultura tem movimentado também os setores de cosméticos, artesanato, doces e turismo.

Motivada pelo primeiro azeite produzido na cidade, a farmacêutica Vânia Gonçalves criou uma linha de cosméticos que tinha o azeite como matéria-prima. “Em 2014, vendi a marca e passei a produzir sabonetes, aromatizantes e cremes, que utilizam aquele bagaço, resíduo da extração do azeite, que antes era descartado”, conta Vânia, proprietária da marca Jardim Secreto, que também tem uma linha de produtos que aproveita os resíduos do abacate.
Ana Lúcia Silva e o marido Márcio trabalham há 14 anos com a produção de bombons, ovos de páscoa e pães de mel artesanais para festas e eventos em Maria da Fé e municípios vizinhos. “Em 2009, surgiu a ideia de criarmos um bombom de azeite para ser apresentado durante o Festival de Inverno. Foi um sucesso! Passamos a produzir também o bombom recheado com azeitona”, explica Ana Lúcia.
O casal conta que a produção dos bombons nos sabores azeite, azeitona, pinhão e marmelo faz sucesso em festivais e eventos e ajuda na divulgação do trabalho deles. “Quando começamos, produzimos ovos de páscoa com 30 kg de chocolate. Este ano utilizamos mais de 1.000 kg de chocolate para atender a demanda das encomendas de ovos de páscoa para municípios da região”, completa Ana Lúcia.

Troca de conhecimentos e gastronomia
Os avanços obtidos pela cultura da oliveira, as novas possibilidades, maquinários e produtos derivados como os de Vânia, Ana Lúcia e de outros empreendedores foram destaque no 13º Dia de Campo de Olivicultura, promovido pela Epamig na última sexta-feira (23/3).
Na oportunidade, a cooperativa “Gente de Fibra”, formada por artesãos do município, que trabalham com papel machê e fibra de bananeira para a produção de peças utilitárias e decorativas, apresentou uma nova coleção inspirada na Olivicultura.
“O trabalho de nossa cooperativa reflete aspectos da nossa cidade. Esta coleção tem o nome de ‘Maria da Fé’ em referência a uma cultivar de oliveira lançada pela Epamig”, explica Érica Campos.

Durante o evento, no Campo Experimental da Epamig, mesmo local em que foi realizada a extração pioneira, os visitantes puderam participar de palestras sobre a história da olivicultura em Minas Gerais e as principais mudanças nestes 10 anos; associativismo; comercialização de azeite; tratos culturais e plantio de oliveira; e qualidade e identidade de azeite. Além disso, tiveram a oportunidade de participar da 3ª Mostra Tecnológicam na qual foram expostos maquinários e implementos agrícolas para uso na olivicultura e acompanharem a extração do azeite.
O produtor Renato Gastin Santos, do município de Pedra Azul, no Espírito Santo, participou do evento em busca de mais informações sobre a atividade. Em novembro do ano passado, ele e o sócio Fábio Falci plantaram 600 mudas de oliveira, adquiridas junto à Epamig, em uma propriedade de cerca de 1.100 metros de altitude.

“Vi uma reportagem sobre o trabalho do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) com olivicultores na região de Santa Teresa (ES) e fui em busca de mais informações e orientação. Começamos há pouco, mas temos boas expectativas, visto que estamos em uma região de altitude e com tradição gastronômica”, conta Santos.

Novidade nesta edição, a Oficina Gastronômica “Cozinhando com o Chef”, reuniu cerca de 80 participantes, que aprenderam a preparar um pão de azeite (focaccia), um prato com bacalhau, um bolo de chocolate e um sorvete de azeite.
As receitas foram preparadas pelo chef executivo do Senac de Minas Gerais, Ronie Peterson, que usou como base o azeite da Epamig. “Nossa proposta aqui é trabalharmos com receitas simples, demonstrando que o uso do azeite vai além do tempero de saladas e pratos salgados”, esclareceu o chef, na ocasião.